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O TEMPO NA DIREÇÃO DO TRATAMENTO

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consistência lógica para que daí possa se<br />

precipitar no novo que o re-significa).<br />

O vazio incluído na suposição de saber<br />

da colocação em ato da realidade sexual<br />

da transferência se opõe à repetição da<br />

presentificação do passado. Como a sexualidade<br />

é marcada por um “não-há”,<br />

esse “nada”, espaço vazio da pulsão,<br />

convoca o sujeito prometido ao novo,<br />

passível de ser comparado ao vocábulo<br />

“há-de-vir” = “advir” da expressão<br />

freudiana Wo Es War, Soll Ich Werden.<br />

(Onde o Isso era, o sujeito – efeito da<br />

atividade do objeto, correlato ao ato que<br />

faz com que o sujeito se precipite – há<br />

de vir).<br />

O dispositivo analítico oferece ao<br />

analisante a possibilidade de reorganizar<br />

as marcas (o traçado) significantes de<br />

seus ditos no après-coup de sua<br />

experiência, no a posteriori de seu<br />

percurso. Daí se depreende a lógica<br />

explicitada por Lacan em Radiofonia: “o<br />

ser nasce da falha que produz o ser ao se<br />

dizer”.<br />

Uma nova montagem da pulsão é<br />

passível de se reorganizar para além da<br />

fantasia que sustentou o sujeito em seus<br />

ditos. Esse “ser” não mais advém do<br />

Outro nem do laço transferencial que,<br />

pela demanda, conectava o sujeito ao<br />

Outro. Como efeito desta separação, não<br />

mais haverá correspondência nem no<br />

amor nem no saber. A impossível<br />

resposta do simbólico revela não haver<br />

“boa-hora”- (tické) para o sexual porque<br />

este é marcado pela contingência.<br />

A experiência de análise não é um processo<br />

devotado à<br />

eternização/eternidade. É mais uma<br />

experiência que visa levar o sujeito a<br />

falar. Mas falar o essencial em um curto<br />

espaço de tempo (veremos surgir na<br />

pressa o que é o essencial). Esse essencial<br />

se refere a agarrar a prova do impossível<br />

na contingência da precipitação<br />

que desvela o sujeito em ato.<br />

Enfim, o objeto a funda a estrutura topológica<br />

do sujeito, serve de lastro ao<br />

tempo que sempre falta no processo<br />

constitutivo do sujeito (futuro anterior).<br />

Enquanto a repetição é acompanhada<br />

por um erro na contabilidade, há nela<br />

mesma sempre um-a-menos, uma volta<br />

que falta e que faz furo levando o sujeito<br />

a tentar ressurgir e a se representar no<br />

traço unário..No traço, ele se desvela mas<br />

também se apaga. Nessas voltas da<br />

repetição , o sujeito poderia se contar<br />

cronologicamente, uma após a outra.<br />

Contudo, nessa contagem, há sempre<br />

uma volta que falta. Dito de outro modo,<br />

trata-se de um tempo lógico que aí se<br />

furta. O que conotamos como objeto a,<br />

objeto fora-de-sentido produz o efeito<br />

de corte, hiato e suspensão de sentido.<br />

Como efeito da pressa em concluir, o<br />

sujeito se eclipsa no objeto a que o<br />

precipita em ato para passar a um tempo<br />

em que o desejo se torna novamente um<br />

futuro calculável, fruto da incalculável<br />

“leveza do ser” produzida pelo objeto.<br />

Enfim, é o objeto a que conjuga a<br />

entrada em análise com a saída.<br />

A operação analítica deve (dever ético)<br />

conduzir o sujeito a se identificar com<br />

seu ato, assim como deve conduzir o sujeito<br />

a fazer ato de sua causalidade. Enfim,<br />

é preciso tempo para “saber lidar”<br />

com o que estava em causa desde a<br />

entrada (saber sem sujeito) e que<br />

também reordena um dizer a partir da<br />

sua reiterada perda. “A cada conto, se<br />

acrescenta (e se perde) um ponto”, diz o<br />

ditado popular.<br />

Heteridade 7<br />

Internacional dos Fóruns-Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano 196

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