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A HISTÓRIA DO ESPIRITISMO Conan Doyle

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69 – <strong>HISTÓRIA</strong> <strong>DO</strong> <strong>ESPIRITISMO</strong><br />

era surpresa para nenhum espírita experimentado que, em tais circunstâncias, tanto o<br />

seu caráter quanto as suas forças estivessem tão estragados.<br />

Não podiam dar coisa melhor. E tanto a sua idade quanto a sua ignorância<br />

as escusam.<br />

Para compreender a sua situação, é preciso lembrar que eram pouco mais<br />

que crianças, pouco educadas e quase ignorantes da filosofia do assunto. Quando um<br />

homem como o Doutor Kane assegurava a Margaret que aquilo era um grave erro,<br />

apenas repetia o que lhe entrava pelos ouvidos em toda a parte, inclusive de metade<br />

dos púlpitos de Nova Iorque.<br />

Provavelmente tinha ela uma sensação desagradável de estar errada, sem ao<br />

menos saber por que, e isto, possivelmente, depõe em seu favor, por não se mostrar<br />

magoada por suas suspeitas. Na verdade podemos admitir que, no fundo, Kane<br />

estivesse certo e que os processos fossem, por certo modo, injustificáveis. Naquela<br />

época elas próprias eram incorruptíveis; e se tivessem usado os seus dons como D.<br />

D. Home, sem relação com as coisas mundanas, e apenas com o propósito de provar<br />

a imortalidade da alma e consolar os aflitos, então, sim, elas se teriam colocado<br />

acima da crítica. Ele estava errado quando duvidava de seus dons, mas certo quando<br />

encarava como suspeitas certas maneiras de os utilizar.<br />

Como quer que seja, a posição de Kane é irremediàvelmente ilógica. Ele<br />

desfrutava da maior intimidade e afeição da mãe e das duas moças, muito embora, se<br />

as palavras têm algum sentido, ele as julgasse embusteiras, que viviam da<br />

credulidade pública. “Beije a Katie por mim”, diz ele; e continuamente manda<br />

saudades a mãe.<br />

Moças como eram, já havia da parte dele a suspeita do perigo do<br />

alcoolismo, a que se achariam expostas mais tarde e naquela promiscuidade. “Diga<br />

a Katie que não tome champanha e você siga o mesmo conselho”, dizia de. Era um<br />

conselho bom, e teria sido melhor para elas e para o movimento espírita se ambas o<br />

tivessem seguido. Novamente, porém, há que recordar a sua mocidade inexperiente<br />

e as constantes tentações.<br />

Kane era uma curiosa mistura de herói e de bobo. As batidas dos Espíritos,<br />

não apoiadas por qualquer sanção religiosa ou científica, vinda posteriormente, era<br />

uma baixeza, uma superstição de ignorantes e ele, um homem de reputação, iria<br />

cassar­se com um espíritobatedor?<br />

Nisto ele vacilou extraordinariamente, começando uma carta pedindo para<br />

ser o seu irmão e terminando por lhe recordar os mais cálidos beijos. “Agora que<br />

você me deu o seu coração, eu serei o seu irmão”, diz ele. Tinha uma veia de<br />

superstição, que o percorria todo e que estava muito abaixo da credulidade que<br />

atribui aos outros. Freqüentemente alude ao fato de possuir um poder divinatório<br />

pelo simples levantar da mão direita, coisa que havia aprendido “de um feiticeiro nas<br />

Índias”. Por vezes tanto é pretensioso quanto tolo. “Até à mesa de jantar do<br />

presidente eu pensava em você”. E mais adiante: “Você nunca poderia atingir os<br />

meus pensamentos e o meu objetivo. Eu nunca poderia descer até os seus”. Na<br />

verdade, as poucas citações de suas cartas mostram uma mente inteligente e<br />

simpática.<br />

Ao menos em uma ocasião encontramos Kane procurando decepcioná­la e<br />

ela combatendo a ideia.

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