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A HISTÓRIA DO ESPIRITISMO Conan Doyle

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119 – <strong>HISTÓRIA</strong> <strong>DO</strong> <strong>ESPIRITISMO</strong><br />

sido tentada a usar aqueles dons para fazer dinheiro. Em relação a este ponto seja<br />

dito antes de mais nada que no curso de seus trinta anos de estranho ministério,<br />

jamais ele tocou num tostão como paga de seus dons. É absolutamente certo que lhe<br />

foram oferecidas duas mil libras pelo Clube União, em Paris, no ano de 1857, por<br />

uma única sessão, e que ele, pobre e inválido, as recusou terminantemente. “Fui<br />

mandado em missão”, disse ele. “Essa missão é demonstrar a imortalidade. Nunca<br />

recebi dinheiro por isso e jamais o receberei”. Houve certos presentes da Realeza<br />

que não podiam ser recusados sem grosseria: anéis, alfinêtes de gravatas e outros,<br />

que mais eram sinais de amizade do que recompensa; porque, antes de sua morte<br />

prematura, poucos eram os monarcas da Europa com os quais esse moço<br />

desconfiado de um subúrbio de Liverpool não estivesse em afetuosa intimidade.<br />

Napoleão 3º cuidou de sua única irmã; o Imperador da Rússia foi testemunha de seu<br />

casamento. Qual o novelista que seria capaz de inventar uma tal carreira?<br />

Há, porém, tentações mais sutis do que as da riqueza. A inquestionável<br />

honestidade de Home foi a melhor salvaguarda contra aquelas. Jamais ele perdeu,<br />

por um só instante, a sua humildade e o seu senso de proporção. “Tenho esses<br />

poderes”, teria ele dito, “serei feliz até o limite de minhas forças, eu vô­los<br />

demonstrar, se vos aproximardes de mim, do mesmo modo que um cavalheiro se<br />

aproximaria de outro. Alegrar­me­ei se lançardes um pouco mais de luz sobre elas.<br />

Prestar­me­ei a qualquer experiência razoável. Eu não exerço controle sobre elas.<br />

Elas me usam, mas eu não as uso. Elas me abandonam durante meses e voltam com<br />

redobrada energia. Eu sou um instrumento passivo — nada mais.” Tal era a sua<br />

atitude invariável. Ele era sempre o homem mundano fácil e amigo, que nem tinha o<br />

manto do profeta nem o turbante do mágico. Como os homens realmente grandes,<br />

não havia em sua natureza o mínimo de pose. Um indício de sua elegância é que,<br />

sempre que devia confirmar os seus resultados, jamais citava nomes, a menos que<br />

estivesse absolutamente certo de que as pessoas citadas de modo algum se<br />

incomodariam em ser referidas a um culto impopular. Por vezes, ainda quando estas<br />

lhe houvessem autorizado a citá­las, evitava fazê­lo, com receio de ofender a um<br />

amigo. Quando publicou as primeiras séries dos “Incidentes em minha Vida”, o<br />

Saturday Review cobriu de sarcasmos o anônimo “testemunho da Condessa O... do<br />

Conde B... do Conde de K... da Princesa de B... e de Mrs. E... que eram apontados<br />

como tendo assistido às manifestações. Em seu segundo volume, tendo­se<br />

assegurado do apoio de seus amigos, Home preencheu os claros com os nomes da<br />

Condessa Orsini, do Conde de Beaumont, do Conde de Komar, da Princesa de<br />

Beauveau e a conhecida dama americana Mrs. Henry Senior. Jamais citou os seus<br />

amigos reais, embora fosse muito sabido que o Imperador Napoleão e Imperatriz<br />

Eugênia, o Tzar Alexandre, o Imperador Guilherme 1º da Alemanha e os Reis da<br />

Baviera e do Wurtemberg também haviam sido convencidos por suas forças<br />

extraordinárias. Nem uma só vez Home foi condenado por qualquer mistificação,<br />

quer por palavras, quer por atos.<br />

Por ocasião de sua primeira viagem à Inglaterra, hospedou­se no Cox’s<br />

Hotel, em Jermyn Street, e é provável que tenha escolhido essa hospedaria por ter<br />

sabido, através de Mrs. Hayden, que o seu proprietário era simpático à causa. Como<br />

quer que seja, Mr. Cox logo descobriu que o seu jovem hóspede era o mais notável<br />

médium e, a seu convite, os mais notáveis intelectuais do momento foram

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