12.07.2015 Views

IMPA 50 Anos

IMPA 50 Anos

IMPA 50 Anos

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Alexandre Magalhães da Silveira é alagoano como eu, um homem inteligente, aluno brilhante do <strong>IMPA</strong>e bolsista do CNPq. Envolveu-se profundamente na militância política e em 1970 foi preso em casa pelaPolícia do Exército, uma coisa muito triste. Quando soube disso, vesti paletó e gravata — não era meuhábito —, peguei um carro oficial do <strong>IMPA</strong>, com chapa branca, e fui ao quartel da PE, na rua Barão deMesquita, na Tijuca, falar com o major Demiurgo: “Está preso aqui um aluno meu, e eu vim fazer umapelo para que o transfiram para o Dops. Lá ele será fichado, e assim nós poderemos constituir advogadoe entrar com um pedido de relaxamento de prisão preventiva na Justiça. Mas enquanto ele estiverpreso aqui. . . ” O major me interrompeu: “Olhe, professor, se o presidente da República mandar perguntar,eu direi que essa pessoa não está aqui, porque este é um quartel da Polícia do Exército, que nãotem direito de prender civis. Não há nenhum civil preso aqui.” Mas continuamos insistindo. MauricioPeixoto, cujo pai foi advogado e professor da Faculdade de Direito, conhecia muita gente nessa área econseguiu, por meio de advogados, elaborar uma petição pedindo para transferirem o Alexandre parao Dops. Finalmente conseguimos: vários professores do <strong>IMPA</strong> se responsabilizaram por ele, declarandooficialmente que ele não fugiria, para ser julgado em liberdade — aliás, foi julgado e absolvido, comoaconteceu em inúmeros casos. Ao mesmo tempo, fui ao presidente do CNPq, Antônio Moreira Couceiro,e disse: “Você, que tem ligações com a Casa Militar, fale com eles para relevarem esse caso. Esserapaz não representa nenhum perigo para a sociedade, é coisa de garoto.” Ele perguntou: “Quer dizerque ele não está assistindo às aulas? Há quanto tempo está preso?” Respondi: “Há uns dois meses.”O Couceiro então falou: “Ah, se é assim, vou ter que suspender sua bolsa.” E suspendeu. Ou seja, fuipedir pelo Alexandre e saí de lá arrasado. Pois bem, o rapaz foi solto, e em 1971 houve um congresso deSistemas Dinâmicos na Bahia, a que compareceram Steve Smale, Morris Hirsch e Michael Shub, alunodo Smale, que fora meu aluno em Columbia. Eles convidaram o Alexandre a ir a Salvador e tiverama infeliz idéia de propor que o congresso fizesse uma sessão em sua homenagem. O congresso, organizadopor uma instituição do governo federal, fazendo uma manifestação pública contra esse mesmogoverno federal, em plena ditadura! Vetamos a proposta.Com exceção desses incidentes, o <strong>IMPA</strong> passou incólume pelo regime militar?Ao contrário, cresceu muito! Com aquela história de “Brasil grande potência”, como havia poucasinstituições de pós-graduação em Matemática no Brasil, eu próprio cheguei a dar cursos no programa demestrado para <strong>50</strong>, 60 estudantes. Hoje em dia não existe mais isso; os mestrados têm número reduzidode alunos.Qual foi o papel exercido por José Pelúcio Ferreira no desenvolvimento do <strong>IMPA</strong> nos anos 70?Importantíssimo, crucial. Pelúcio é uma pessoa extraordinária, com grande visão sobre o desenvolvimentocientífico. Era funcionário do BNDE e propôs a criação do Funtec, o Fundo de DesenvolvimentoTécnico-Científico, para auxiliar a pesquisa científica — esse é o embrião da FINEP, presidida depoispor ele durante muitos anos e fundamental para o desenvolvimento da Ciência e Tecnologia no Brasil.108

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!