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O TEMPO NA DIREÇÃO DO TRATAMENTO

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Tempo para fazer-se homem<br />

▪ O tempo e estruturas clínicas<br />

Ida Freitas<br />

frequência com que o<br />

A<br />

sintoma da fobia vem se<br />

apresentando na clínica,<br />

em especial, aquela fobia<br />

capaz de produzir uma<br />

descontinuidade na vida<br />

do sujeito, como o<br />

afastamento da vida<br />

escolar e social de jovens rapazes, tem<br />

me levado a refletir a respeito desse<br />

fato clínico, sem, no entanto perder de<br />

vista a singularidade dos casos<br />

concernidos ao mesmo fenômeno.<br />

O título escolhido – Tornar-se homem<br />

– advém das primeiras reflexões sobre as<br />

observações clínicas referidas. Alguns<br />

sujeitos parecem precisar de mais tempo<br />

que outros, mergulhando num longo<br />

tempo para compreender, acompanhado<br />

do isolamento no ambiente familiar<br />

evitando assim o contato com espaços<br />

públicos, e consequentemente todos os<br />

riscos ali implicados.<br />

Tempo para que? Para poder<br />

responder aos apelos fálicos, como a<br />

posição em relação a diferença sexual, à<br />

assunção de seu próprio sexo, e<br />

sobretudo em relação ao desejo que<br />

apontará para a possibilidade de gozar<br />

do corpo de um parceiro? Para assumir<br />

a responsabilidade pelas próprias<br />

escolhas? Para encontrar um lugar na<br />

estrutura significante, através do<br />

trabalho de identificação? Enfim, tempo<br />

para fazer-se homem, já que os casos<br />

que me inspiram a essa elaboração<br />

referem-se a sujeitos que se encontram<br />

na passagem de meninos para homens?<br />

Centrarei minha reflexão a luz de três<br />

casos clínicos que como observado<br />

acima possuem alguns pontos em<br />

comum. Caso A – Menino, 13 anos. A<br />

angústia é desencadeada a partir da<br />

ausência da mãe determinada por uma<br />

cirurgia de hemorroidas. Desde então<br />

passa a recusar-se a ir a escola, e isso<br />

dura aproximadamente 2 anos e meio.<br />

Os sintomas eram múltiplos<br />

caracterizando um quadro de medo e<br />

angústia com seus efeitos sobre o corpo,<br />

que passa a funcionar como um<br />

termômetro para os passos e<br />

pensamentos do sujeito. A isola-se em<br />

casa relacionando-se apenas<br />

virtualmente com seus semelhantes,<br />

vivendo um mundo paralelo através de<br />

seu jogo preferido em um chat da<br />

Internet. Vem a análise estabelecendo<br />

sem dificuldades um laço transferencial<br />

positivo e produtor de saber, mas que<br />

exige tempo, a temporalidade própria da<br />

associação livre, segundo Soler<br />

(Um tempo a mais – Heteridade 3<br />

p.103) que é a dos enunciados, que colocam<br />

os ditos em série. Apesar do inconformismo<br />

familiar, do frequente questionamento<br />

dos amigos e de seu próprio<br />

tédio A esteve, exceto por poucas<br />

tentativas de retorno a escola, impassível<br />

na sua decisão de não ir a escola. A<br />

análise que teve como fio condutor a<br />

pergunta: o que é um pai? Que se<br />

desloca para: o que é ser um homem? E<br />

que encontra a resposta identificatória,<br />

que lança o sujeito no futuro de seu<br />

desejo: Quero ser um homem bom<br />

como meu pai. Se conseguir ser para<br />

alguém o que meu pai, apesar de sua<br />

ignorância, foi para mim, ficarei satisfeito.<br />

Caso B – Menino, 16 anos, desmaia<br />

no Shopping, apresentando a partir daí o<br />

medo de desmaiar em lugares públicos,<br />

encerrando-o em casa na companhia de<br />

seu computador. Inicia a análise e interrompe<br />

os estudos por 3 anos. Sua<br />

análise traz uma lembrança infantil, viu<br />

sua mãe traindo seu pai e silenciou sobre<br />

isso. Outra lembrança importante:<br />

quando seu avô morreu pensou: eu serei<br />

o próximo. O desmaio surge como<br />

metáfora da morte, que o coloca ao<br />

Heteridade 7<br />

Internacional dos Fóruns-Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano 197

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