Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Eclipse do Lúdico<br />
INTRODUÇÃO<br />
16<br />
Se você conhecesse o tempo tão bem quanto eu, disse o Chapeleiro, não<br />
diria gastar, referindo-se a ele.<br />
Não sei o que você quer dizer com isso, disse Alice.<br />
É claro que não sabe, respondeu o Chapeleiro, sacudindo desdenhosamente<br />
a cabeça; tenho certeza de que você nunca falou com o Tempo!...<br />
Talvez não, replicou Alice conscienciosamente; mas quando estudo música<br />
tenho que marcar o tempo...<br />
Ah! Então é por isso! Disse o Chapeleiro; ele não suporta marcação. Mas<br />
se você o tratar bem, fará o que você quiser com o relógio. Por exemplo: se<br />
fossem nove horas <strong>da</strong> manhã, hora de começar as lições e que você quisesse<br />
brincar, era só cochichar um pedidozinho ao Tempo e zás! Ele ro<strong>da</strong>va os<br />
ponteirinhos do relógio até marcar seis horas <strong>da</strong> tarde, Pronto! Num piscar<br />
de olhos seria hora do jantar!...<br />
Um rápido olhar sobre o que acontece na<br />
escola, principalmente nas classes dos anos iniciais<br />
do fun<strong>da</strong>mental, já nos possibilita enxergarmos<br />
o quão distantes estamos do que poderíamos<br />
chamar de uma prática pe<strong>da</strong>gógica lúdica, mormente<br />
quando se fala em educação pública.<br />
Se observarmos o cotidiano escolar, a partir<br />
dos ritos repetitivos de – chega<strong>da</strong> à escola, fila<br />
para entrar na sala de aula, a oração, deslin<strong>da</strong>mento<br />
dos conteúdos mediante a fala majoritariamente<br />
expositiva e dominante <strong>da</strong>s professoras,<br />
saí<strong>da</strong> para o recreio, fila para entregar a<br />
meren<strong>da</strong>, retorno, novamente a mesma professora<br />
que expõe magistralmente o conteúdo <strong>da</strong>s<br />
disciplinas, sineta que toca anunciando a hora<br />
<strong>da</strong> saí<strong>da</strong>, fila, porta a fora e a rua que, convi<strong>da</strong>tiva,<br />
chama as crianças que, finalmente, brincam<br />
– poderemos perceber que o espaço do<br />
brincar ou do deleite em aprender tem sido roubado<br />
na escola.<br />
Na sala de aula, o ensino criativo e lúdico<br />
tem cedido espaço para ações repetitivas e<br />
mecânicas. Muitas dessas ações, realiza<strong>da</strong>s,<br />
sobretudo no Ensino Fun<strong>da</strong>mental, têm no livro<br />
didático o seu mestre. Tal material, por constituir-se<br />
no mais poderoso, e mesmo, onipotente<br />
recurso de ensino, de que lançam mão os professores<br />
dos níveis fun<strong>da</strong>mental e médio de<br />
ensino, sobretudo nas escolas públicas, ditam<br />
(Alice nos País <strong>da</strong>s Maravilhas, Lewis Carrol).<br />
as regras do que fazer didático no dia-a-dia <strong>da</strong><br />
sala de aula. E, por isso mesmo, por se bastarem,<br />
equivoca<strong>da</strong>mente, suprimem <strong>da</strong> cena a<br />
criativi<strong>da</strong>de, autoria docente e a ludici<strong>da</strong>de. Este<br />
é o tema do presente artigo que tem por objetivo<br />
refletir sobre o espaço conferido à ludici<strong>da</strong>de<br />
no ensino fun<strong>da</strong>mental e o eclipse ocasionado<br />
por ações didáticas mecânicas, capitanea<strong>da</strong>s,<br />
principalmente, pelo livro didático, adotando, por<br />
considerar mais precisa, a terminologia manual<br />
didático.<br />
Tomaremos aqui como referências para análise<br />
do fenômeno anunciado, os autores Cipriano<br />
Carlos Luckesi (2000a; 2004b, 2005),<br />
Maturana e Ger<strong>da</strong> Verden-Zoller (2004), Johan<br />
Huizinga (1996), Deheinzelin (1996) Alessandrini<br />
(1992), dentre outros. Inicialmente discutiremos<br />
o conceito de ludici<strong>da</strong>de, de ensino e<br />
ativi<strong>da</strong>des lúdicas, em segui<strong>da</strong> discorreremos<br />
sobre a Arte como dimensão liga<strong>da</strong> ao ensino<br />
lúdico e, finalmente, apresentaremos alguns<br />
exemplos extraídos <strong>da</strong> pesquisa realiza<strong>da</strong> no<br />
contexto de uma escola pública de séries iniciais<br />
do nível fun<strong>da</strong>mental.<br />
Ludici<strong>da</strong>de: ensino lúdico e ativi<strong>da</strong>des<br />
lúdicas<br />
LUDO: Do latim LUDU – “tipo de jogo<br />
em que as pedras se movimentam segundo o<br />
<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 15-25, jan./jun., 2006