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IMPA 50 Anos

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se criticava o governo, já se fazia piada com o general Castelo Branco. Em Recife isso era impossível,era um negócio tremendamente abafado. A única pessoa que levantava a voz era d. Hélder Câmara,ninguém mais; a repressão era violenta. A essa altura comecei a ficar muito preocupado. Uma dasrazões pelas quais tinha voltado dos Estados Unidos era a possibilidade de criar aqui um grupo dematemática de primeira categoria, reunir excelentes cientistas; enfim, se tínhamos conseguido construirBrasília, tudo era possível. Mas a partir de 64 comecei a ficar em dúvida. Tinha pedido uma bolsaGuggenheim, mas fui parar em Brasília.O senhor foi um dos professores convidados para trabalhar na Universidade de Brasília?Sim. Aconteceu o seguinte: mesmo ainda em Recife, eu ia a Brasília com freqüência, como consultorda Universidade, porque havia poucos professores, e qualquer pessoa que tivesse doutorado tinha umacerta importância. Convidado por Darcy Ribeiro, participei de inúmeras reuniões de organização. LeopoldoNachbin ficou como coordenador de matemática da UnB, e chamou Elon Lima para auxiliá-lo —ambos eram muito ligados; depois tiveram um certo atrito. Elon, por sua vez, me escreveu: “Por quevocê não vem para Brasília?” Evidentemente, tratava-se de duas pessoas já de renome na matemática.Depois, o Leopoldo também me escreveu, e acabei me decidindo. Era, afinal, o grande sonho da nossageração: “Mesmo com o governo militar, será que conseguiremos fazer alguma coisa? Vamos lá, vamostentar.” Havia um grande movimento intelectual em Brasília, e esperávamos que daquilo resultasseuma universidade extremamente nova. Havia um grupo de música muito bom, em torno de CláudioSantoro, que promovia concertos todos os sábados, havia festivais de cinema.Quem era o reitor da UnB?Zeferino Vaz, que depois seria o grande reitor da Unicamp. Mas os militares não perdoavam o nascimentoda Universidade de Brasília por causa de Darcy Ribeiro, seu criador; assim, a área de ciênciassociais da UnB era extremamente perseguida. De vez em quando, um professor era demitido: “Essecidadão não merece a confiança do governo, não pode ficar numa universidade federal.” Havia umgrupo de pessoas respeitáveis na Universidade, como Roberto Salmerón, Jayme Tiomno, e não davapara continuar daquele jeito. Fizemos uma reunião e decidimos: “Não se retira mais nenhum professorda Universidade, a não ser após o devido processo da lei.” Se houvesse alguma acusação, quefosse apresentada e seria discutida; de outra maneira, não aceitaríamos. Não demorou três semanas,foi retirado um; houve um protesto, e ameaçamos que os coordenadores pediriam demissão. ZeferinoVaz percebeu que as coisas estavam piorando rapidamente e se demitiu da reitoria; foi substituído porLaerte Ramos de Carvalho, pessoa subserviente, completamente incapaz de tomar posições claras e limpas.Apoiou totalmente o Comando Militar de Brasília, que queria intervir na Universidade e botar maisalguns professores para fora. Em conseqüência, todos os coordenadores pediram demissão, e criou-seum estado de tensão insuportável. As aulas continuavam, os coordenadores estavam demitidos, e nãohavia negociações com o reitor para mudar aquela situação. A única saída era fazer uma greve. Não era207

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