O TEMPO NA DIREÃÃO DO TRATAMENTO
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▪ O tempo e estruturas clínicas<br />
Como se analisa “hoje” a perversão?<br />
Maria Lucia Araújo<br />
A<br />
ideia axial desse trabalho<br />
é partir de algumas considerações<br />
das noções de<br />
desejo e gozo para interrogar<br />
como nós, analistas,<br />
temos nos atualizado<br />
em relação à análise da<br />
estrutura perversa.<br />
Sabe-se que não há consenso entre os<br />
analistas a respeito da possível análise de<br />
um sujeito de estrutura perversa. Um aspecto<br />
preocupante, e que chama a atenção,<br />
é o fato de existir uma tendência,<br />
dentro do campo psicanalítico, de dizer<br />
que o perverso não demanda análise. Enfatiza-se:<br />
o sujeito perverso não tem<br />
questão...Os sujeitos, realmente perversos,<br />
ficam pouco tempo e interrompem o<br />
tratamento..., etc. Nesse sentido, ocorreunos<br />
pensar em que ponto estamos na<br />
pesquisa e tratamento desses sujeitos, a<br />
partir da descoberta freudiana e após os<br />
avanços lacanianos, pois sabemos desde<br />
Freud que perversidade não é perversão<br />
e que há traços perversos em todas as<br />
estruturas.<br />
Freud, quando apresenta o fetiche<br />
como paradigma da perversão, já faz uma<br />
distinção entre neurose, psicose e<br />
perversão. Jacques Lacan vai, então, a<br />
partir da dupla função do véu, que é a<br />
um só tempo o que esconde e o que designa,<br />
nos apresentar a estrutura de toda<br />
a perversão.<br />
Nesse sentido, chega a causar estranheza<br />
ouvir alguns analistas afirmarem que o<br />
dispositivo analítico não é adequado para<br />
os perversos. Todavia, consideramos a<br />
partir de nossa pesquisa teórico-clínica,<br />
que o perverso procura análise, estabelece<br />
transferência e há manejos a partir das<br />
quais o analista opera. Além disso, entendemos<br />
que é um dever pautado na ética<br />
atender tais sujeitos, pois o analista sabe<br />
que em tal dispositivo trabalha-se a partir<br />
da relação do sujeito ao significante e da<br />
posição do sujeito na fantasia, e não a<br />
partir da realidade. Assim, é a partir<br />
desses dois operadores que o analista<br />
poderá identificar as estratégias de desejo<br />
do sujeito e sua modalidade de gozo. O<br />
próprio Lacan nunca esteve de acordo<br />
com não analisabilidade do sujeito<br />
perverso e a prova disso é que muitas são<br />
as referências à perversão durante todo o<br />
percurso de sua obra, onde ele se<br />
empenhou em demonstrar a possível<br />
análise de tais sujeitos, sempre<br />
considerando que existem diferenças na<br />
direção do tratamento.<br />
Nogueira nos lembra que: “... a linguagem<br />
é condição do inconsciente...” e que<br />
“A relação simbólica que a linguagem<br />
constitui possibilita a investigação, e simultaneamente,<br />
a modificação do que<br />
está além da linguagem, mas que ela indica:<br />
a sexualidade humana enquanto uma<br />
economia de gozo, e não apenas o<br />
exercício das relações de reprodução ou a<br />
prática do prazer do sexo”. O autor diz,<br />
ainda, que “Lacan se preocupou em<br />
estabelecer a Lógica dessa economia<br />
propondo o que ele chamou de “lógica<br />
do significante”, estudando a realidade<br />
das fantasias inconscientes. Significante<br />
porque na investigação psicanalítica o<br />
que vai ser privilegiado, pela escuta do<br />
analista, decorrente da fala do analisante<br />
será a manifestação mesma da língua, do<br />
enunciado, enquanto indicador da<br />
subjetividade do falante e não a<br />
referência a realidade. E fantasia porque<br />
é ela que estabelece o ponto de partida<br />
dessa lógica que está articulando e<br />
orientando essa economia, sabendo que a<br />
fantasia é um significante construído a<br />
partir da indicação da associação livre.”<br />
No seminário A angustia, Lacan considera<br />
que se alguma coisa é reveladora<br />
pela experiência analítica, é que mesmo<br />
Heteridade 7<br />
Internacional dos Fóruns-Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano 228