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O TEMPO NA DIREÇÃO DO TRATAMENTO

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uma disjunção do saber e da verdade. A<br />

letra está aqui em detrimento do<br />

restabelecimento do sentido latente. O<br />

mestre interessa ao neurótico, mas não o<br />

surpreende, porque foraclui a verdade. E<br />

é em direção da verdade que uma sessão<br />

de análise se norteia , onde o sujeito é<br />

surpreendido em sua divisão. O tempo<br />

de uma análise é o de uma transferência<br />

que se conta em tempo lógico. Talvez a<br />

implicação decisiva de se investigar o<br />

tempo em análise seja a determinação de<br />

momentos de passagem, onde o sujeito<br />

conclui com o Outro, pela posição onde<br />

encontra-se só – uma verdade sobre o<br />

que o causa.<br />

O compromisso ético do analista é<br />

com a existência desse inconsciente, seu<br />

futuro depende de ser escutado e o<br />

manejo do tempo da sessão e a função<br />

do corte empreendido por ele, longe de<br />

serem um artifício técnico, ou uma<br />

coordenada de como se submeter ao<br />

tempo, situam-se como derivação lógica<br />

e necessária dessa estrutura significante<br />

de hiância, furo, buraco. É em nome<br />

dessa descoberta que procuro, nesse<br />

breve estudo, a sustentação teórica para a<br />

prática das sessões de tempo variável.<br />

Nosso colega Marc Straus diz em<br />

Heteridade 3 que “uma vez que a sessão<br />

tem uma duração variável, nenhum fim<br />

de sessão é “inocente”, eles são todos<br />

significantes: “por que nesse momento?<br />

O que, pois, ele ouviu? As escansões são,<br />

portanto próprias para relançar a cadeia<br />

associativa na procura da causa”.<br />

Sabemos que Freud anunciou que o inconsciente<br />

ignora o tempo, mas acentuou<br />

o efeito do nachtraglich, onde, o que não<br />

pode ser lido, mas se inscreveu num 1º<br />

tempo, deixando marcas e impressões, se<br />

decifram à posteriori, por intermédio de<br />

uma nova inscrição.<br />

Lacan, sem jamais abandonar essa noção,<br />

vai introduzir o tempo no raciocínio<br />

psicanalítico às custas de um sofisma, obtendo<br />

o que poderíamos chamar uma estrutura<br />

lógica do tempo, que passa a ser<br />

não cronológica. Em “O Tempo Lógico<br />

e a Asserção da Certeza Antecipada”<br />

1945, há um embaraço que o sofisma dos<br />

três prisioneiros produz, e esse, advém<br />

da consideração de que o sujeito pode<br />

assentir algo como verdade, a despeito da<br />

falta de saber: - O diretor de um presídio<br />

chama 3 prisioneiros e lhes diz :- Vocês<br />

são 3 aqui presentes e tenho 5 discos<br />

que só diferem por sua cor:- 3 são<br />

brancos e 2 são pretos. Prenderei um<br />

disco nas costas de cada um de vocês.<br />

Vocês não verão a cor do próprio disco,<br />

mas verão os dos dois companheiros. O<br />

primeiro que puder deduzir sua própria<br />

cor se beneficiará com a medida<br />

libertadora. Será preciso ainda que a<br />

conclusão seja fundamentada em<br />

motivos de lógica e não de probabilidade.<br />

Depois de se haverem considerado entre<br />

si por um certo tempo, os 3 sujeitos dão<br />

juntos alguns passos, que os levam simultaneamente<br />

à porta de saída. Em separado,<br />

cada um fornece então uma resposta<br />

semelhante, que se exprime assim:<br />

“Sou branco, e eis como sei disso.<br />

Dado que meus companheiros<br />

eram brancos , achei que , se eu<br />

fosse preto,cada um deles poderia<br />

ter interferido o seguinte: ‘Se eu<br />

também fosse preto, o outro,<br />

devendo reconhecer<br />

imediatamente que era branco,<br />

teria saído na mesma hora,logo<br />

não sou preto. E os dois teriam<br />

saído juntos,convencidos de ser<br />

brancos. Se não estavam fazendo<br />

nada, é que eu era branco como<br />

eles. Ao que sai porta afora, para<br />

dar a conhecer minha conclusão.<br />

Foi assim que todos três saíram<br />

simultaneamente, seguros das<br />

mesmas razões de concluir.”<br />

Ter êxito em concluir, a despeito da falta<br />

de saber, foi este o problema colocado<br />

para cada um dos prisioneiros, onde cada<br />

um deve deduzir sua própria cor, que não<br />

sabe qual, embora os outros dois saibam.<br />

“Cada prisioneiro hesita sobre sua<br />

própria conclusão, tendo medo<br />

de ser superado pelos outros,<br />

caso não o faça rapidamente.<br />

Através dessa tensão do tempo,<br />

vê-se que a certeza do sujeito<br />

equivale a uma antecipação do<br />

julgamento assertivo, que se<br />

exprime aqui por um ato.”<br />

Heteridade 7<br />

Internacional dos Fóruns-Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano 132

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