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O TEMPO NA DIREÇÃO DO TRATAMENTO

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interna ao próprio ethos e refere o<br />

conflito ao campo do saber; conflito<br />

entre o saber constituído e o saber como<br />

razão, potência criativa. Assim tal<br />

alteridade se manifesta tanto na relação<br />

direta dos cidadãos na Polis, como<br />

também na relação do cidadão ao saber.<br />

A questão do tempo se insere como um<br />

outro vértice pelo qual podemos<br />

relacionar a psicanálise e a praxis, mas<br />

que acaba por incluir esses outros<br />

campos, como veremos.<br />

O tempo, tal como indicamos, em se<br />

inscrevendo duplamente no ato da praxis,<br />

sugere proximidades ao tempo do sujeito<br />

tal como a psicanálise o concebe. O<br />

ato na praxis, como vimos, é um ato que<br />

é o seu próprio agente. Não é a<br />

apresentação de uma faceta ou a<br />

representação de um papel, mas sim, no<br />

ato está o próprio agente que é também<br />

o produto do mesmo ato. Assim, o que<br />

marca o ato como ethos é a instauração<br />

de um sujeito, pelo menos, até aqui,<br />

sujeito da ação. Mas também vimos<br />

como esse ato não está dado ao infinito<br />

de possibilidades abstratas, sendo, antes,<br />

suposto a uma alteridade que lhe<br />

convoca a um tempo de repetição, mas<br />

que se apresenta, igualmente, como a<br />

única possibilidade de inscrição de um<br />

tempo novo. Então, podemos ver como<br />

o ato é o instante mesmo em que o<br />

sujeito surge como submetido às<br />

coordenadas outras e como lugar da<br />

criação. Porém o ato é o sujeito. Portanto<br />

ele, o sujeito, é o instante, a suposição e é<br />

o lugar da criação. Daí podemos<br />

depreender a estrutura do sujeito em seu<br />

tempo.<br />

Nessa mesma direção, vemos esses<br />

tempos se colocarem na transferência.<br />

Porque esses tempos do sujeito não nos<br />

são dados senão pela realidade do<br />

inconsciente posta em ato, uma das<br />

definições de transferência dadas por<br />

Lacan. No dispositivo analítico, é na<br />

transferência como atualização da<br />

realidade inconsciente que a queixa, o<br />

sintoma, o acting-out e o delírio se desdobram<br />

em repetições que são, de fato,<br />

atualizações das relações que o sujeito<br />

criou com o Outro. Vemos assim, em um<br />

primeiro plano, como é na transferência<br />

que os tempos de criação e repetição da<br />

relação entre sujeito e Outro se inscrevem.<br />

Porém, salientemos por enquanto,<br />

que essa repetição, como nos adverte<br />

Lacan, é da ordem de autômaton e não de<br />

tiquê como veremos depois.<br />

Seguindo nosso caminho, devemos<br />

agora abordar a questão do tempo a partir<br />

da praxis no que toca não apenas o<br />

sujeito e a transferência, mas o tempo<br />

desses tempos na experiência analítica.<br />

Porque o sujeito na transferência estar<br />

entre criação e repetição é condição de<br />

possibilidade, mas não condição suficiente<br />

para que sua análise se inicie. A entrada<br />

em análise tem a marca de sua direção<br />

e se estabelece por um tempo e por<br />

um ato. A isso Lacan nomeou retificação<br />

subjetiva, mas podemos também situar<br />

este ponto no primeiro tempo dos<br />

tempos lógicos, o “instante de ver”. Aqui<br />

se fortalece a aproximação com a praxis<br />

no sentido da finalidade do campo da<br />

ética e da política entre os gregos. O fato<br />

da psicanálise não compartilhar da<br />

mesma direção não a posiciona necessariamente<br />

fora do campo da ética e<br />

da política.<br />

Em primeiro lugar, a direção é dada no<br />

sentido de que se transforme a transferência<br />

imaginária posta na figura do<br />

analista em transferência ao saber. O sujeito<br />

suposto saber. Essa é uma operação<br />

que será feita pelo sujeito, mas no<br />

dispositivo. Aqui é um outro ato se que<br />

coloca como paradigmático: o ato falho.<br />

Pois a posição subjetiva no ato falho está<br />

colocada na determinação de sua relação<br />

com o Outro. Porém, não basta surgir o<br />

ato falho, mas que seja possível que o<br />

sujeito se veja neste tipo de posição em<br />

que é o Outro quem nele fala. É essa<br />

posição retificada por esse “ver” que<br />

pode abrir à Outra cena como nos<br />

apontava Freud. Essa é a primeira escansão,<br />

um corte como criação, mas que redunda<br />

na repetição do automatismo significante<br />

do segundo tempo da análise, o<br />

tempo de compreender.<br />

Todavia, para seguirmos, e finalizarmos,<br />

torna-se necessária a introdução de<br />

um elemento novo. Esse elemento, ve-<br />

Heteridade 7<br />

Internacional dos Fóruns-Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano 112

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