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O TEMPO NA DIREÇÃO DO TRATAMENTO

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go de diversas vezes. [e] que é registrada<br />

por vários tipos de indicações. ( Freud,<br />

1900: 209)<br />

Considero importante registrar, pois<br />

nos leva à concepção de tempo já aí implícita,<br />

que desde o “Projeto”, Freud já<br />

nos remete à consideração de que<br />

quando se trata da memória<br />

inconsciente, a repetição, implicada na<br />

reprodução ou na transncrição, é lugar da<br />

diferença, e não da mimésis ou da cópia.<br />

Estão, portanto, em jogo, segundo<br />

Freud, relações que não remetem a um<br />

original, mas, como explica Derrida, à<br />

diferença invisível e indiscernível entre os<br />

trilhamento (1973).<br />

Identidade, presença, tempo e espaço,<br />

como constructos da filosofia clássica,<br />

sempre estiveram sob suspeita para<br />

Freud..A ideia de repetição em Freud<br />

não diz respeito nem à qualidade, nem à<br />

quantidade, mas à grandeza, à<br />

magnitude , à força, noções que não são<br />

explicativas, mas, ajudam em sua descrição.<br />

É uma grandeza que varia em um<br />

espaço - tempo;<br />

Em arte não se trataria de reproduzir<br />

ou inventar formas, mas de captar<br />

forças. Bacon é pintor da força, da<br />

intensidade, do movimento e também<br />

do tempo. Em sua obra há um<br />

predomínio da força sobre a forma. Ele<br />

topologisa a força do tempo no espaço<br />

em branco da tela. Mas, de onde partir<br />

para se chegar a estas conclusões?<br />

Antes de mais nada, de uma concepção<br />

estética que reconheça na obra de arte<br />

uma realidade ontológica, isto é, reconheça<br />

que nela existem elementos<br />

numa tensão interna capaz de provocar<br />

sensações. Sensações advindas e que<br />

devem ser examinadas na própria obra,<br />

e não na mente do artista ou do fruidor.<br />

O esforço de Bacon é de subjetivação e<br />

formalização na pintura do que lhe atiça<br />

os sentidos. ´Em linguagem da<br />

psicanálise, diríamos que quer destituir<br />

as determinações narcísicas e as<br />

repetições fantasmáticas naquilo que<br />

podem representar de limitação à<br />

criação. Um exemplo disto são as várias<br />

telas em que, sucessivamente, representa<br />

o Grito buscando fazê-lo<br />

“como jamais alguém o teria feito”. E<br />

afirma que o seu intuito nunca foi pintar<br />

o horror, que supostamente originaria o<br />

Grito, mas, o próprio Grito, de modo a<br />

tornar audível o inaudível.<br />

Este é o fio que liga o seu trabalho ao<br />

de Cézanne e Paul Klee que também consideravam<br />

que a música e a pintura deveriam<br />

tornar visíveis forças invisíveis, sonoras<br />

forças não sonoras. Como pintar<br />

ou fazer ouvir o tempo que é insonoro e<br />

invisível? Referindo-se a Van Gogh, Bacon<br />

afirma que seus quadros não mostram<br />

girassóis, mas, sensações advindas<br />

da força invisível de sua germinação. Em<br />

seu belo livro sobre Bacon, “A lógica das<br />

sensações” Deleuze comenta que<br />

pintar para Bacon é como equilibrar-se<br />

em uma corda tensionada<br />

entre aquilo que se costuma<br />

chamar de pintura figurativa e<br />

aquilo que é abstração, mas, na<br />

verdade, nada tem a ver com ela.<br />

É uma tentativa de fazer como<br />

que a coisa figurativa atinja o sistema<br />

nervoso de uma maneira<br />

mais violenta e penetrante.<br />

(2007:.12)<br />

Para Bacon, a tela nunca está em branco,<br />

mas, preenchida por clichês, de que é<br />

necessário se livrar. E só haveriam dois<br />

caminhos para isto: a pintura abstrata, ou,<br />

na via aberta por Cézanne, a pintura da<br />

sensação. Nas entrevistas a Sylvester, expressou<br />

a inusitada opinião de que a pintura<br />

abstrata ainda lhe parecia insuficiente<br />

para desempenhar a tarefa. E pergunta:<br />

Não haveria outra via mais direta e sensível<br />

para isto?<br />

A via da sensação, afirma. Para ele, a<br />

sensação dirige-se à carne, ao corpo, e<br />

menos ao intelecto. Na sensação, a distinção<br />

sujeito–objeto é confusa, não só no<br />

corpo do sujeito que sente, mas também<br />

na coisa sentida. Ao falar de seus<br />

esforços para a consecução desta tarefa,<br />

Bacon se refere a “ordens de sensações”,<br />

“níveis sensitivos”, “domínios sensíveis”,<br />

“sequencias moventes”. Um quadro seria<br />

uma “sequencia movente” d sensações<br />

que são ou estão em diversos níveis.<br />

Heteridade 7<br />

Internacional dos Fóruns-Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano 243

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