11.04.2013 Views

Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb

Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb

Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Arte em movimento: a potenciali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> arte na formação de educadores<br />

sando o que ele chama de “anestesia” nos indivíduos,<br />

para depois recuperar a pertinência e a<br />

urgência <strong>da</strong> educação <strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong>de, recuperar<br />

o sabor sensível - a “estesia”.<br />

Todo este processo de aprendizagem vivenciado<br />

pelos educadores do MIAC é posto em<br />

prática não apenas na comuni<strong>da</strong>de, durante as<br />

ações desenvolvi<strong>da</strong>s nos intercâmbios, reuniões,<br />

manifestações públicas, etc., mas também como<br />

na escola e no “chão <strong>da</strong> sala de aula”.<br />

198<br />

Sinalizo como importante na minha formação na<br />

questão pe<strong>da</strong>gógica: quando conheci o MIAC<br />

no festival me apaixonei, era tudo o que eu queria<br />

fazer na escola... oficinas artísticas, integração<br />

com os jovens de várias instituições, depois<br />

os Caldeirões, onde participei <strong>da</strong> comunicação<br />

do evento junto com outros jovens. Então, esta<br />

questão pe<strong>da</strong>gógica é diferente <strong>da</strong> proposta de<br />

muitas escolas que querem os alunos quietos,<br />

fazendo exercícios e o professor um tarefeiro<br />

obediente. <strong>Educação</strong> nesta visão é <strong>da</strong>r conteúdo,<br />

forçar o aluno a decorar e ensinar a ele que o<br />

importante é a nota. Eu não aceito isto não!!!<br />

(Educadora C – JOSELEIDE CALISTO)<br />

A fala <strong>da</strong> educadora me permite destacar<br />

duas questões fun<strong>da</strong>mentais a respeito do seu<br />

processo <strong>da</strong> “mediação didática” em sala de<br />

aula: primeiro, é o sentido <strong>da</strong> incorporação <strong>da</strong><br />

arte no seu discurso e na sua prática, o que a<br />

torna, segundo Cristina D´Ávila (2001), “uma<br />

‘leitora <strong>da</strong> alma humana’ por aproximar, na sua<br />

prática, ‘o pensar, do fazer e do sentir’, no elo<br />

entre o saber sensível e artístico ao saber didático”<br />

(D’ÁVILA, 2001, p. 382); em segundo<br />

lugar, quando ela diz “eu não aceito isto!” demonstra<br />

uma posição crítica diante do que está<br />

posto como prática pe<strong>da</strong>gógica, a ponto de “assinar<br />

a sua autoria neste processo, deixando de<br />

reproduzir os modelos pe<strong>da</strong>gógicos oferecidos<br />

por manuais escolares e por outras autori<strong>da</strong>des<br />

educativas” (D´ÁVILA, 2001, p. 380).<br />

Ou ain<strong>da</strong> como nos afirma Freire (1981):<br />

Sua solução estaria em deixarem a condição de<br />

‘seres fora de’ e assumirem a de ‘seres dentro<br />

de’. Na ver<strong>da</strong>de (...) os oprimidos estiveram sempre<br />

‘dentro de’. Dentro <strong>da</strong> estrutura que os<br />

transforma em ‘seres para outro’. Sua solução,<br />

pois, não está em integrar-se, em incorporar-se a<br />

esta estrutura que os oprime, mas transformá-la<br />

para que possam fazer-se ‘seres para si’. (FREI-<br />

RE, 1981, p. 85)<br />

Foi experimentando a arte que se firmou no<br />

Movimento um dos princípios fun<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> sua<br />

“pe<strong>da</strong>gogia”:<br />

... um trabalho maravilhoso de mu<strong>da</strong>nça de comportamento<br />

tanto na educação como na comuni<strong>da</strong>de<br />

em geral; era uma comuni<strong>da</strong>de extremamente<br />

carente socialmente, culturalmente, educacionalmente,<br />

e as pessoas confundem muito comuni<strong>da</strong>de<br />

pobre com violência, pelo fato de ser periferia,<br />

são coisas completamente diferentes, essa comuni<strong>da</strong>de<br />

não é violenta ela é violenta<strong>da</strong>. Portanto,<br />

os <strong>da</strong>dos de violência que existem por aqui são<br />

na ver<strong>da</strong>de de defesa, não de ataque, são atos de<br />

sobrevivência. Se a gente provocar o aluno positivamente<br />

ele responde, se provocar negativamente<br />

também, a nossa proposta de trabalho é<br />

provocá-los positivamente e eles têm respondido.<br />

(Educador F – MALAQUIAS)<br />

De uma brincadeira de fazer poesia, de fazer<br />

letra de música, passou a ser tão levado a sério<br />

pelo alunado, eles perceberam que é possível<br />

aprender, ter educação formativa e<br />

natural. Nós ousamos levar isso mais a sério e<br />

estamos tentando fazer uma coletânea, que já<br />

está pronta praticamente, com poesias feitas<br />

pelos próprios alunos, poesias didáticas, pe<strong>da</strong>gógicas<br />

e poesias livres também, porque é<br />

muito importante deixar fluir do aluno, do ser<br />

humano Mazé, essa possibili<strong>da</strong>de de expressar<br />

o sentimento, através <strong>da</strong> poesia, <strong>da</strong> educação,<br />

é muito importante essa coletânea que<br />

vamos fazer e lançar no final do ano. (Educador<br />

G – MAZÉ)<br />

Os educadores nos mostram, mais uma vez,<br />

a potenciali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> arte na “mediação didática”<br />

que, diante <strong>da</strong> definição de D’Ávila (2001),<br />

posso entender como uma “mediação didática<br />

crítica”, onde a aprendizagem ocorre “num fluir<br />

provocativo”, significativo e prazeroso de “expressão<br />

de sentimentos, pensamentos e necessi<strong>da</strong>des...”,<br />

mediante a sua capaci<strong>da</strong>de de “tecer<br />

junto” to<strong>da</strong>s as dimensões humanas, ou seja,<br />

“aprende-se pensando, fazendo e sentindo”<br />

(2001, p. 382).<br />

Estas experiências educativas, que têm como<br />

ponto de parti<strong>da</strong> a arte, assemelham-se ao conceito<br />

construído por Cipriano Luckesi (2000)<br />

corpomente que traduz a educação lúdica como<br />

<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 185-200, jan./jun., 2006

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!