Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
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A estética do grafismo infantil<br />
Uma vez apresenta<strong>da</strong> a “etapização” do<br />
grafismo infantil segundo Vygotsky, passo a<br />
expor um panorama dos períodos que caracterizam<br />
o desenvolvimento do desenho como sistema<br />
de representação do modo como julgo<br />
adequado a uma intervenção pe<strong>da</strong>gógica tendo<br />
em vista a formação de professores para atuarem<br />
na educação infantil e séries iniciais do<br />
ensino fun<strong>da</strong>mental:<br />
(1) O rabisco descontrolado ou garatuja<br />
descontrola<strong>da</strong> – O rabisco descontrolado ou<br />
garatuja descontrola<strong>da</strong> caracteriza o período<br />
de desenvolvimento <strong>da</strong> coordenação motora fina<br />
necessária à manipulação objetal do marcador<br />
(lápis, caneta, pincel etc). As marcas gráficoplásticas<br />
produzi<strong>da</strong>s pelo sujeito sobre o suporte<br />
(p. ex: folha de papel, parede, chão) são muito<br />
mais o resultado do “exercício” <strong>da</strong> coordenação<br />
de ações motoras (praxias) absolutamente indispensáveis<br />
para o uso adequado de varia<strong>da</strong>s ferramentas<br />
culturais. A produção gráfico-plástica<br />
<strong>da</strong> criança, nesta etapa, possui uma natureza<br />
muito mais expressiva do que semiótica ou simbólica<br />
(Figura 1). Ou seja: as “descargas” motoras<br />
incontrola<strong>da</strong>s é que geram os rabiscos e<br />
“zigue-zagues” no suporte. Nesta fase, apenas<br />
o acaso pode levar o sujeito ao traçado, por exemplo,<br />
<strong>da</strong>s formas circulares. Traçar um círculo ain<strong>da</strong><br />
é uma tarefa de difícil solução para a criança<br />
neste momento. O destrismo (uso preferencial<br />
<strong>da</strong> mão direita) e o sinestrismo (uso preferencial<br />
<strong>da</strong> mão esquer<strong>da</strong>) ain<strong>da</strong> não podem ser claramente<br />
identificados. Verifica-se que as marcas<br />
geralmente ultrapassam os limites do suporte<br />
fornecido ao sujeito (o desenho extrapola as bor<strong>da</strong>s<br />
<strong>da</strong> folha de papel). Observa-se também, em<br />
geral, que as marcas inscritas pelo sujeito nos<br />
suportes, nesta fase, são “registra<strong>da</strong>s” ali de tal<br />
modo que sugerem ter sido emprega<strong>da</strong> ou muita<br />
“força” no traçado dos rabiscos ou, ao contrário,<br />
ter havido pouquíssima “pressão” com o marcador<br />
sobre o suporte. Costuma-se recomen<strong>da</strong>r,<br />
para uso <strong>da</strong>s crianças, nesta etapa, marcadores<br />
resistentes tais como lápis de carpinteiro, giz de<br />
cera, canetas hidrográficas e/ou pincéis grandes<br />
e grossos.<br />
Figura 1<br />
Garatuja descontrola<strong>da</strong><br />
<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 117-132, jan./jun., 2006<br />
Ricardo Ottoni Vaz Japiassu<br />
(2) O rabisco controlado ou garatuja controla<strong>da</strong><br />
– O rabisco controlado ou garatuja<br />
controla<strong>da</strong> caracteriza maior diferenciação<br />
entre as marcas produzi<strong>da</strong>s no suporte por um<br />
mesmo sujeito. Constata-se que o “zigue-zague”<br />
incontrolado <strong>da</strong> etapa inicial cede lugar<br />
às formas circulares. Isto é: os traçados circulares<br />
– anteriormente frutos do acaso – agora<br />
são claramente intencionais. Nesta etapa,<br />
as formas circulares se repetem freqüentemente<br />
e vão sendo aperfeiçoa<strong>da</strong>s com base<br />
nas praxias já adquiri<strong>da</strong>s pela criança. Observam-se,<br />
neste momento, dois fenômenos muito<br />
curiosos: (1) uma espécie de proliferação<br />
de “círculos” justapostos de diversos tamanhos<br />
– como se houvesse a “produção em série”<br />
de muitas “bolinhas” (Figura 2); e (2) a irradiação<br />
ou desenho de formas circulares cilia<strong>da</strong>s<br />
(Figura 3). A criança demonstra com<br />
nitidez estar em um processo acelerado de<br />
aperfeiçoamento do traçado <strong>da</strong>s formas circulares.<br />
E revela claramente já conseguir manter<br />
suas marcas dentro dos limites do suporte<br />
que lhe foi fornecido. Em outras palavras: o<br />
sujeito nos informa ter adquirido, nesta fase,<br />
um maior controle sobre os movimentos <strong>da</strong><br />
mão. Neste período, as linhas “retas” (traços<br />
longos) se multiplicam e são aprimora<strong>da</strong>s pelo<br />
sujeito. Surgem os primeiros atos gráficos –<br />
a tentativa de representar delibera<strong>da</strong>mente<br />
objetos através do grafismo (LEVIN, 1998, p.<br />
121). Nos primeiros atos gráficos tudo ocorre<br />
como se a intenção representacional primeira<br />
do sujeito fosse “traí<strong>da</strong>” ao longo <strong>da</strong><br />
execução <strong>da</strong>s marcas – agora simbólicas –<br />
impressas no suporte. Isso acontece pela difi-<br />
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