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IMPA 50 Anos

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O <strong>IMPA</strong> e o regime militarAssim como outras instituições de pesquisa, o <strong>IMPA</strong> desenvolveu-se bastante durante o regime militar. Os militaresinterferiram no Instituto, de alguma forma?O <strong>IMPA</strong> sempre se manteve alheio a questões políticas; eu próprio não era militante, mas o fato deter estado na Universidade de Brasília gerou conseqüências. Em 1973, durante o governo Médici, o<strong>IMPA</strong> foi reestruturado, passando a ter um quadro de pesquisadores contratados pela CLT. O diretorera Lindolpho de Carvalho Dias. Certa vez, estávamos conversando, quando tocou o telefone, e umapessoa da Casa Militar da Presidência da República — o CNPq era subordinado à Casa Militar, por contadas pesquisas sobre energia nuclear, bomba atômica etc., e o <strong>IMPA</strong> era um instituto do CNPq — disse:“Tenho uma ótima notícia para lhe dar: o presidente Médici assinou um decreto nomeando todos osprofessores do <strong>IMPA</strong>, exceto um, porque está envolvido em questões de segurança nacional; o restantefoi nomeado.” Lindolpho perguntou: “Quem é esse professor?” A pessoa respondeu: “Um tal deElon Lages Lima.” Lindolpho manteve-se impassível e disse: “Depois conversamos.” Não me dissenada e foi tentar resolver as coisas. Aí pude ver que ele realmente tem sangue-frio. Eu nunca tivenenhuma ação política na vida, nem em diretório acadêmico! Tinha minhas convicções democráticasdesde menino, fui contra a ditadura de Getúlio Vargas, mas guardava essas idéias para mim. Nunca memanifestei publicamente, nem a favor nem contra nada. Mas meu nome foi cortado. Era presidente doCNPq na época o general Artur Façanha, e Mauricio Peixoto era o vice-presidente; Lindolpho levou omeu caso ao general Façanha, que era amigo do chefe do SNI, general Carlos Alberto da Fontoura. Elevou uma carta escrita pelo prof. Laerte Ramos de Carvalho, reitor que substituiu o Zeferino Vaz naUnB. Quando todos aqueles professores pediram demissão, ele me distinguiu com uma carta, na qualdizia que lamentava profundamente meu pedido de demissão, porque minha atuação durante todosaqueles longuíssimos meses de crise tinha sido excelente, de grande honradez; ele apelava para queeu permanecesse na Universidade, porque seria uma pessoa útil. Mas de qualquer modo, agradeciaos esforços, e tudo o mais. Lembro que quando recebi essa carta, amassei e joguei na lata do lixo. Aomeu lado estava meu colega Manfredo Perdigão do Carmo, que disse: “Não faça uma coisa dessas, essacarta pode vir a ser útil.” Pegou a carta dentro da lata do lixo, desamassou, dobrou e botou dentro doenvelope. <strong>Anos</strong> depois, lembrei-me da carta. Peguei-a, ainda com resquícios de amassado, entreguei aoLindolpho, que a repassou ao general Façanha. E lá foi ele levá-la ao chefe do SNI, que lhe disse: “Esseseu amigo tem uma ficha enorme” — não sei que ficha era essa. Mas o general Façanha assinou umdocumento, responsabilizando-se pela minha idoneidade, afirmando que eu não representava nenhumperigo para o Estado. E por causa disso, a minha nomeação saiu tardiamente, mas saiu graças a essacarta.Antes disso, tinha havido um incidente em Salvador em 1971, quando se fez um desagravo ao matemático AlexandreMagalhães da Silveira, recém-saído da prisão. Como foi esse episódio?107

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