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O TEMPO NA DIREÇÃO DO TRATAMENTO

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uma concepção de lógica que ultrapassa,<br />

vai muito além, do enquadre da lógica<br />

formal ou da lógica clássica (4): com<br />

Peirce assumimos que a lógica é um<br />

outro nome da semiótica geral. Uma vez<br />

que todo pensamento somente se dá<br />

através de signos, sua lógica/semiótica é<br />

definida como “a quase necessária ou<br />

formal doutrina dos signos” (C.P. 2.227)<br />

(5), ou “a pura teoria dos signos em<br />

geral” (MS L 107), ou seja, é a tentativa<br />

de considerar toda experiência como um<br />

sistema estruturado de signos em<br />

interação uns com os outros. Essa teoria,<br />

por sua vez, se baseia nas categorias<br />

universais peirceanas: Primeiridade,<br />

Secundidade e Terceiridade que veem a<br />

ser uma combinação, com muitas<br />

nuances possíveis, do geral com o<br />

particular. Sem me deter na descrição<br />

dessas categorias, gostaria de enfatizar<br />

com Peirce que “O começo (de qualquer<br />

processo) é Primeiro, o término é<br />

Segundo e a mediação é Terceiro”<br />

(C.P.1.337) A Primeiridade e a<br />

Terceiridade são as categorias que nos<br />

falam de CONTINUIDADE. A<br />

Secundidade representa o CORTE, a<br />

(DES)continuidade. Assim, além do<br />

atual, essa lógica inclui o possível e o<br />

potencial.<br />

Lacan vai propor que a noção de<br />

“destituição subjetiva” pode ser<br />

considerada como a sua interpretação da<br />

frase de Freud WO ES WAR, SOLL<br />

ICH WERDEN. (6) Tomar esta<br />

afirmação como um pressuposto será<br />

aqui também um artifício para se abreviar<br />

caminhos naturalmente mais longos. A<br />

partir daí podemos dizer que o processo<br />

analítico que se dá no tempo vem a ser<br />

justamente este movimento para se<br />

chegar à “destituição subjetiva”,<br />

logicamente se pressupondo que no<br />

início haveria, então, um sujeito<br />

instituído (7). Se essa passagem se deu de<br />

fato ou não, isso é algo a ser verificado<br />

no Passe e deve ser desvinculado de um<br />

final de análise que implica sempre<br />

outras considerações. Estabeleçamos,<br />

portanto aqui uma equivalência entre a<br />

“destituição subjetiva” e a “destituição<br />

verificada no Passe”. Sem entrarmos na<br />

interessante questão de se fundamentar a<br />

diferença entre “destituição” e “des-ser”<br />

que esta, sim nos fala de uma finitude da<br />

análise, marquemos que a “destituição<br />

subjetiva” enquanto algo que tem a ver<br />

com o processo analítico é sempre uma<br />

destituição programada, diferentemente<br />

de outras destituições que acontecem<br />

fora da análise. Essa destituição<br />

programada só é possível se estiver<br />

presente a transferência, o analista<br />

colocado no lugar do suposto saber. Daí<br />

ser evidente a afirmação de Lacan que<br />

uma análise está vinculada à transferência<br />

e ao seu manejo no tempo.(8) É uma arte<br />

do analista saber colocar em prática essa<br />

programação da destituição subjetiva<br />

para que o analisante possa ir<br />

abandonando sua fixação ou ficção de<br />

gozo que o prende ao tempo do OU-<br />

TRO, assim, assumir-se como sujeito desejante.<br />

Em termos da lógica acima referida,<br />

essa mudança é factível porque existe<br />

como coluna dorsal comum tanto ao<br />

processo lógico como ao analítico: a idéia<br />

muito proeminente de que deve haver<br />

uma CONTINUIDADE. O sujeito desejante,<br />

contrariamente aquele paralisado<br />

pelo gozo, é um sujeito que pode deslizar<br />

pela cadeia metonímica. A lógica peirceana<br />

ilumina o “como” se dá essa continuidade.<br />

O que a torna possível são as noções<br />

de vagueza e de generalidade que a<br />

caracterizam. A vagueza, própria da Primeiridade,<br />

se explicita pelo fato de que<br />

há um tempo em que o princípio da contradição<br />

pode ser aqui derrogado: um<br />

momento caótico em que ser algo e não<br />

ser esse algo podem coexistir- o que nas<br />

lógicas clássicas e formais é inconcebível.<br />

Somente por esse meio é que as identificações<br />

podem ser trabalhadas numa análise,<br />

bem como as insígnias recebidas do<br />

Outro. A continuidade também encontra<br />

nesta lógica um outro ponto de apoio.<br />

Refiro-me agora à generalidade que Peirce<br />

diz ser a característica da categoria da<br />

Terceiridade. Haveria aqui um princípio<br />

geral, uma força viva, capaz de gerar<br />

atualizações através do tempo. É somente<br />

desta forma que no transcorrer de<br />

uma análise vão se presentificando<br />

porções esgarçadas de uma formação<br />

Heteridade 7<br />

Internacional dos Fóruns-Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano 159

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