O TEMPO NA DIREÃÃO DO TRATAMENTO
O TEMPO NA DIREÃÃO DO TRATAMENTO
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experiência de análise os significantes<br />
que marcaram o momento em que fixou<br />
seu ser. Os significantes se desvelam no<br />
sintoma, sem o saber. Lá onde estava o<br />
significante de um gozo primordial,<br />
deverão advir os significantes produzidos<br />
pelo trabalho de transferência. Entretanto,<br />
“é o real” – insistente em se dizer<br />
– “que permite efetivamente desatar<br />
aquilo em que consiste o sintoma, ou<br />
seja, esse nó de significantes” (Televisão,<br />
p. 25).<br />
Ao lado de um trabalho de transferência<br />
nomeado por Freud de<br />
Durcharbeitung, propomos distinguir um<br />
outro efeito deste trabalho que não é<br />
simples repetição. Há uma exigência<br />
lógica inerente ao percurso analítico que<br />
não ignora a causa do desejo subjacente<br />
ao deslizamento da série. Ao reenviar o<br />
sujeito à descontinuidade psíquica, o que<br />
foi vivido como sucessão se inscreve<br />
como simultaneidade. Em um instante –<br />
o do ato -, entre a causa e o efeito há<br />
(atualiza-se) um hiato que se desnuda<br />
como pulsão. A causa funda na<br />
atualidade a matriz de um “futuro anterior”<br />
– nachträglich.<br />
Para discutir a entrada que antecipa a<br />
conclusão da experiência analítica,<br />
vamos nos deter em dois momentos<br />
cruciais da direção de um tratamento. É<br />
a partir das entrevistas preliminares que<br />
poderemos dizer se um sujeito a se<br />
realizar como possível analisante<br />
encontrou um possível analista ao qual<br />
endereçar “aquilo” que lhe retornará<br />
como questão. Então, é necessário um<br />
tempo para que se dê este “encontro/reencontro”.<br />
No entanto, a entrada na<br />
experiência analítica corre o risco de se<br />
constituir em um tempo monótono que<br />
se perpetua no mal-entendido inevitável<br />
próprio à estrutura (o próprio<br />
significante é equívoco) se não houver<br />
nenhuma intervenção que conduza a um<br />
trabalho que vise descentrar a demanda<br />
em direção à causa. Para tanto, é necessária<br />
a intervenção de um analista.<br />
Esse é o momento inicial do ato<br />
analítico que permite ao sujeito da<br />
experiência analítica destacar sua marca<br />
de gozo .<br />
Como efeito do ato analítico, uma falta<br />
é extraída da lei repetitiva da cadeia<br />
significante (já que esta falta é correlata<br />
ao motor da demanda). A falta abre o<br />
circuito da pulsação inconsciente (abre o<br />
circuito pulsional) para permitir a<br />
construção de uma ficção nos instantes<br />
de encontro inesperado do sujeito com<br />
sua verdade. Como efeito, o sujeito<br />
tende a se precipitar na surpresa que<br />
reflete a urgência da perda de um gozo<br />
até então possivelmente ignorado. Esses<br />
instantes fugazes em que o sujeito se<br />
precipita como efeito da perda<br />
subjacente ao desdobramento do traçado<br />
da “bússola”, razão ou orientação fálica,<br />
marcam uma suspensão (Aufhebung) e<br />
uma interrupção de um tempo que se<br />
sucede.<br />
Embora seja preciso um tempo para<br />
que se desfaçam os nós que ataram o sujeito<br />
aos seus sintomas, é da alternância<br />
entre tédio, monotonia de significantes e<br />
precipitação na pressa que a estrutura é<br />
constituída. Assim duas versões do gozo<br />
são recuperadas – uma fálica, da qual extraímos<br />
as marcas da sequencia tensionada<br />
entre antecipação e retroação (ou seja,<br />
extraímos as marcas do sintoma que surgiram<br />
da descontinuidade fálica no encontro<br />
com a pulsão de morte), e outra<br />
orientada pelo objeto a , em que o nãotodo<br />
se furta ao gozo fálico e faz com<br />
que o sujeito se precipite em uma<br />
decisão impensável, imprevisível.<br />
A contingência, provocada pela pressa<br />
em concluir, está mais para o registro do<br />
que “cessa de não se escrever”. O falo<br />
objeta a possibilidade do encontro<br />
sexual, impede o encontro de se realizar.<br />
Contudo, o falo funciona como símbolo<br />
da castração, tornando assim visível o<br />
tempo zero da falta. O falo também vale<br />
como símbolo do gozo. É dessa forma<br />
que o falo se reafirma como da ordem<br />
do impossível – “o que cessa de não se<br />
escrever”. Apenas no a posteriori – aprèscoup<br />
- da experiência é possível ser<br />
revelada a resposta que reduz o sujeito<br />
ao seu “ser” sem o Outro (ou seja, o<br />
sujeito enfim se reduz ao seu ser de<br />
gozo, ser necessário ao real em sua<br />
Heteridade 7<br />
Internacional dos Fóruns-Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano 195