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IMPA 50 Anos

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Foi, então, por ter passado um ano fora que seu curso demorou mais?Sim. Voltei e retomei o curso, que desde o meu primeiro ano tinha tido seu currículo bastante modificado,com a introdução de disciplinas novas, graças à iniciativa dos professores portugueses que seencontravam em Recife nessa altura. Eram quatro professores, todos com uma formação bastante boa,relativamente ao que já existia, que era essencialmente um curso dados por engenheiros. Isso foi umagrande novidade. Foi nessa época que entrei em contato com disciplinas inteiramente desconhecidaspara mim, como Álgebra Linear, por exemplo, coisa extremamente corriqueira hoje em dia. Eu pegueio momento de transição. E os responsáveis maiores foram esses professores portugueses, certamente:Ruy Luís Gomes, talvez o mais velho deles, um personagem extremamente complexo, muito interessante,um grande humanista. Inclusive, foi candidato à presidência da República portuguesa contraSalazar, um anticandidato, claro; depois de ficar preso durante um período, finalmente exilou-se na Argentinajunto com outros conterrâneos, como o algebrista António Aniceto Monteiro. Da Argentina RuyLuís Gomes veio para Pernambuco, onde já estavam outros dois portugueses que não tinham problemaspolíticos e tinham vindo diretamente de Portugal, contratados pela Universidade: Alfredo Pereira Gomes,que tinha uma formação bem francesa, e Manuel Zaluar Nunes, que tinha uma formação mais emcomputação, mais aplicada. E finalmente, José Cardoso Morgado Júnior, que foi quem me influencioumais na escolha de área, direta ou indiretamente.Já havia um Instituto de Matemática em Recife?Na minha volta de Israel, já encontrei o Instituto, fundado essencialmente por Luiz de Barros Freire. Emboranão fosse um cientista, rigorosamente falando — era engenheiro e físico —, tinha uma visão muitoclara do que precisava ser feito. Lembro que o Instituto de Matemática funcionava numa pequena salana antiga Escola de Engenharia, na rua do Hospício. Nas primeiras vezes que fui lá, já com uma bolsade iniciação científica do CNPq, encontrei fazendo seminário a pessoa que viria a ser meu colaboradorde muitos anos, Wolmer Vasconcelos, que estava bem mais adiantado. Pernambucano, originárioda cidade de Moreno, no início da Zona da Mata. Ficamos próximos desde esse momento, mas nossacolaboração só começaria muitos anos depois.O golpe militar de 31 de março de 1964 teve alguma repercussão dentro da Universidade?Lembro de alunos e de professores de outras áreas, não da matemática, que tiveram problemas. Em 64,apesar de toda estupidez do golpe, ainda não houve perseguição nem tortura sistemática. A situaçãoera tão confusa, que às vezes o Exército entrava na casa de alguém que tinha sido denunciado, pegavatodos aqueles livros, às vezes de capa vermelha e dizia: “Esse é comunista.” Era muito confuso, levavamas pessoas presas por nenhuma razão.19

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