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O TEMPO NA DIREÇÃO DO TRATAMENTO

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seu destino. Fraturando esse<br />

determinismo, que pelo fio condutor do<br />

trabalho analítico, reintroduz a contingência<br />

na história, no qual esta implicado<br />

o ato do analista, que pela equivocidade<br />

faz operar o corte entre S1 e S2. “A<br />

topologia do limite entre saber e verdade<br />

está formulada no algoritmo do sujeito<br />

suposto saber, ou seja, da transferência 255 .<br />

Sendo a única relação possível com a<br />

verdade é a da castração; podemos dizer<br />

que esse sujeito não é suposto saber a<br />

verdade, mas apenas que ele se sujeita a<br />

trabalhar a fim de “saber lidar” com a<br />

verdade. O saber constituído na análise<br />

faz supor que desde que colocado no<br />

lugar da verdade (S2), ele possa interpelar<br />

o sujeito para produzir um S1,<br />

”significante pelo qual o sujeito pode<br />

resolver sua relação com a verdade” 256 , e<br />

aqui se trata da verdade, tal como esse<br />

termo é em sua origem jurídica, que ao<br />

requerer do testemunho dizer a verdade,<br />

o que é buscado é poder julgar o que é<br />

do seu gozo. Assim o S1- produto do<br />

discurso analítico, significante fora do<br />

sentido, extraído da cadeia que remete ao<br />

gozo do encontro marcado com a falta.<br />

A repetição nesse tempo não é mais<br />

relacionada com a inércia do gozo<br />

fantasmático; ela é em sua estrutura<br />

lógica: que a repetição traça, conta e cifra<br />

o gozo, o que se perde dele. Essa<br />

cifragem, que é recolhida no tempo de<br />

conclusão de uma analise como S1<br />

através do qual ressoa o sentido do gozo<br />

que é fixado a esse mesmo elemento,<br />

assim podemos dizer que esse sentido<br />

nesse tempo, funciona mais como limite<br />

que um enigma a decifrar. Esta referência<br />

reabre a via pela qual iniciamos nossa<br />

reflexão sobre o manejo do fazer<br />

analítico: para aquele que inicia e conclui<br />

o percurso de uma análise, ele acaba por<br />

deparar que essa aventura não foi sem<br />

consequência. Buscava um saber suposto<br />

ao Outro, e a falha inerente ao saber é<br />

desvelado, possibilitando topar com o<br />

irreversível, enquanto ser-falante, ser<br />

dividido entre a intrusão do significante e<br />

do gozo. O sujeito que atravessa essa<br />

255<br />

LACAN, J. Radiofonia In: Outros Escritos.<br />

256<br />

LACAN, J. Seminário 20, p. 123<br />

experiência, o possibilita saber que, ao<br />

final, pode-se dizer que dos inumeráveis<br />

deciframentos já perpassados vão<br />

tecendo um texto de um sentido<br />

esvaziado da pretensão em captar<br />

significado. É nesta distância criada entre<br />

significante e significado que Lacan<br />

insere a função do escrito, pois é a<br />

dimensão do escrito que nos faz<br />

perceber que “o significado não tem<br />

nada a ver com os ouvidos, mas somente<br />

com a leitura do que se ouve de<br />

significante, o inconsciente é o que se<br />

lê 257 ”· Nesta referência ligada á escritura,<br />

o inconsciente é traduzido por Lacan,<br />

como Une-bévue: 258 - Um equívoco;<br />

realçando que o próprio do inconsciente<br />

é se manifestar na equivocidade da<br />

língua, e de precisá-lo como um modo<br />

de, de cifrar o gozo, na equivocidade do<br />

significante. Assim, podemos dizer que<br />

para tratar esse real posto na experiência<br />

analítica, faz-se necessário o ato do<br />

analista para fazer advir “o inconsciente é<br />

o conceito decorrente da instauração de<br />

um traço que se repete como diferença.<br />

Algo que se escreve no sujeito sem que<br />

se transcreva inteiramente na palavra, e<br />

nem é integralmente lido. No seminário<br />

Momento de Concluir 259 , Lacan retoma o<br />

conceito freudiano de pulsão de morte,<br />

para extrair que o trabalho analítico<br />

assenta-se num impossível de dizer e<br />

delimitar um novo estatuto do real: um<br />

real sem lei e avesso ao sentido.<br />

Encontro aqui, uma possibilidade de<br />

reler com Lacan, aquilo que Freud, já<br />

havia nos feito notar, que a orientação<br />

ética de uma análise, implica um ponto<br />

de assujeitamento do qual o sujeito não<br />

tem como desembaraçar-se, pois “o que<br />

um dia veio à vida, aferra-se tenazmente<br />

à existência 260 ”.<br />

257<br />

LACAN, J. Seminário 20. A função do escrito.<br />

Cap. 3.<br />

258<br />

LACAN, J. Seminário L'insu..., conferência,<br />

06/11/76, inédito.<br />

259<br />

LACAN, J. O momento de concluir...<br />

260<br />

FREUD, S. Problema econômico do<br />

masoquismo.<br />

Heteridade 7<br />

Internacional dos Fóruns-Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano 182

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