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O TEMPO NA DIREÇÃO DO TRATAMENTO

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serie que vai do luto à angústia, tendo<br />

como efeito: a produção de um significante<br />

que transforme o “gaio issaber”,<br />

gay sçavoir, (Lacan, 1974), o saber<br />

“alegre”, sempre do falo, que até o<br />

momento funcionava contestando uma<br />

possível tristeza (a qual seria demitir-se<br />

de querer saber).<br />

Luto e angústia têm uma tópica em comum,<br />

pois ambos afetam, em primeira<br />

instância o eu. O luto é um trabalho que<br />

acontece no eu. Enquanto a angústia é<br />

um sinal no eu. Lembremos: sinal de um<br />

real, índice de um real.<br />

No luto trata-se da desmontagem das<br />

diferentes identificações que afetam o<br />

simbólico e o imaginário para dar conta<br />

de um furo no real. O trabalho deverá<br />

contemplar as modificações ao nível das<br />

identificações imaginárias i(a) e simbólicas<br />

I(A), estas última sendo o signum do<br />

Outro. As marcas do Outro, as quais se<br />

inscrevem por traços isolados, únicos,<br />

“tendo cada um a estrutura do significante”<br />

localizam o sujeito em relação a sua<br />

imagem i(a), envoltório da falta (-φ) que<br />

indica um lugar para ser amado pelo Outro.<br />

Portanto, o luto é um trabalho econômico<br />

no qual a libido se desloca em novos<br />

objetos, sendo o primeiro: o eu. Mesmo<br />

se Lacan (1958) nos propõe pensar<br />

que em todo luto há um furo no real<br />

diferençando-o da psicose na qual o furo<br />

é no simbólico, e acrescentado que há<br />

pontos de fuga em todo luto; somos<br />

levados a pensar que o luto tem um final.<br />

A lógica temporal do luto se resume em:<br />

instante de ver que refere à petrificação,<br />

o estupor subjetivo, o tempo de<br />

compreender referido ao desfolhamento<br />

dos ideais, um a um; e o momento de<br />

concluir ligado ao preço que o sujeito<br />

deve pagar para que o luto, de modo<br />

enviesado, chegue a seu término. Esse<br />

momento, segundo Lacan, define um<br />

preço a ser pago pelo enlutado: a libra de<br />

carne. O sujeito deve pagar com sua libra<br />

de carne, isto é: o sacrifício que o sujeito<br />

do desejo pagou por existir. Eis a razão<br />

pela qual o luto e angústia podem ser<br />

correlacionados, pois o furo no real do<br />

luto confronta o sujeito com a libra de<br />

carne.<br />

A respeito da angústia, a seguinte definição<br />

parece-me preciosa: “Em suma, a<br />

angústia é correlativa do momento em<br />

que o sujeito está suspenso entre um<br />

tempo em que ele não sabe mais onde<br />

está, em direção a um tempo em que ele<br />

será alguma coisa na qual jamais se<br />

poderá reencontrar. É isso aí, a angústia”.<br />

(Lacan, 1956-7/1995, p.231).<br />

Em 1963 a angústia se define por ser o<br />

afeto que não engana, impar entre todos<br />

os outros, e por não ser sem objeto. Eis<br />

aí que a angústia faz sinal no eu, justamente<br />

quando o enquadre da borda fantasmática<br />

- que inscreve a relação do sujeito<br />

ao desejo do Outro – vacila, apontando<br />

o real do objeto. A angústia aparece<br />

no que não se encaixa e se vincula a<br />

essa torção entre o Unheimlich e o heimlich<br />

na qual se evidencia que o que provoca<br />

estranheza é a inquietante familiaridade.<br />

Entretanto, a angustia é uma subjetivação<br />

desse real e por essa razão guia o sujeito<br />

quando de encontro com o mais íntimo<br />

do seu ser. Podemos pensar nesses termos<br />

tanto a entrada quanto o fim da análise.<br />

A angustia, afeto de exceção (Soler,<br />

2005) é índice do mais íntimo do ser. As<br />

coordenadas desse afeto foram articuladas<br />

por Lacan em 1962 na operação de<br />

corte do cross-cap, a saber: o objeto a, que<br />

conserva as propriedades da superfície,<br />

mas não é especularizável, pois é irredutível<br />

à imagem, mesmo dela participando.<br />

Por sua vez, o corte do cross-cap cria uma<br />

parte periférica que é a superfície da banda<br />

de Mœbius na qual se representa a estrutura<br />

do sujeito. Isso posto: trata-se, a<br />

partir da operação do corte, da formulação<br />

das coordenadas da fantasia fundamental<br />

($ a). O corte serve para enunciar<br />

as relações do sujeito com o objeto<br />

que a análise procura (a $), permitindo<br />

estabelecer uma disjunção radical que<br />

fará que nenhum saber diga jamais a<br />

verdade toda. O mito individual que se<br />

articula nos significantes que<br />

representam o sujeito tem pretensão de<br />

verdade (considerando o discurso do<br />

analista, embaixo da barra - S2 no lugar<br />

Heteridade 7<br />

Internacional dos Fóruns-Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano 189

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