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O TEMPO NA DIREÇÃO DO TRATAMENTO

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▪ O tempo na direção do tratamento<br />

Tempo de entrada – Reflexões acerca da<br />

entrada em análise<br />

Gonçalo Moraes Galvão<br />

gostinho é um autor bas-<br />

lembrado quando se Atante<br />

quer fazer referência ao<br />

tempo. Enquanto filósofo<br />

medieval percorre uma variedade<br />

de assuntos e<br />

entre eles está uma<br />

reflexão sobre o tempo<br />

que merece respeito e tempo de<br />

entendimento. Segundo ele por um lado<br />

podemos reconhecer, enquanto<br />

humanos, nossa inserção no tempo<br />

como algo corriqueiro e simples:<br />

Que assunto mais familiar e mais<br />

batido nas nossas conversas do que<br />

o tempo? Quando dele falamos<br />

compreendemos o que dizemos.<br />

Compreendemos também o que<br />

nos dizem quando dele nos falam.<br />

(AGOSTINHO, 1970)<br />

Por outro lado não escapa ao bispo de<br />

Hipona o quanto se ignora dessa mesma<br />

inserção, ou seja, aquilo que parece obvio<br />

traz uma série de problemas, quando nos<br />

propomos a trabalhar a questão com<br />

mais cuidado. É assim que sobre o<br />

mesmo assunto afirma:<br />

Se ninguém me perguntar eu sei,<br />

porém, se quiser explicar a quem me<br />

perguntar, já não sei. (AGOSTI-<br />

NHO, 1970)<br />

Esta ignorância não será um elemento<br />

paralisante, mas ao velho estilo socrático<br />

levará o filósofo a empreender um árduo<br />

trabalho para pensar o que é e quais seriam<br />

as condições do tempo para o humano.<br />

Assim parece viável pegarmos carona<br />

naquilo que destaca enquanto questão<br />

para avançar:<br />

Que é, pois, o tempo? Quem poderá<br />

explicá-lo claro e brevemente? [...] e<br />

que modo existem aqueles dois tempos<br />

– o passado e o futuro – se o<br />

passado já não existe e o futuro<br />

ainda não veio? Quanto ao presente,<br />

se fosse sempre presente, e não<br />

passasse para o pretérito, como<br />

poderíamos afirmar que ele existe,<br />

se a causa de sua existência é a<br />

mesma pela qual deixará de existir?<br />

(AGOSTINHO, 1970)<br />

A partir destes elementos vai se delineando<br />

para este autor que, pelo menos<br />

filosoficamente, não é possível a<br />

existência de um tempo objetivo. Ele irá<br />

argumentar logicamente a favor da não<br />

existência objetiva do passado e do<br />

futuro. Um já foi, já passou e assim ‘já<br />

não é’ e o outro ainda não veio, ou seja,<br />

‘ainda não é’; desta feita tão falso quanto<br />

afirmar a existência do passado é afirmar<br />

a do futuro. O presente, por sua vez, o<br />

único modo de lhe reconhecermos<br />

enquanto presente é quando contrastado<br />

aos outros dois tempos, passado e futuro,<br />

assim sendo também não tem existência<br />

em si mesmo.<br />

Depois desta conclusão, de estranhamento<br />

frente ao tempo, o bispo de Hipona<br />

não para por aí. Irá propor a partir<br />

do já trabalhado um segundo momento<br />

de conclusão:<br />

O que agora transparece é que,<br />

não há tempos futuros nem<br />

pretéritos. É impróprio afirmar: os<br />

tempos são três: pretérito,<br />

presente e futuro. Mas talvez fosse<br />

próprio dizer: os tempos são três:<br />

presentes das coisas passadas,<br />

presente dos presentes, presente<br />

dos futuros. Existem, pois estes<br />

três tempos na minha mente que<br />

não vejo em outra parte:<br />

lembrança presente das coisas passadas,<br />

visão presente das coisas<br />

presentes e esperança presente das<br />

Heteridade 7<br />

Internacional dos Fóruns-Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano 107

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