O TEMPO NA DIREÃÃO DO TRATAMENTO
O TEMPO NA DIREÃÃO DO TRATAMENTO
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A formalização da sua pintura dá-se<br />
sempre através de uma. Mesma<br />
organização topológica de seus<br />
elementos ou planos, constitutivos da<br />
figura, em que entram em conexão (ou<br />
“contração”): a própria “figura”, a<br />
“grande superfície plana” e a “área<br />
redonda”. Trata-se sempre de uma<br />
figuração desfigurada pela variação e<br />
deformação destes planos topológico,<br />
sobretudo das cabeças e corpos, que<br />
tem como efeito a emergência de ressonâncias<br />
internas como ritmo e<br />
movimento e tempo. Nos quadros de<br />
Bacon, não se trata de passar do<br />
espacial ao temporal, mas de realizá-los<br />
a um só tempo.<br />
A destituição dos processos<br />
intelectuais visada por Bacon, porque<br />
necessária à criação, se dá pela<br />
valorização da sensação e também do<br />
acaso na criação: “Pode-se, - diz ele - de<br />
um jeito muito parecido com a pintura<br />
abstrata, fazer marcas involuntárias<br />
sobre a tela, que sugerem outros<br />
caminhos muito mais penetrantes para<br />
apreender o fato que você persegue”:<br />
Um dos quadros que pintei em<br />
1946, aquele que parece um<br />
açougue, surgiu diante de mim<br />
por acaso. Eu estava tentando<br />
fazer um pássaro pousando<br />
num campo [...] de repente as<br />
linhas que eu tinha desenhado<br />
sugeriram uma coisa muito<br />
diferente, e desta sugestão<br />
brotou o quadro. [...]<br />
Na pintura de Bacon, o que conta é a<br />
proximidade absoluta dos elementos,<br />
que faz com que possam se imantar,<br />
organizando um regime de forças<br />
sensíveis que possibilita que a figura<br />
passeie pelos vários planos. Bacon aceita<br />
o desafio de desfigurar a figura,<br />
principalmente cabeças e corpos, para,<br />
desfigurando-a, figurá-la de forma a<br />
romper com o que seria considerado<br />
como identidade do objeto pintado. A<br />
figura é distorcida, contorcida num<br />
movimento de vai e vem em que passa de<br />
uma ordem para outra, ou provoca a sua<br />
contração. Os corpos se alongam<br />
querendo fugir, ou se diluir, ou estão<br />
saindo de uma convulsão interna? A<br />
Grande área também se movimenta,<br />
numa fuga ou aproximação da figura.<br />
Seus múltiplos planos desterritorializam<br />
as figuras, desmaterializam os corpos, já<br />
que as sensações que promovem vêm de<br />
percepções que, porque nunca estão acabadas,<br />
sempre nos ultrapassam. Estes<br />
mesmos processos de imantação e ressonâncias<br />
mútuas ocorre nos trípticos.<br />
As imagens de Bacon são lugar de movimento,<br />
tempo, espaço de múltiplos devires<br />
que impedem estabilidades e identidades<br />
perceptivas.<br />
Em 64, Lacan ensaia representar topologicamente<br />
a relação tempo-espaço com<br />
a garrafa de Klein. Desde então se pergunta:<br />
“como definir aquilo que em um<br />
conjunto de dimensões faz de uma só vez<br />
superfície e tempo?” Em 1973, no. Sem.<br />
21, afirma: “O espaço implica o tempo e<br />
o tempo não é nada mais que uma sucessão<br />
de instantes de contração. O tempo é<br />
talvez a eternidade do espaço”. (Lição de<br />
11.12.1973).<br />
Heteridade 7<br />
Internacional dos Fóruns-Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano 244