O TEMPO NA DIREÃÃO DO TRATAMENTO
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vazio e, do outro, é o que se inscreve na<br />
série dos significantes.<br />
Para Lacan, a lógica do número introduz<br />
o contável. No que concerne ao limite<br />
do contável, articulado ao limite da linguagem,<br />
Frege trata o «número independentemente<br />
do ato de contar». O número<br />
pode ser considerado como uma sequencia<br />
serial e como o limite de uma função.<br />
Ora, o próprio Frege era um lógico da<br />
linguagem e, como tal, era sensível a esse<br />
ponto de limite contido pelo universo<br />
simbólico, o universo da linguagem. Com<br />
Lacan, esse limite da linguagem é o<br />
ponto de obstáculo que indica o real.<br />
Frege toma o conceito de conjunto vazio<br />
cuja atribuição de número é o zero a<br />
partir do qual a proliferação dos números<br />
se multiplica sem limite, manifestando<br />
sob forma serial uma infinitude. O que<br />
permite o vínculo entre o sujeito e o<br />
complemento de objeto é «a instauração<br />
do sentido». Assim, como demonstra<br />
Frege, «o número 2 cai sob o conceito<br />
número primeiro»; é preciso o<br />
encadeamento das palavras cai sob para<br />
que uma frase possa denotar uma relação<br />
e ter um sentido, ao passo que as palavras<br />
à relação de subsunção de um objeto sob<br />
um conceito, longe de designarem uma<br />
relação, designam bem mais um objeto,<br />
contanto que esse objeto tenha valor de<br />
verdade. Em outras palavras, de acordo<br />
com essa lógica, o objeto existe se a<br />
denotação do signo (ou de um conceito)<br />
que exprime um sentido tiver valor de<br />
«verdade verdadeira», e o objeto não<br />
existe se a denotação do signo tiver valor<br />
de «verdade falsa». Em outras palavras,<br />
existe em Frege a passagem do conceito<br />
como signo à existência do objeto; essa<br />
passagem sofre o processo da subsunção.<br />
Assim, não se trata mais de relação, mas<br />
bem mais do objeto, de sua existência<br />
que cai sob um conceito. Em suma, «um<br />
objeto cai sob o conceito se for bem um<br />
caso de verdade», em outras palavras se<br />
«o objeto validar o conceito.<br />
Tudo (...) se origina do valor de<br />
verdade dos enunciados, que é a<br />
denotação deles, o verdadeiro ou o falso»<br />
. Se em Frege encontramos a dualidade<br />
verdadeiro/falso referente ao valor do<br />
objeto, na psicanálise, por outro lado,<br />
encontramos apenas um único objeto,<br />
aquele que de imediato está perdido, que<br />
deixa um lugar vazio: um objeto que cai<br />
sob o falso-ser do sujeito e que será<br />
construído em sua diacronia. Com efeito,<br />
não é do valor de verdade que se trata,<br />
mas bem mais da verdade criada de uma<br />
causa doravante perdida, de uma verdade<br />
que cai sob o falso-ser. É pelo fato de<br />
causar um objeto que o desejo vai<br />
afigurar-se onde ele tinha no início uma<br />
foice* do tempo, uma falha e ao mesmo<br />
tempo é preciso tempo: «Assim é que o<br />
inconsciente articula-se daquilo que do<br />
ser vem ao dizer» . É, com efeito, sobre<br />
essa perspectiva e estrutura fundamental<br />
que a fala do sujeito desliza e conta sua<br />
singular história, apesar dos caminhos<br />
turbulentos, a despeito de todos os<br />
desvios e contornos atravessados pelos<br />
acontecimentos do sujeito, esse sujeito<br />
do inconsciente, como leitor de nada<br />
menos que sua própria história do<br />
inconsciente. Trata-se de ler os efeitos de<br />
um dizer: «Na psicanálise, a história é<br />
outra dimensão que a do<br />
desenvolvimento, a história só prossegue<br />
em contratempo do desenvolvimento» .<br />
É preciso tempo para parir o ser.<br />
Como mostra Lacan em seu Seminário<br />
XIX — Ou pior — O saber do psicanalista:<br />
o Um, o S1 e o zero fazem apenas<br />
um Esse S1 que é o significante da<br />
inexistência é igualmente aquele que<br />
funda a cadeia significante; é a unicidade<br />
que permite a seqüência das unidades, a<br />
unicidade como traço único. Mas foi<br />
preciso seu precedente, o zero; o um só<br />
existe a partir do «fundo de inexistência».<br />
Esse traço, embora estando excluído de<br />
uma série a vir, concerne ao sujeito a<br />
advir. A esse traço único, a esse Einziger<br />
Zug, não se pode atribuir o estatuto de<br />
significante, como diz Lacan no<br />
Seminário VIII — A Transferência, mas<br />
bem antes o de signo, signo como<br />
função da unidade, de uma referência, de<br />
uma baliza que indiquem ao mesmo<br />
tempo uma presença, um desejo, o<br />
desejo do Outro. «O Um como tal é o<br />
Outro, (...) profunda e enigmática estrutura<br />
do Um como diferença (...) de<br />
Heteridade 7<br />
Internacional dos Fóruns-Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano 169