O TEMPO NA DIREÃÃO DO TRATAMENTO
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▪ Tempo e estrutura<br />
Tempo e sintoma<br />
Andréa Hortélio Fernandes<br />
esde Freud, podemos<br />
Dafirmar que a noção do<br />
sintoma está associada à<br />
noção de tempo na psicanálise.<br />
Lacan retoma a<br />
lógica freudiana ao afirmar,<br />
no Seminário<br />
R.S.I., haver “consistência<br />
entre o sintoma e o inconsciente” ,<br />
donde o sintoma é uma das manifestações<br />
dos tempos do sujeito do inconsciente.<br />
O tema do sintoma leva Freud a declarar<br />
que, com o passar do tempo, o sujeito<br />
descobre que fez ‘mau negócio’ ao<br />
optar pela neurose. Daí surge à questão<br />
central que buscamos tratar neste artigo:<br />
é dentro da lógica temporal do inconsciente<br />
que o sujeito pode vir, graças ao manejo<br />
da transferência, a lidar com o que<br />
persiste do real sexual, sempre traumático,<br />
no seu sintoma? Para responder esta<br />
questão vamos retomar o caso Dora tal<br />
qual ele é retomado por Lacan.<br />
Nos primórdios da psicanálise, o interesse<br />
de Freud pela etiologia das<br />
neuroses leva-o a afirmar que “as<br />
diferentes neuroses têm seus requisitos<br />
cronológicos particulares para suas cenas<br />
sexuais”. Estamos aí frente ao real sexual<br />
sempre traumático, conforme a teoria<br />
lacaniana.<br />
Ao longo da obra freudiana, Freud vai<br />
dando-se conta do dispêndio de energia<br />
gasto pelos sujeitos, ao longo dos tempos<br />
da neurose, na manutenção dos sintomas.<br />
Defende que o maior dano causado<br />
pelos sintomas “reside no dispêndio<br />
mental que acarretam” . Nesta época, o<br />
sintoma entendido como uma satisfação<br />
substitutiva vai orientar a técnica<br />
psicanalítica a lidar com os tempos do<br />
sujeito do inconsciente.<br />
No texto “Os caminhos da formação<br />
do sintoma” (1916) Freud declara que<br />
“os sintomas criam um substituto da<br />
satisfação frustrada, realizando uma<br />
regressão da libido a épocas de<br />
desenvolvimento anteriores, regressão a<br />
que necessariamente se vincula um<br />
retorno a estádios anteriores de escolha<br />
objetal” . Esta passagem atesta a<br />
transferência, entendida por Lacan, como<br />
trazendo uma reatualização da realidade<br />
sexual do inconsciente.<br />
As dificuldades do manejo da transferência<br />
vão ser tratadas por Freud em “O<br />
estado neurótico comum” (1916). Freud<br />
adverte, então, das dificuldades que o<br />
analista deve encontrar já que o sintoma,<br />
como formação substitutiva, traz um ganho<br />
secundário para o sujeito. Poderíamos<br />
dizer, com Lacan, que o sintoma<br />
apresenta em si um mais de gozar que se<br />
sustenta na fantasia do sujeito.<br />
Nesta evolução da técnica psicanalítica<br />
vemos que “o analista abandona a<br />
tentativa de colocar em foco um<br />
momento ou um problema específico”,<br />
não é esta a lógica temporal do<br />
inconsciente. A psicanálise, com Freud,<br />
vai buscar superar os empecilhos para a<br />
associação livre contando que o sintoma<br />
seja possível de ser traduzido, como se<br />
fosse possível pensar que há Outro do<br />
Outro, deixando de lado no manejo da<br />
transferência, o matema do significante<br />
que falta no Outro. A partir dos anos<br />
setenta, Lacan vai dar as coordenadas de<br />
como trabalhar a dimensão do real e isto<br />
abarca o tratamento das questões<br />
relativas ao tempo e ao sintoma na<br />
prática analítica.<br />
Freud nos ensina que, com o passar do<br />
tempo, o sujeito descobre que fez um<br />
mau negócio ao optar pela neurose. De<br />
acordo com Lacan, a experiência<br />
psicanalítica deverá levar o sujeito a se<br />
confrontar com o objeto que ele fora<br />
para o Outro. Alcançamos então uma a-<br />
temporalidade do inconsciente, na qual o<br />
Heteridade 7<br />
Internacional dos Fóruns-Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano 143