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IMPA 50 Anos

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E vim embora. Quando cheguei, já tinha havido na Universidade de Brasília um primeiro expurgo dosprofessores considerados mais perigosos.Zeferino Vaz era egresso de Ribeirão Preto, em São Paulo, não é?Isso mesmo, foi quem criou a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto; depois que saiu de Brasíliacriou a Unicamp. Na época ele teve a ilusão de que em Brasília teria carta branca para fazer umagrande universidade, porque era apoiado por Ademar de Barros, governador de São Paulo que apoiaraa Revolução. Mas a coisa não foi bem assim, porque o próprio Ademar já estava sendo “fritado” pelosmilitares. Quanto à UnB, a verdade era: “Pode fazer o que quiser, desde que reze por nossa cartilha.”Ora, um professor, pesquisador de alto nível, não reza por cartilha militar de jeito nenhum. Mas naqueletelefonema ele me conquistou.O senhor veio apenas como professor?O coordenador oficial do Instituto de Matemática da UnB era Leopoldo Nachbin, que não ia lá. Eufiquei como coordenador em exercício; na prática, eu era o coordenador do Instituto de Matemática daUniversidade de Brasília. Fiquei lá um ano e meio mais ou menos. Até o fim do primeiro ano, as coisasestavam relativamente calmas, e pudemos fazer alguns trabalhos, algumas pesquisas, dar cursos. LeveiManfredo do Carmo, trouxe César Camacho, que viera do Peru muito jovem, para estudar comigo. Emmeados de 65 vimos que não ia dar certo, e todo mundo pediu demissão, coletivamente. Há um livroescrito pelo Salmerón, que conta em detalhes toda a história dessa crise, chama-se UnB, a universidadeinterrompida. Até escrevi uma resenha sobre ele, que saiu publicada na revista Ciência Hoje.Qual foi o estopim da crise?A confusão começou quando o reitor Zeferino Vaz contratou, como professor de filosofia, Ernâni MariaFiori, que tinha sido cassado no Rio Grande do Sul. Os militares consideraram uma provocação, umaafronta e mandaram dizer que não aceitariam a contratação. Nós, professores, reagimos, porque não erauma questão política, era uma questão de autonomia universitária; aquele era um homem que mereciaser professor da UnB. Chegamos mesmo a conversar com o presidente Castelo Branco, mas os militaresestavam irredutíveis.Havia alguma vida cultural na cidade? Afinal, havia nomes importantes na Universidade.A vida cultural de Brasília se resumia à Universidade. E a alguns políticos mais inteligentes; eu conviviamuito, por exemplo, com o deputado Roberto Saturnino, que eu conhecia aqui do Rio, pois fora colegade turma do Lindolpho. Convivia também com o maestro Cláudio Santoro que dava, todo sábado demanhã, um concerto com a Orquestra Sinfônica da Universidade. Havia o Teatro de Brasília, para ondede vez em quando ia uma companhia. Mas de modo geral, era uma cidade de pioneiros; as cédulas dedinheiro ainda eram da cor do barro, os edifícios tinham uma camada de barro até o terceiro andar, mais100

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