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O TEMPO NA DIREÇÃO DO TRATAMENTO

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abrigo de seu desejo, na medida em que<br />

desejar uma mulher poderia implicar em<br />

“ser feito de corno-idiota, como seu<br />

pai”. Uma interpretação do inconsciente<br />

via um sonho indica um significante para<br />

a identificação procurada, seu avô lhe<br />

diz: “Meu filho, esse lugar é seu, em<br />

referencia ao lugar que ele, o avô,<br />

sentava à mesa, e complementa, o lugar<br />

do homem da casa”.Ao fazer aniversário<br />

B enuncia: fiquei triste porque estou<br />

mais velho, não temo mais a morte, mas<br />

me entristece o fato do tempo passar tão<br />

rápido e só termos uma vida para viver.<br />

Caso C – Menino 16 anos, muda de<br />

escola e não consegue mais ser<br />

engraçado e portanto popular. Não<br />

encontra mais as palavras, não se encaixa<br />

mais na imagem que tinha de si, outros<br />

passam a ocupar seu lugar, não suporta<br />

o olhar do outro porque o interpreta<br />

como: “você é um merda”. Como<br />

consequência dessa inibição advém o<br />

afastamento da escola, porque como o<br />

próprio C repete infinitamente, seu<br />

problema incide na relação com o outro,<br />

esse outro que encontra na escola. O<br />

abalo das identificações imaginárias<br />

deixa C diante do vazio levando o sujeito<br />

a se interrogar sobre seu ser, Quem sou<br />

eu, sou um merda? Sou nada? Sou um<br />

louco? Gostaria de voltar a ser quem eu<br />

era... E ainda, porque justo no momento<br />

em que eu deveria ter me afirmado<br />

como homem, parei, deixei o tempo<br />

passar e agora não sei como voltar. C<br />

ainda está a deriva, a procura de uma “<br />

identificação que se cristalize numa identidade”,<br />

seu tempo de compreender<br />

ainda não levou o sujeito a dar os giros<br />

necessários para concluir, afirmar algo<br />

sobre seu ser.<br />

Podemos dizer através dos ensinamentos<br />

de Freud e Lacan que o grande<br />

embaraço da adolescência, se caracteriza<br />

por um novo encontro com o real, com<br />

a inconsistência do Outro, com a<br />

castração. Um encontro com o real pode<br />

vir a produzir um abalo simbólico,<br />

exigindo do sujeito um trabalho mental<br />

no sentido de um rearranjo deste na<br />

estrutura.<br />

Na adolescência, o real irrompe de<br />

forma particular. Aquele sujeito, que<br />

havia renunciado à atividade sexual, num<br />

tempo de compreender que é a latência,<br />

é despertado desse sono, com a<br />

sexualidade fazendo barulho e buraco à<br />

sua porta. Como consequência desse<br />

acordar advém o apelo ao encontro de<br />

um parceiro, colocando o sujeito de<br />

forma inédita, frente ao enigma que<br />

representa A Mulher, obrigando o<br />

adolescente a se recolocar em relação à<br />

diferença entre os sexos, à assunção de<br />

seu próprio sexo e, sobretudo, em<br />

relação ao seu desejo. Desejo esse, que<br />

inclui a possibilidade de gozar do corpo<br />

do parceiro, tempo particularmente<br />

fecundo que impõe o ato de escolher.<br />

Em A temporalidade do sujeito, Fingermann,<br />

precisa que:<br />

“A identificação do sujeito é um<br />

momento inaugural, “passagem<br />

ao ato” do sujeito, momento de<br />

concluir a sua “insondável<br />

decisão do ser”: decisãoconclusão-separaçãoidentificação.<br />

“Decisão do ser insondável” que<br />

podemos, no entanto sondar como<br />

acontecimento singular do sujeito, a<br />

partir das três modalidades de<br />

identificação que Freud descreve, e que<br />

remetemos aos três tempos lógicos que<br />

produzem o sujeito até o seu momento<br />

de concluir inaugural.<br />

Estas três escansões do tempo lógico,<br />

que produzem o sujeito a partir de um<br />

corte, de uma ruptura de sua superfície,<br />

implicam uma topologia peculiar. Três<br />

tempos, dois movimentos, uma topologia.<br />

Esta estrutura topológica conclui,<br />

posiciona, localiza o sujeito em torno da<br />

sua “extimidade”, ou seja, da articulação<br />

topológica de seu furo “interno”, com o<br />

furo do Outro”.<br />

Podemos pensar que essa passagem da<br />

infância a vida adulta que não se dá sem<br />

que o sujeito articule sua divisão, com o<br />

furo do Outro, exige uma atualização<br />

das operações de decisão, conclusão,<br />

separação e identificação, uma<br />

Heteridade 7<br />

Internacional dos Fóruns-Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano 198

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