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O TEMPO NA DIREÇÃO DO TRATAMENTO

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▪ Tempo e estrutura<br />

A lógica temporal de Charles Peirce: a<br />

(des)continuidade na clínica psicanalítica<br />

Elisabeth Saporiti<br />

“Time has usually been considered by logicians to be what is called extra logical matter.<br />

I have never shared this opinion.” (Peirce: C.P. 4 523) 1.<br />

“The reader will note that our entire account of TIME is a semiotic construct.” (Peirce C.P. 4 523)<br />

“(...) l´analyst comme tenant-lieu de La continuité.” (Danielle Roulot)<br />

ma análise se dá durante<br />

Uum certo período de<br />

tempo, como um corte<br />

no continuum de uma<br />

vida. Cada sessão, por<br />

sua vez, pode ser considerada<br />

como uma<br />

escansão do tempo<br />

maior do tratamento analítico visto como<br />

um todo.<br />

Pensar questões relativas ao tempo e à<br />

psicanálise conjuntamente, somente pode<br />

ter sentido se essas questões estiverem de<br />

alguma forma a serviço da tentativa de se<br />

encontrar respostas sempre mais apropriadas<br />

a esta pergunta ainda mais fundamental<br />

: “Qual o tempo para que uma<br />

análise possa se mostrar efetiva, para que<br />

uma cura analítica possa se realizar?” Essas<br />

considerações, por sua vez, teriam<br />

seu desdobramento natural em outras,<br />

não menos significativas e importantes,<br />

como por exemplo: “Mas, afinal, de onde<br />

parte um tratamento analítico? Quais as<br />

fases pelas quais ele passa? O que seria<br />

uma cura analítica bem sucedida?”....<br />

Como se pode observar, já a primeira<br />

vista, tratar dessas questões todas<br />

extrapolaria o tempo (ah! O tempo...) que<br />

nos cabe aqui e nos afastaria do tema<br />

enunciado no título. Assim, partirei de<br />

algumas afirmações de Freud, de Lacan e<br />

de outros psicanalistas tomando-as como<br />

pressupostos, como a priori , tentando<br />

desta forma “cortar caminho” e<br />

gerenciar o tempo disponível.<br />

A lógica de Peirce por incluir tempo,<br />

transformação e movimento pode iluminar<br />

e fundamentar questões da psicanálise.<br />

Esta é a aposta deste trabalho. Conhecemos<br />

a afirmação de Freud segundo a<br />

qual o inconsciente não conhece o tempo.<br />

É “zeitlos”.(1) Conhecemos também<br />

sua famosa frase: WO ES WAR, SOLL<br />

ICH WERDEN (2), geralmente traduzida<br />

como “Lá onde o Isso era, deve o eu<br />

advir”. Diante dessas duas afirmações<br />

aparentemente antagônicas e inconciliáveis<br />

“como dar conta de estabelecer um<br />

nexo entre uma proposição que nos fala<br />

de algo a-temporal, o inconsciente e, de<br />

outro lado, uma outra proposição que,<br />

imperativamente, faz alusão de forma necessária<br />

à idéia de tempo?” Diante deste<br />

aparente impasse vejamos como pode se<br />

dar esta articulação com a lógica peirceana.<br />

Charles Peirce é um autor ainda hoje<br />

muito pouco conhecido comparativamente<br />

com outros lógicos. Sua vasta produção<br />

teórica, projetada para ser editada<br />

em mais de 30 volumes, tem apenas seis<br />

deles publicados por enquanto. O restante<br />

deve ser consultado em manuscritos<br />

de difícil acesso. Entretanto, o fato realmente<br />

surpreendente e que nos interessa<br />

de perto, é que Lacan, já nos anos 60 (3)<br />

entrou em contato com as ideias de Peirce,<br />

bebeu nesta fonte e deixou marcas suficientes<br />

em sua obra para que possamos<br />

ter a evidência da importância que ele<br />

soube reconhecer da lógica de Peirce<br />

para psicanálise.<br />

É importante destacar, com bastante<br />

ênfase, que quando se fala da lógica peirceana<br />

estamos sempre nos referindo a<br />

Heteridade 7<br />

Internacional dos Fóruns-Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano 158

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