O TEMPO NA DIREÃÃO DO TRATAMENTO
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▪ O tempo na direção do tratamento<br />
O Tempo Lógico e a Duração da Sessão Analítica<br />
Delma Maria Fonseca Gonçalves<br />
Há uma diferença que<br />
gera tensão, uma separação<br />
cerrada entre o<br />
tempo do indivíduo na<br />
sociedade e o tempo do<br />
sujeito. O 1º muda com<br />
o tempo. Os agentes<br />
sociais estão sempre a dar coordenadas<br />
sobre como se submeter ao tempo. Existem<br />
diferenças fundamentais entre as sociedades<br />
primitivas e as modernas. Nas<br />
sociedades primitivas e rurais, o tempo<br />
tem uma construção cosmológica,<br />
inscrevendo-se nos ritmos da natureza,<br />
nos rituais que escandem as práticas<br />
sociais. Já nas sociedades modernas o<br />
tempo entra no registro da quantificação.<br />
Para o sistema capitalista no qual<br />
estamos inseridos time is money. É um<br />
operador fundamental dos processos<br />
sociais de produção e a rentabilidade da<br />
experiência do tempo se interpõe ao<br />
sujeito. Há uma diferença fundamental<br />
entre o tempo de todas as logias<br />
filosóficas – onto, teo, cosmo e também<br />
psicologia e o tempo do sujeito.<br />
Há uma diferença fundamental e que<br />
gera mal estar entre o manejo do tempo<br />
entre os lacanianos e o dos pós freudianos.<br />
Esses últimos imaginaram a noção<br />
de regressão temporal nos tratamentos,<br />
fundamentada sobre a ideia prévia de um<br />
desenvolvimento do sujeito, estabelecido<br />
por estádios, sucedendo-se no tempo,<br />
onde fica permitido juntar uma temporalidade<br />
de historicização e uma temporalidade<br />
de desenvolvimento. Essa noção<br />
sustenta uma prática ou um tratamento<br />
que deveria conduzir o analisando a passar<br />
de novo pelas opacidades ou fixações<br />
a supostos estádios em uma pretendida<br />
regressão real. E ainda, os psicanalistas<br />
da IPA, começando por Freud, que se<br />
valem de um tempo essencialmente<br />
simbólico, o tempo standart das sessões<br />
de 50 minutos, fazem também uma<br />
diferença fundamental com o tempo de<br />
sessão variável estabelecido pela nova<br />
concepção de inconsciente que nos trás a<br />
evolução da teoria lacaniana.<br />
Nessas afirmativas feitas acima, a sociedade,<br />
a psicologia, os pós-freudianos desconhecem<br />
o significante e seus efeitos, o<br />
sujeito dividido, o lugar do Outro, da<br />
particularidade do objeto na pulsão, no<br />
desejo e no gozo. Excluem também o<br />
que Lacan pôde formular a respeito da<br />
disjunção entre saber e verdade de onde<br />
procede o discurso analítico . A ciência<br />
esforçou-se, desde sempre, para inventar<br />
os aparelhos mais precisos que<br />
assegurassem a mensuralidade do tempo,<br />
mas para psicanálise a exatidão nada tem<br />
a ver com a verdade. Essa aponta a<br />
divisão do sujeito, com a concepção do<br />
inconsciente que vai além daquele<br />
estruturado como uma linguagem, vai<br />
tocar no inconsciente como hiância,<br />
fenda, furo.<br />
Sabemos que só o discurso do psicanalista<br />
feito de imprevisibilidade, escanções<br />
e ato, restaura o poder de tocar o inconsciente.<br />
Um tal despertar requer um outro<br />
manejo, inclusive do tempo, por trabalhar<br />
com uma concepção do inconsciente esvaziado<br />
de toda concepção de conteúdo.<br />
Como Lacan nos indica no seminário XI:<br />
ele é vazio, pura falha, ruptura e é o conceito<br />
de furo que subjaz a todos os efeitos<br />
e não o do UM. Ali onde buscava-se<br />
os traços equívocos ou apagados em<br />
tudo que faz retorno do recalcado, onde<br />
reinava o ciframento e deciframento que<br />
trabalham a favor do sentido, aqui<br />
acentua-se a estrutura de hiância. Em<br />
Radiofonia (1968),Lacan diz que o ics se<br />
revela ser um saber, mas um saber sem<br />
conhecimento- portanto se mostra como<br />
Heteridade 7<br />
Internacional dos Fóruns-Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano 131