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A HISTÓRIA DO ESPIRITISMO Conan Doyle

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15 – <strong>HISTÓRIA</strong> <strong>DO</strong> <strong>ESPIRITISMO</strong><br />

passo, de levar os seus profitentes para uma nova etapa, além de a eles anexar os que<br />

em nada criam — passando­os de fé imposta, do credo quia absurdum, ou do<br />

desinteresse e da negação sistemática para uma fé sistemática, para uma fé<br />

raciocinada, na qual os próprios dogmas e os ritos viriam a ser respeitados como<br />

valores históricos e como símbolos que tinham tido a sua função no espaço e no<br />

tempo e dos quais os Espíritos se iam emancipando, à medida de sua mesma<br />

evolução. Do outro lado, atraídas pelos fatos, tomando contacto com os seus mortos<br />

queridos, as massas menos cultas, ou mesmo incultas, foram, por um compreensível<br />

sincretismo religioso, que a ortodoxia não tolerava, mas que, à fina força, aquelas<br />

queriam que subsistisse, transformando o Espiritismo numa religião ritualística.<br />

Se, de um lado, o despreparo geral as empurrava nessa direção, foram<br />

acoroçoadas pelos anátemas, pelas excomunhões, pela pressão política exercida pela<br />

Igreja contra as massas espíritas e principalmente contra os médiuns. E o<br />

Espiritismo, que de início atraíra a atenção das camadas mais cultas, pouco a pouco<br />

foi sendo por estas abandonado, ou praticado ás ocultas, para que se não<br />

comprometessem interesses materiais — sobretudo os políticos — dado o prestígio<br />

que a Igreja desfrutava junto ao poder civil, mesmo nos países em que havia<br />

separação legal entre ela e o Estado.<br />

Então a doutrina caiu nas mãos do povo e a sua prática se abastardou.<br />

Mas houve uma diferenciação entre neolatinos e anglo­saxões.<br />

Nos países de origem latina, onde predominam a Igreja Católica — de todas<br />

a mais intolerante — os espíritas foram excluídos de seu seio. E, teimosamente, ela<br />

apresentou aquele do qual poderia ter feito o seu melhor aliado como um adversário<br />

temível, como uma nova religião, embora lhe faltassem os requisitos essenciais de<br />

uma religião, a saber: um conjunto de dogmas, um ritual e uma hierarquia<br />

sacerdotal. De maneira que, se luta existe entre ela e o Espiritismo, não foi este<br />

quem a provocou.<br />

Mas nos países saxônicos a coisa é diferente.<br />

Com a predominância do Protestantismo, os profitentes da religião estão<br />

mais íntima e solidamente ligados à sua igreja: são eles e não os pastores que a<br />

administram e desenvolvem as obras assistenciais; com um ritual mais pobre,<br />

enriquecem o Espírito pelo estudo. Assim, a irrupção dos fenômenos espíritas não<br />

foi ignorada nem amaldiçoada, mas recebida como uma prova da sobrevivência da<br />

alma e uma confirmação dos ensinos bíblicos.<br />

Por isso, pouco proliferam os centros espíritas. Em compensação, há na<br />

língua inglesa mais de cinco mil títulos de obras sobre o Espiritismo.<br />

*<br />

Os estudiosos desses problemas não têm projetado a atenção sobre essa<br />

diferenciação do desenvolvimento do Espiritismo entre neolatinos e anglo­saxões,<br />

para lhe penetrar as causas e oferecer elementos para a compreensão do interessante<br />

fenômeno.<br />

O assunto merece atenção.<br />

Na França, o Doutor Gustave Geley, a quem tanto deve a Medicina, fez<br />

notáveis estudos sobre o ectoplasma — esse novo elemento cuja importância cresce

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