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O TEMPO NA DIREÇÃO DO TRATAMENTO

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conjunto responda à mesma forma<br />

temporal.<br />

Por exemplo, quando Lacan argumenta<br />

que a demanda possui uma lógica de<br />

ordem modal ele indica que esta possui<br />

uma articulação gramatical com o modo<br />

subjuntivo (que eu faça, se eu fizer, quando eu<br />

fizer). A interpretação e<br />

conseqüentemente o desejo expressamse<br />

segundo o modo apofântico, ou indicativo,<br />

(eu faço, eu fiz, eu farei).<br />

Finalmente o gozo exprime-se segundo o<br />

modo imperativo ou gerúndio. Os<br />

modos do necessário, possível,<br />

impossível e contingente são modos da<br />

demanda que exprimem também experiências<br />

temporais.<br />

De fato, quando se diz que não há<br />

constituição da demanda na psicose, no<br />

sentido de que nela não há<br />

posicionamento do falo no campo do<br />

Outro, ou seja, que há uma zerificação da<br />

posição fálica, tudo se passa como uma<br />

espécie de dedução da maneira neurótica<br />

de articular o tempo. Na neurose e na<br />

perversão aplica-se a noção de voltas da<br />

demanda, ou seja, a demanda se fecha e<br />

se conta em circuitos de retorno,<br />

reconhecimento e desconhecimento. Na<br />

psicose a demanda não se fecha,<br />

sobrevindo assim três fenômenos<br />

clínicos: (a) o empuxo á mulher (b) a<br />

infinitização do gozo (c) a descrença<br />

associada com a certeza.<br />

Ora, estes três fenômenos encontramse<br />

fixados claramente em modos temporais:<br />

(a) a transformação em mulher é<br />

um evento gerúndio (está acontecendo),<br />

(b) a infinitização do gozo é um evento<br />

subjuntivo (se, que e quando isso<br />

aconteça) e (c) a experiência de<br />

estranhamento, despersonalização e<br />

descrença é um evento indicativo radical,<br />

tão bem expresso pela noção de epifania.<br />

Portanto os três tempos da fantasia encontram-se<br />

claramente presentes na<br />

psicose, uma vez pensados como modos<br />

lógicos e gramaticais. O que estaria<br />

ausente é a articulação entre eles. Mas a<br />

pergunta remanesce: esta articulação<br />

seria ela mesma temporal ou lógica?<br />

5. Conclusão:<br />

Quando Joyce relata esta experiência de<br />

ter apanhado de dois colegas de tal maneira<br />

que ele teria saído de si como uma<br />

casca sai de uma fruta madura temos um<br />

destes enclaves temporais de valor<br />

diagnóstico. Ele diz que nada sentiu, nem<br />

dor, nem raiva, nem desejo de vingança<br />

nem humilhação. Ou seja, falta o<br />

sentimento social, a integração subjetiva<br />

desta experiência que fica assim<br />

indeterminada do ponto de vista temporal.<br />

Assim como o artigo que Aimée lera<br />

sobre os perseguidores de seu filho, Joyce<br />

conseguia datar o acontecimento. Este<br />

fazia parte de uma história capaz de ser<br />

narrada. Mas fazia parte como uma<br />

espécie de indeterminação existencial:<br />

teria ocorrido? teria sido imaginado? teria<br />

acreditado ter acontecido? Ele é o nome<br />

de um estranhamento, de uma<br />

identificação e de uma ausência de si. É<br />

um nome, não um significante.<br />

Concluindo. Na perversão o tempo<br />

aparece espacializado porque se trata da<br />

posição terminal da fantasia. Na neurose<br />

o tempo está articulado ao modo de<br />

relação e constituição dos objetos porque<br />

nele a temporalidade equivale aos<br />

processos de identificação, característicos<br />

da segunda fase da fantasia. Finalmente<br />

na psicose a experiência intersubjetiva do<br />

tempo nos mostra a temporalidade como<br />

ela é, ou seja, um conjunto fragmentário<br />

de experiências cujo efeito e não a causa<br />

é a unidade do tempo.<br />

Heteridade 7<br />

Internacional dos Fóruns-Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano 103

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