O TEMPO NA DIREÃÃO DO TRATAMENTO
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intervalo de tempo 293 . Quanto maior o<br />
número de informações num tempo dado, maior<br />
o grau de eficiência. Isto dá à noção de<br />
brevidade um valor imperativo cujo adágio<br />
mais conhecido é o time is money.<br />
Uma fórmula como essa nós podemos<br />
encontrar em diversos campos da cultura<br />
que vão da propaganda e do videoclipe à<br />
tecnologia de ensino e às relações interpessoais<br />
(que devem ser intensas enquanto<br />
duram, graças ao desígnio moral predominante<br />
de que a qualidade da presença é muito<br />
mais significativa do que a quantidade<br />
da presença: é assim que se fazem os pais<br />
eficientes, os parceiros eficientes, os amigos<br />
eficientes e os trabalhadores por produção).<br />
Não seria de se estranhar que essa fórmula<br />
se fizesse presente também nas psicoterapias<br />
294 .<br />
Pois bem, quando num tratamento a<br />
pressa é retirada de sua função lógica para<br />
responder por sua função social imperativa<br />
(como brevidade), as justificativas da<br />
manutenção dessas opções clínicas não<br />
conseguem se distanciar dessa mesma<br />
fórmula.<br />
Invariavelmente, critérios objetivos ou<br />
objetiváveis acabam sendo chamados a<br />
responder em nome da eficiência. Neste<br />
caso, maior é o grau de eficiência de um<br />
tratamento quanto maior o número de<br />
benefícios alcançados num mesmo espaço<br />
de tempo.<br />
Parecem-nos inevitáveis, então, quatro<br />
consequências para essas clínicas 295 : 1) o<br />
tempo como denominador comum e<br />
com função imperativa nesta proporção<br />
benefícios/duração; 2) o princípio pragmático<br />
e relativista da eficiência como a<br />
“verdade possível” sustentada por essa<br />
proporção; 3) é entre a brevidade (como<br />
293<br />
No. informações processadas<br />
Eficiência = ________________________<br />
tempo<br />
294<br />
Valeria a pena interrogar e investigar as<br />
associações que podem ser feitas entre o caráter<br />
especular e cibernético próprio desses<br />
dispositivos de dominação e as mais diversas<br />
correntes que postulam uma sociedade narcísica.<br />
295<br />
Aplicando os termos ao discurso do mestre,<br />
temos:<br />
Brevidade Pragmatismo<br />
________ __________ = lógica utilitarista do<br />
consumo<br />
Eficiência // Benefícios mensuráveis<br />
significante-mestre) e o pragmatismo<br />
(como um “saber-fazer” técnico) que tais<br />
clínicas acabam, em geral, por<br />
representar sua eficiência; e 4) é na<br />
produção de benefícios mensuráveis que<br />
encontram sua justificativa. Estas são as<br />
condições nas quais situamos todos os<br />
esforços de formalização presentes no<br />
campo das psicoterapias. Basta ir aos<br />
textos de psicoterapias breves que a<br />
fórmula e a lista de benefícios, muitas<br />
vezes mensuráveis, estão lá, como<br />
argumentos lógicos de sua eficiência e<br />
fundamento “teórico” do marketing de sua<br />
prática. Estes textos funcionam como<br />
bulas, descrevendo as composições de suas<br />
técnicas, suas indicações e contra-indicações,<br />
precauções e advertências, posologia e resultados<br />
esperados; comparam-se entre si por meio<br />
dos resultados que obtiveram com um<br />
número significativo de pacientes com<br />
determinados transtornos; oferecem-se<br />
como modernização em relação a<br />
técnicas ultrapassadas e última novidade<br />
no tratamento de distúrbios específicos;<br />
são panacéias com benefícios medidos<br />
em função do tempo, mais do que em<br />
razão dos sintomas.<br />
Quanto à discussão dos benefícios, na<br />
condição que adquirem de critérios objetivos<br />
ou objetiváveis, precisamos voltar à<br />
Freud. Na parte III do Análise terminável e<br />
interminável (ou finita e infinita), Freud<br />
(1937/1988) discute a relação econômica<br />
entre força das pulsões e força do eu,<br />
apontando o fator quantitativo na etiologia<br />
da neurose. Este é um ponto muito<br />
citado em textos de psicoterapia breve,<br />
posto que, se a força do eu diminui, a<br />
força das pulsões têm suas exigências aumentadas,<br />
decorrendo daí a importância<br />
dos fatores cotidianos e objetivos na<br />
etiologia das neuroses ou crises e a<br />
orientação clínica em direção ao eu. Mas<br />
observemos o que escreve o próprio<br />
Freud (1937/1988):<br />
Temos aqui uma justificação do<br />
direito à importância etiológica de<br />
fatores não específicos, tais como<br />
o trabalho excessivo, o choque etc.<br />
Esses fatores sempre gozaram de<br />
reconhecimento geral, mas foram<br />
relegados para o segundo plano<br />
Heteridade 7<br />
Internacional dos Fóruns-Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano 276