A HISTÓRIA DO ESPIRITISMO Conan Doyle
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152 – Arthur <strong>Conan</strong> <strong>Doyle</strong><br />
fenômenos. Seja qual for a causa ou motivo, Olcott foi naturalmente levado a tornarse<br />
muito circunspecto em seus contactos, desde que mostrava um bom conhecimento<br />
dos truques.<br />
A ancestralidade era muito importante, porque, não só havia uma<br />
ininterrupta cadeia de poderes psíquicos, que se estendia sobre várias gerações,<br />
como, também, a avó deles, que fora processada quatro vezes como feiticeira, fora<br />
queimada como tal ou, pelo menos, sentenciada, no famoso processo de Salém, em<br />
1692. Muitos de nossos contemporâneos gostosamente fariam o mesmo com os<br />
nossos médiuns, como foi o caso de Cotton Mather.<br />
Mas as perseguições policiais constituem o seu equivalente moderno, O pai<br />
dos Eddy foi, infelizmente, um desses fanáticos perseguidores. Olcott declara que os<br />
meninos foram marcados para toda a vida pelos golpes que o pai lhes havia dado,<br />
visando desencorajar aquilo que chamava de poderes diabólicos. A mãe, que era<br />
possuidora de grande força psíquica, ficou sabendo como esse bruto “religioso” agia<br />
injustamente: seu lar tornouse um inferno na terra. Não havia refúgio para as<br />
crianças em parte alguma, pois os fenômenos psíquicos geralmente as<br />
acompanhavam, até mesmo à escola e excitava a grita dos jovens bárbaros<br />
ignorantes em seu redor. Em casa, quando o jovem Eddy caía em transe o pai e um<br />
vizinho despejavam água fervente sobre ele e punham brasas vermelhas sobre a<br />
cabeça, deixandolhe marcas indeléveis. Felizmente o rapaz estava adormecido. É de<br />
admirar que depois de uma tal infância as crianças se tivessem tornado homens<br />
sombrios e desconfiados?<br />
Depois que cresceram, o infeliz pai tentou fazer dinheiro por meio dos<br />
poderes que tão brutalmente havia desencorajado e alugava os rapazes como<br />
médiuns. Ninguém jamais descreveu adequadamente os sofrimentos a que se<br />
sujeitam os médiuns públicos nas mãos de investigadores idiotas e cépticos cruéis.<br />
Olcott testemunhou que as mãos e os braços das irmãs, bem como dos irmãos,<br />
estavam cheios de marcas das ligaduras e de escaras produzidas por lacre quente<br />
para selar os nós, enquanto que duas das meninas tinham pedaços de pele e carne<br />
esgarçadas pelas algemas. Eram enjauladas, batidas, queimadas, apedrejadas,<br />
enquanto as cabines eram destroçadas. O sangue escorria dos cantos das unhas,<br />
devido à compressão das artérias. Assim foram os primeiros dias na América, mas a<br />
GrãBretanha não ficou atrás, se recordarmos os irmãos Davenport e a violência<br />
brutal da massa em Liverpool.<br />
Parece que os Eddy eram possuidores de todas as mediunidades. Olcott dá<br />
esta lista: batidas, movimento de objetos, pintura a óleo e aquarela sob influência de<br />
Espíritos, profecia, fala de línguas estranhas, poder de cura, discernimento dos<br />
Espíritos, Levitação, escrita de mensagens, psicometria, clarividência, e, finalmente,<br />
a produção de formas materializadas. Desde que São Paulo enumerou os dons do<br />
Espírito, jamais se organizou uma lista mais extensa.<br />
O método das sessões era o seguinte: o médium ficava sentado numa cabine<br />
de um lado da sala, e a assistência em bancos, enfileirados à sua frente. Perguntarseá<br />
por que uma cabine. E a experiência continuada mostrou que, de fato, esta pode<br />
ser dispensada, salvo no fenômeno de materialização. Home jamais usou a cabine e<br />
atualmente os principais médiuns ingleses raramente a empregam. Há, contudo, uma<br />
razão muito aceitável para a sua presença.