O TEMPO NA DIREÃÃO DO TRATAMENTO
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eza que o conjunto de todas as partes –<br />
e, particularmente daquelas de um<br />
conjunto infinito – excede absolutamente<br />
o tamanho do conjunto original; tem um<br />
tamanho desmedido. Se, fruto desse<br />
teorema, não se pode garantir que tudo o<br />
que se inclui em um conjunto a ele<br />
pertença, tenta-se o inverso: o de tentar<br />
garantir, ao menos, que o que pertence<br />
seja incluído, e isso, transitivamente, de<br />
multiplicidade a multiplicidade,<br />
conforme a constituição múltipla<br />
disseminada das situações. Pode ocorrer,<br />
no entanto, que a uma situação pertença<br />
um conjunto cujos elementos não se<br />
apresentem e que, fugindo assim à<br />
condição de transitividade, tampouco se<br />
representem no estado da situação.<br />
Emma apresenta duas situações, que<br />
são múltiplos, ou seja, conjuntos, com<br />
seus componentes também múltiplos.<br />
Em ambas, alguns múltiplos em comum:<br />
roupas, riso, loja, vendedores, sexo. Na<br />
primeira, no entanto, um dos elementos<br />
da situação apresenta-se de maneira perfeitamente<br />
opaca, não deixando transparecer,<br />
quanto à sua composição, nenhum<br />
elemento particular. Diríamos, corriqueiramente,<br />
sem sentido: nada nele é<br />
inteligível. Essa característica, segundo o<br />
filósofo, daria a essa situação a<br />
propriedade de ser uma singularidade e,<br />
ao elemento considerado, a de ser algo<br />
que ele denomina de um sítio eventural<br />
(site événementielle). A característica básica<br />
de um elemento com essa propriedade é<br />
que ele tem o potencial de ser um evento<br />
(événement). No caso de Emma, não foi.<br />
Para que pudesse ter sido um, teria sido<br />
necessária uma decisão – um ato,<br />
diríamos – que caracterizasse o evento<br />
como evento, fazendo-o pertencer à<br />
situação. Mais: teria sido necessário que<br />
suas consequências tivessem sido<br />
fielmente acompanhadas em sua disseminação<br />
pelo estado da situação. Porém, a<br />
situação de um evento corresponde, segundo<br />
Badiou, por sua estrutura paradoxal,<br />
a um indecidível, fruto mesmo do indiscernível<br />
dos componentes de um sítio.<br />
A partir de Logique des mondes, diríamos<br />
possivelmente que a intensidade de<br />
aparição do inexistente próprio à<br />
situação não teria sido suficiente forte,<br />
relativamente, para que um evento<br />
encontrasse lugar, ou então, o que seria<br />
mais provável, que as condições daquilo<br />
que em que consistiria um corpo, capaz<br />
de tratar o evento, não estavam<br />
presentes.<br />
Segunda situação: e, num certo nível da<br />
disseminação múltipla, os mesmos elementos<br />
se apresentam, mas agora, o conjunto<br />
cujo traço característico é a sexualidade<br />
não é mais opaco – a menina já tem<br />
doze anos, afinal. Porém, não se pode dizer<br />
que esse conjunto apresente tampouco<br />
todos os seus elementos. Deriva-se da<br />
tese freudiana do traumatismo da sexualidade<br />
que algo sempre permanece opaco<br />
nessa conformação múltipla, o que quer<br />
dizer que sempre há alguma<br />
singularidade que pode se apresentar aí; e<br />
o potencial para um evento. Há que se<br />
considerar, portanto, que essa segunda<br />
situação também configuraria um sítio<br />
eventural, mas que, aí, a decisão de que<br />
um evento teria tido lugar foi tomada. O<br />
ponto chave é que, fruto de sua estrutura<br />
paradoxal, como um conjunto que<br />
pertence a si mesmo, um evento só pode<br />
ascender a essa mesma condição por<br />
efeito de uma intervenção cuja<br />
possibilidade lógica são as consequências<br />
de um outro evento. Dito de outra<br />
maneira, o evento é o que faz tempo.<br />
É o que se afiguraria com Emma, a<br />
menos da redução da distância<br />
cronológica, que faz com que o evento<br />
anterior, que habilita a decisão do<br />
posterior, passa à condição de evento no<br />
mesmo tempo lógico que esse. De uma<br />
certa maneira, são o mesmo evento. Do<br />
ponto de vista dos elementos múltiplos<br />
componentes, realmente o são: é fruto<br />
do axioma da extensionalidade da teoria<br />
dos conjuntos.<br />
Mas também, tomando as formulações<br />
de Logique des mondes, poderíamos supor<br />
que, mesmo a intensidade de aparição do<br />
inexistente que caracteriza o sítio tendo<br />
sido máxima, e, novamente, que não havendo<br />
condições de tratar o evento ou, o<br />
que é mais provável e de acordo com a<br />
tese de Freud, que a posição subjetiva em<br />
questão, e aí, de acordo com Badiou,<br />
Heteridade 7<br />
Internacional dos Fóruns-Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano 153