O TEMPO NA DIREÃÃO DO TRATAMENTO
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ção; revelando a matriz simbólica em que<br />
o eu se precipita numa forma primordial<br />
antes de se objetivar na dialética da<br />
identificação com o outro e antes que a<br />
linguagem lhe restitua, no universal, sua<br />
função de sujeito. (Encontramos<br />
também em Freud “a identificação<br />
como a expressão mais primitiva de uma<br />
‘ligação sentimental’ (Gefühlsbindung) com<br />
uma outra pessoa” 163 .) Cerca de onze<br />
anos depois em Observação sobre o<br />
relatório de Daniel Lagache, de 1960,<br />
Lacan retoma o estádio do espelho e nos<br />
propõe uma reformulação do Esquema<br />
ótico de Bouasse para pensar a estrutura<br />
do eu ideal e do ideal de eu. Auxiliada<br />
por um professor de física, repetimos a<br />
experiência proposta por Lacan, e foi<br />
possível verificar que o espaço necessário<br />
para a criação da imagem virtual ficou<br />
elidido no Esquema proposto por Lacan.<br />
O esquema abaixo (Fig.1) é uma figura<br />
modificada do esquema proposto por<br />
Lacan. O espaço vazio deixado entre a<br />
flor e o aparador, é o espaço da “intuição<br />
sensível” kantiana para o vaso (ou o<br />
corpo), de modo que a imagem do vaso<br />
(ou do corpo) possa de fato ser formada<br />
virtualmente e vista pelo sujeito, por<br />
meio do “espelho falante” do (grande)<br />
outro<br />
Fig.1: Figura modificada do Esquema de Lacan.<br />
Lendo Lacan com Kant talvez possamos<br />
supor que o espaço é mesmo a priori<br />
a toda experiência do sujeito, ou seja,<br />
oriundo da “intuição sensível” caso contrário<br />
não seria possível Lacan cometer<br />
esse engano e mesmo assim afirmar cor-<br />
163<br />
Freud, S. Psicologia das massas e análise do eu. In:<br />
Edição Standard Brasileira das Obras completas<br />
psicológicas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago,<br />
1994. Vol. 18.<br />
retamente a experiência. Talvez, possamos<br />
aproximar os a priori kantiano do<br />
que Freud denominou uma suposição<br />
“necessária e legítima da existência do<br />
mental inconsciente”. (Ficou essa<br />
questão para outro momento.)<br />
Em O inconsciente 164 , de 1915, no capítulo<br />
“características especiais do sistema inconsciente”<br />
Freud resume: no Inconsciente<br />
há isenção de contradição mútua entre<br />
os representantes pulsionais,<br />
prevalece o processo primário<br />
(mobilidade dos investimentos), não há<br />
negação, nem dúvida, nem grau de<br />
certeza, os processos inconscientes são<br />
intemporais, isto é, não são ordenados<br />
temporalmente, não se alteram com a<br />
passagem do tempo; não têm<br />
absolutamente qualquer referência ao<br />
tempo; e há substituição da realidade externa<br />
pela psíquica.<br />
Com a ajuda do Aurélio – o outro mais<br />
popular do significante de nossa língua –<br />
encontramos tanto intemporal quanto<br />
atemporal. Atemporal quer dizer que<br />
independe do tempo, enquanto<br />
intemporal quer dizer “não temporal ou<br />
transitório; eterno, perene”; “não<br />
temporal ou profano; espiritual”.<br />
Intemporal grosso modo é o que deixa<br />
inscrição, vestígio, como assinala Freud<br />
no Bloco mágico; ou conforme formulou<br />
Lacan no Encore “não para de não se<br />
escrever”.<br />
O interessante nessa releitura do texto<br />
O inconsciente é a afirmação contundente<br />
de Freud: “há ordem do tempo” e esta é<br />
dada pela censura do sistema préconsciente;<br />
quando escapa provoca o<br />
riso! Ou seja, o acesso aos<br />
representantes pulsionais, ou<br />
significantes como exprime Lacan,<br />
passam por uma censura. É a esta<br />
censura que se dirige a regra fundamental<br />
da psicanálise da associação livre e as formações<br />
do inconsciente.<br />
Somente em Achados, ideias e problemas,<br />
de agosto de 1938, Freud se refere a<br />
Kant para abordar espaço e tempo na<br />
relação com do sujeito do inconsciente.<br />
164<br />
Freud, S. O inconsciente. In: Edição Standard<br />
Brasileira das Obras completas psicológicas de S.<br />
Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1994. Vol.14.<br />
Heteridade 7<br />
Internacional dos Fóruns-Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano 136