A HISTÓRIA DO ESPIRITISMO Conan Doyle
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92 – Arthur <strong>Conan</strong> <strong>Doyle</strong><br />
descrédito sobre as suas opiniões, e alguns que tiraram partido do interesse geral de<br />
imitar, com maior ou menor sucesso, os reais dons do Espírito. Esses tratantes<br />
fraudulentos por vezes agiam com inteiro sangue frio, embora por vezes dessem a<br />
impressão de que eram médiuns que haviam temporariamente perdido a<br />
mediunidade.<br />
Houve escândalos e denúncias, fatos autênticos e imitações. Como agora,<br />
tais denúncias partiam, às vezes, dos próprios Espíritas, que se opunham tenazmente<br />
que as suas cerimônias sagradas se transformassem em espetáculo para a hipocrisia e<br />
para a blasfêmia de vilãos que, como hienas humanas, procuravam viver<br />
fraudulentamente à custa dos mortos. O resultado geral foi um arrefecimento do<br />
grande entusiasmo inicial, um abandono daquilo que era verdadeiro e o<br />
incensamento daquilo que era falso.<br />
O corajoso relatório do Professor Hare provocou uma desgraçada<br />
perseguição a esse venerável cientista, que era então, com exceção de Agassiz, o<br />
mais conhecido homem de ciência da América. Os professôres de Harvard — a<br />
universidade que tem o menos invejável registro em assuntos psíquicos — toma uma<br />
resolução de o denunciar e a sua “insana adesão à gigantesca mistificação”. Ele não<br />
podia perder a sua cátedra na Universidade da Pennsylvania, por isso que a ela havia<br />
renunciado, mas sofreu muito na sua reputação.<br />
O coroamento e o mais absurdo exemplo de intolerância científica — uma<br />
intolerância que foi sempre tão violenta e desarrazoada quanto a da Igreja Medieval<br />
— foi dado pela Associação Científica Americana. Esse corpo científico berrou<br />
contra o Professor Hare, quando àquele se dirigiu, e estabeleceu que o assunto era<br />
indigno de sua atenção. Entretanto os Espíritos registraram que aquela sociedade, na<br />
mesmíssima sessão, teve um animado debate para saber por que os galos cantavam<br />
entre meianoite e uma da manhã e que, finalmente, haviam chegado à conclusão de<br />
que, especialmente naquela hora, passa pela Terra uma onda de eletricidade, na<br />
direção nortesul, e que as aves, despertas de seu sono e “tendo uma natural<br />
disposição para cantar”, registram o acontecimento dessa maneira. Ainda não se<br />
havia aprendido — e dificilmente terá sido aprendido — que um homem, ou uma<br />
sociedade, podem ser muito sábios em assuntos de sua especialidade e, entretanto,<br />
mostrar uma extraordinária falta de senso comum ao defrontarem uma nova<br />
proposição, que requer um completo reajustamento de ideias. A ciência inglesa e, na<br />
verdade, a ciência do mundo inteiro, mostrou a mesma intolerância e falta de<br />
elasticidade que marcou aqueles primeiros dias na América.<br />
Esses dias foram tão bem descritos por Mrs. Harding Britten, a qual nêles<br />
desempenhou importante papel, que todos os interessados podem acompanhálos em<br />
suas páginas.<br />
Algumas notas relativamente a Mrs. Britten podem adequadamente ser aí<br />
introduzidas, de vez que nenhuma história do Espiritismo seria completa sem<br />
referências a essa notável senhora, que foi chamada o São Paulo feminino do<br />
movimento espírita. Era ela uma pequena inglesa que tinha ido para Nova Iorque<br />
com uma emprêsa de teatro e tinha permanecido na América com sua mãe. Sendo<br />
estritamente evangélica, repelia fortemente aquilo que considerava um ponto de<br />
vista ortodoxo dos Espíritas e fugiu horrorizada de sua primeira sessão. Depois, em<br />
1856, foi novamente posta em contacto com o assunto e teve provas cuja veracidade