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IMPA 50 Anos

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um aluno muito bom. Outra experiência curiosa que tive em Fortaleza aconteceu logo que cheguei.Meu irmão estava mudando de pensão, e na nova pensão tínhamos que dividir o quarto com umaterceira pessoa, que a dona do hotel informou ser um professor do Colégio Farias Brito. À noite, quandochegamos, estava esse professor deitado na cama, mal falou conosco. Pensei: “Que sujeito chato!” E otal professor acabou sendo um dos meus melhores amigos: Elon Lages Lima, vejam só! Tinha uns20 anos na época — estamos falando de 1949. Esse contato foi muito bom. Ele tinha inúmeros livrosde matemática e era uma pessoa bastante entusiasmada — tive muita sorte em encontrar o Elon nesseestágio da minha vida, pois ele me estimulou muito para matemática. No último ano do científico, eledeu um curso essencialmente para mim e mais umas duas pessoas, sobre a Construção dos NúmerosReais. Uma jóia de curso, um assunto delicado, praticamente inacessível a um aluno do científico, maso Elon era possuidor de uma excelente didática e se fez compreender.Por que o senhor se mudou para o Rio de Janeiro?Na época, havia a idéia de que, quem tinha jeito para matemática, teria que estudar engenharia, cursoque não existia em Fortaleza. Aquele meu irmão que tinha estudado no Rio, já tinha se formado e tinhaum emprego em Belém do Pará. Ele me disse: “Vá para o Rio de Janeiro. Eu conheço gente na Casado Estudante, na rua Santa Luzia. Chegue lá e é só dizer que fui que mandei, e eles arranjam um lugarpara você dormir.” Ele próprio comprou uma passagem, e eu fui para o Rio. Tomei um DC-3, que parouem Recife, em Ilhéus e finalmente chegou ao aeroporto Santos Dumont, no Rio. Peguei minha malinha,uma daquelas malinhas amarelas de madeira que se faziam no Ceará, e saí perguntando onde era a ruaSanta Luzia. O dinheiro era pouco, não dava para tomar táxi. Era perto. Quando cheguei à Casa doEstudante, procurei pela pessoa que meu irmão me havia indicado. Ele me disse que estava tudo lotado,mas foi até legal; arrumou uma cama de campanha, armou no seu quarto e disse: “Amanhã, segundafeira,você se inscreve na Secretaria.” Quando fui me inscrever, constatei que havia uma fila imensa! Eu,aflito, perguntei ao meu novo amigo: “E agora?” E ele respondeu, com toda a calma: “Não se preocupe.Aqui, quem resolve as coisas somos nós. Quando vagar um lugar, colocamos você.” Assim, fui ficando.De certo modo, hostilizei um pouco o pessoal que estava lá, porque quando perguntavam se ia fazer ovestibular de engenharia, eu respondia: “Vou, é muito fácil.” Eu não me dava conta de que havia gentetentando pela segunda ou terceira vez. Sei que fiz o vestibular e, para surpresa geral, tirei o sétimo lugarentre 1.100 candidatos. Foi fácil. Esse é o começo da minha história no Rio de Janeiro.Entre a Faculdade de Engenharia e o <strong>IMPA</strong>Já havia um curso de matemática na Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, o senhor sabia?Sabia, desde Fortaleza, mas era uma questão de status social. Se você ia fazer filosofia, diziam: “Ah,vai ser só professor.” Havia uma atitude um pouco derrogatória em ser professor; engenheiro tinhamais status. Meu pai se orgulhava de dizer que seu filho mais velho era engenheiro, o segundo era78

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