O TEMPO NA DIREÃÃO DO TRATAMENTO
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▪ A psicanálise no seu tempo<br />
Formação do analista e Transmissão da<br />
Psicanálise: qual articulação possível?<br />
Beatriz Oliveira<br />
E<br />
m seu texto de 1919 266 ,<br />
Freud deixa claro qual a<br />
importância da formação<br />
em uma sociedade<br />
psicanalítica. Além do<br />
trabalho de análise pessoal,<br />
Freud considera<br />
fundamental a troca com analistas experientes<br />
em sessões científicas, bem como<br />
o trabalho de supervisão e análise<br />
didática com analistas reconhecidos.<br />
Assim, sua proposta institucional se<br />
sustenta como um lugar onde a<br />
formação psicanalítica deveria acontecer.<br />
Desde sua formação na Sociedade Psicanalítica<br />
de Paris, instituição ligada à Internacional<br />
– IPA – Lacan sustenta uma<br />
crítica assídua aos abusos transferenciais<br />
e desvios em relação à direção dos tratamentos<br />
dispensados, a ponto de romper<br />
com a SPP em 53. Em 56 267 , Lacan<br />
esclarece que estrutura de formação da<br />
IPA era consequência da própria direção<br />
do tratamento ali estabelecida. Ou seja,<br />
para se formar analista, era necessária<br />
uma graduação obtida no instituto de<br />
formação, bem como a autorização<br />
obtida do próprio analista. Ora, esta<br />
autorização estava relacionada com a<br />
direção do tratamento ali dispensada: o<br />
fim de uma análise pela identificação ao<br />
analista, pela “introjeção do bom<br />
objeto” 268<br />
A transferência é um ponto nodal para<br />
a crítica realizada por Lacan à IPA.<br />
Lacan fará referência ao texto freudiano<br />
Psicologia das Massas para argumentar<br />
contra a formação dispensada na IPA.<br />
266<br />
FREUD, S. (1919) Deve ensinar-se a<br />
psicanálise na universidade? In Obras Completas.<br />
Amorrortu Ed., vol. XVII<br />
267<br />
LACAN, J. - Situação da psicanálise e<br />
formação do psicanalista em 1956 In Escritos.<br />
Jorge Zahar, E. 1998.<br />
268<br />
Op. Cit, p. 466<br />
Essa dimensão da transferência pela qual<br />
o analisante, ao final, identifica-se ao eu<br />
do analista será o elemento constituinte<br />
do funcionamento das sociedades<br />
analíticas, tal como acontecia na igreja<br />
ou exército: os indivíduos colocavam as<br />
“suficiências” - nome dado aos analistas<br />
reconhecidos como tal- no lugar de Ideal<br />
aos quais todos se identificavam. A<br />
consequência disto seria o silêncio dos<br />
analisandos mais jovens. Diz Lacan:<br />
A função da identificação na<br />
teoria – sua prevalência- assim<br />
como a distorção de reduzir a ela<br />
o término da análise, estão ligadas<br />
à constituição dada por Freud às<br />
sociedades – e levantam a questão<br />
do limite que com isso ele<br />
pretendeu dar a sua<br />
mensagem 269 ”.<br />
A questão que pretendo discutir neste<br />
trabalho refere-se à proposta de<br />
formação analítica introduzida por<br />
Lacan. Em que esta se diferenciaria da<br />
de Freud e quais seriam os elementos<br />
que permitiriam uma saída institucional<br />
que não reproduzisse os efeitos de<br />
identificação e hierarquia tal como<br />
verificado na IPA?<br />
A Proposição de 67 é um texto fundamental<br />
pois é a primeira vez que Lacan<br />
faz uma proposta efetiva de Formação<br />
dos psicanalistas em sua Escola,<br />
articulando-a necessariamente com o<br />
próprio funcionamento de uma<br />
sociedade psicanalítica: “trata-se de<br />
fundamentar as garantias mediante as quais<br />
nossa Escola poderá autorizar um psicanalista<br />
por sua formação e... responder por ela (...).<br />
269<br />
LACAN, J. – Primeira versão da “Proposição<br />
de 9 de outubro de 1967 sobre o Psicanalista da<br />
Escola” In Outros Escritos. Jorge Zahar Ed.<br />
2003<br />
Heteridade 7<br />
Internacional dos Fóruns-Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano 232