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O TEMPO NA DIREÇÃO DO TRATAMENTO

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▪ O tempo na direção do tratamento<br />

O inessencial do sujeito suposto saber<br />

Sílvia Fontes Franco<br />

“Nesse des-ser revela-se o inessencial do sujeito suposto<br />

saber, donde o futuro psicanalista entrega-se ao<br />

agalma da essência do desejo, disposto apagar por ele<br />

em se reduzindo, ele e seu nome, ao significante qualquer<br />

143 ”.<br />

título deste trabalho foi<br />

Otomado de uma passagem<br />

do texto de Jacques<br />

Lacan, a “Proposição de<br />

9 de outubro de 1967<br />

sobre o analista da<br />

Escola” 144 . Lacan dirá<br />

“que foi com o objetivo<br />

de isolar o que é do discurso analítico<br />

que fez a Proposição”. 145 Ao longo do<br />

seu ensino é possível destacar vários<br />

pontos precisos desse empenho de<br />

Lacan em manter vivo o discurso<br />

analítico, sua “lâmina cortante”.<br />

Na “Proposição” Lacan estabelece um<br />

corte, uma ruptura em relação a tudo o<br />

que havia sido estabelecido até então<br />

para a formação do analista e para a direção<br />

do tratamento. O inédito, o subversivo<br />

nesse escrito é colocar em continuidade<br />

a Psicanálise em intensão e a Psicanálise<br />

em extensão e é em torno da<br />

formalização do final de análise que essa<br />

articulação é possível.<br />

Neste texto de 1967, que completou<br />

quarenta anos, Lacan coloca na berlinda,<br />

mais uma vez, a análise dos analistas. No<br />

final de seu ensino, expressou, mais uma<br />

vez, que esperava que o dispositivo do<br />

passe dissesse alguma coisa sobre o que<br />

ocorre no final de uma análise: “como é<br />

que pode passar pela cabeça deles – é aí que eu<br />

143<br />

LACAN, J. “Proposição de 9 de outubro de<br />

1967”, p 259. In: Outros Escritos.<br />

144<br />

LACAN, J. “Proposição de 9 de outubro de<br />

1967”. In: Outros Escritos.<br />

145<br />

LACAN, J. “Sobre a experiência do Passe<br />

(1973)”. In: Documentos para uma escola. Revista<br />

Letra Freudiana. Ano XIV, n.0 p. 54-59.<br />

situo a questão – a ideia de se autorizarem a<br />

ser analistas 146 ”.<br />

Como é possível manter vivo o discurso<br />

analítico, sem colocar em questão a<br />

análise dos analistas? Como é possível alguém<br />

ocupar um lugar quando ainda está<br />

embaraçado em seu gozo fantasmático?<br />

Há uma articulação lógica e indissociável<br />

entre o início e o final de análise, entre a<br />

posição do analista e a direção do tratamento.<br />

O que sustenta essa articulação<br />

lógica é a transferência e seu manejo suportada<br />

pelo desejo do analista (um lugar,<br />

uma função, um x), possível resultado<br />

de uma análise levada até o fim, a partir<br />

da passagem de analisante a analista.<br />

No seminário “O avesso da psicanálise 147 ”,<br />

às voltas com a transferência, Lacan pergunta<br />

novamente o que define um analista?,<br />

e mais a frente, o que se espera de<br />

um psicanalista?E responde: “análise, eis<br />

o que se espera de um psicanalista”.<br />

Na “Proposição”, Lacan indica “os pontos<br />

de junção onde devem funcionar nossos órgãos de<br />

garantia 148 ”, e articula o começo e o fim<br />

da psicanálise. E é a partir da teorização<br />

do final de análise e do ato psicanalítico -<br />

ato em que o analisante se torna analista<br />

- que ele propõe o dispositivo do passe<br />

“onde o ato poderia ser apreendido no momento<br />

em que se produz 149 ”. Dispositivo inédito, o<br />

passe, desde o início, teve consequências<br />

na comunidade analítica, provocando ondas<br />

ao subverter a formação do analista<br />

146<br />

LACAN, J. “Jornadas sobre a experiência do<br />

Passe(1978)”. In: Documentos para uma escola.<br />

Revista Letra Freudiana. Ano XIV, n.0 p. 63.<br />

147<br />

LACAN, J. O seminário, livro 17: O avesso da<br />

psicanálise, p. 50, Rio de Janeiro: Jorge Zahar,<br />

1991<br />

148<br />

LACAN, Jacques. “Proposição de 9 de<br />

outubro de 1967”, p 252. In: Outros Escritos.<br />

149<br />

LACAN, J. “Discurso na Escola Freudiana de<br />

Paris (1967)”, p. 271. In: Outros Escritos. Rio,<br />

Zahar, 2003.<br />

Heteridade 7<br />

Internacional dos Fóruns-Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano 124

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