O TEMPO NA DIREÃÃO DO TRATAMENTO
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Pode também constituir o meio de experiência e<br />
de crítica que estabeleça ou sustente as condições<br />
de melhores garantias”. 270<br />
Crítico da concepção de final de<br />
análise pela via da identificação, Lacan<br />
sustentará que o analista autoriza-se de si<br />
mesmo. Ou seja, a questão do lugar e<br />
função do psicanalista, no início e fim da<br />
psicanálise, está orientada pelo conceito<br />
de transferência como Lacan formalizará<br />
na proposição. “ O sujeito suposto saber é,<br />
para nós, o eixo a partir do qual se articula<br />
tudo o que acontece com a transferência” 271 . A<br />
transferência se verifica na articulação de<br />
um significante qualquer do analista com<br />
a cadeia significante do analisando.<br />
Neste sentido, Lacan será claro ao<br />
afirmar que a transferência faz<br />
resistência à intersubjetividade,<br />
desconstruindo a idéia de relação dual<br />
entre analisando e analista e sustentando<br />
o final da análise não pela via da<br />
identificação, mas pela via da destituição<br />
subjetiva.<br />
Lacan articulará dois pontos de junção,<br />
onde tem que funcionar seus órgãos de garantia<br />
: a intensão e a extensão da<br />
psicanálise e o início e o fim da<br />
psicanálise – tal como a partida de<br />
xadrez, sendo que o ponto de encontro<br />
é justamente a passagem de<br />
psicanalisante a psicanalista. Neste<br />
ponto a transferência é o pivô em torno<br />
do qual a passagem se articula. Ou seja,<br />
como transmitir o que se foi para o<br />
Outro e o modo particular de como se<br />
saiu disso? Como fazer passar do<br />
particular ao universal um desejo que se<br />
extrai nesta passagem?<br />
Lacan se refere ao desejo do<br />
psicanalista, uma enunciação que ocupa<br />
o lugar do x em uma função, “resto que,<br />
como determinante de sua divisão, o faz decair<br />
de sua fantasia e o destitui como sujeito” 272 .<br />
Em 79, Lacan dirá que foi por isso que<br />
instaurou o dispositivo do Passe: “ o que<br />
faz com que , após ter sido analisante, nos<br />
tornamos psicanalistas?” 273 . Com isto,<br />
podemos dizer que Lacan faz um giro<br />
em relação à saída pela identificação ao<br />
situar a transmissão da psicanálise no<br />
cerne de sua proposta institucional.<br />
Dessa forma ele desloca o lugar do<br />
objeto como ideal, tal como nas<br />
instituições freudianas, para o lugar de<br />
causa, o que implica em manter aberta a<br />
pergunta a respeito do que faz a<br />
passagem de analisando a analista.<br />
Se por um lado esta pareceu ser uma<br />
proposta subversiva e audaciosa, por outro,<br />
e por sua estrutura mesma, nos faz<br />
questionar a respeito de suas consequências.<br />
Na Carta de Dissolução da EFP ,<br />
Lacan afirma que<br />
“A Internacional reduz-se ao<br />
sintoma que é daquilo que<br />
Freud dela esperava. Sabemos o<br />
que custou o fato de Freud<br />
haver permitido que o grupo<br />
psicanalítico prevalecesse sobre<br />
o discurso, tornando-se Igreja.”<br />
Assim critica os rumos pelos quais a<br />
psicanálise se orientou, qual seja, a via do<br />
sentido e conclui: “a estabilidade da religião<br />
provém de o sentido ser sempre religioso 274 ”.<br />
Aqui situamos o ponto problemático<br />
das sociedades psicanalíticas. Lacan, em<br />
1980, critica e dissolve a EFP por questões<br />
semelhantes às que verificava na Internacional,<br />
por seus efeitos de grupo. A<br />
questão que se coloca é se sua proposta<br />
de Escola permitiria um outro tipo de<br />
laço que fizesse “resistência à<br />
intersubjetividade”, que barrasse os<br />
efeitos de grupo inerentes ao Ideal, que<br />
permitisse um avanço em relação à<br />
proposta freudiana de formação<br />
analítica. Lacan dirá claramente que sua<br />
Escola pretende dissipar a sombra que<br />
encobre este ponto de junção, de<br />
passagem de psicanalisante a psicanalista,<br />
muito embora diagnostique:<br />
270<br />
Lacan, J. Proposição de 9 de outubro de 1967<br />
sobre o psicanalista da Escola. In Outros Escritos.<br />
Jorge Zahar Ed., 2003<br />
271<br />
Op. Cit. p. 253<br />
272<br />
Idem, p. 257<br />
273<br />
9º Congrès de l’École Freudienne de Paris sur<br />
“La transmission”. Parue dans les Lettres de<br />
l’École, 1979, nº 25, vol. II, pp 219-220.<br />
274<br />
Lacan J. Carta de Dissolução In Outros escritos<br />
Jorge Zahar ed., 2003., p. 320.<br />
Heteridade 7<br />
Internacional dos Fóruns-Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano 233