A HISTÓRIA DO ESPIRITISMO Conan Doyle
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61 – <strong>HISTÓRIA</strong> <strong>DO</strong> <strong>ESPIRITISMO</strong><br />
ausentado de casa? A isto apenas é possível responder que, conquanto ao futuro<br />
coubesse demonstrar que na ocasião a força emanasse das meninas, nem por isso<br />
deixaria de inundar a casa e de ficar à disposição da entidade manifestante, ao menos<br />
quando as meninas estivessem ausentes.<br />
A família Fox estava seriamente abalada com os acontecimentos; numa<br />
semana Mrs. Fox ficou grisalha. E como parecia que a coisa estivesse ligada às duas<br />
meninas, estas foram afastadas de casa. Mas em casa de seu irmão, David Fox, para<br />
onde foi Margaret, e na de sua irmã Leah, cujo nome de casada era Mrs. Fish, em<br />
Roehester, onde Kate estava hospedada, os mesmos ruídos eram ouvidos. Foram<br />
feitos todos os esforços para que o público ignorasse essas manifestações; logo,<br />
porém, se tornaram conhecidos. Mrs. Fish, que era professora de música, tornouse<br />
incapaz de continuar as lições e centenas de pessoas enchiam a sua casa para ver as<br />
novas maravilhas. Deveria ter sido verificado se aquela força era contagiosa ou se<br />
vinha descendo sobre muitas pessoas independentemente de uma fonte comum.<br />
Assim, Mrs. Leah Fish, a irmã mais velha, a recebeu, embora em menor grau do que<br />
Kate e Margaret. Mas não se limitou por muito tempo à família Fox. Era como uma<br />
nuvem psíquica, descendo do alto e se mostrando nas pessoas susceptíveis. Sons<br />
idênticos foram ouvidos em casa do Reverendo A. 2º. Jervis, ministro metodista<br />
residente em Rochester. Poderosos fenômenos físicos irromperam na família do<br />
Diácono Hale, de Greece, cidade vizinha de Roehester. Pouco depois Mrs. Sarah A.<br />
Tamlin e Mrs. Benedict, de Auburn, desenvolveram notável mediunidade. Mr.<br />
Capron, o primeiro historiador desse movimento, descreve Mrs. Tamlin como uma<br />
das médiuns mais controláveis que jamais encontrou e diz que embora os sons<br />
ouvidos em sua presença não fossem tão fortes quanto os da família Fox, as<br />
mensagens eram igualmente fidedignas.<br />
Então e rapidamente, tornouse evidente que essas forças invisíveis não<br />
estavam ligadas às meninas. Em vão a família orou, com os seus irmãos metodistas,<br />
esperando alívio. Em vão foram feitos exorcismos pelos padres de vários credos.<br />
Além de cobrir os “Améns” com batidas fortes, as presenças invisíveis não ligavam<br />
a esses exercícios religiosos.<br />
O perigo de seguir às cegas a orientação de um pretenso Espírito ficou<br />
patente poucos meses depois, nas vizinhanças de Rochester, onde um homem havia<br />
desaparecido em circunstâncias suspeitas. Um espírita fanático recebia mensagens<br />
pelas batidas, anunciando o seu assassinato. Estava sendo aberto um canal e foi<br />
ordenado à esposa do desaparecido que entrasse por ele, o que quase lhe custou a<br />
vida. Alguns meses mais tarde o ausente apareceu: tinha fugido para o Canadá, para<br />
evitar uma prisão por dívida. Como bem se pode imaginar, isto foi um golpe no<br />
culto nascente. Então o público não entendeu aquilo que, mesmo agora, ainda é<br />
pouco compreendido: que a morte não opera mudanças no espírito humano, que<br />
abundam as entidades malévolas e brincalhonas e que o investigador deve utilizar os<br />
seus instintos e o seu bom senso a todo o instante. “Experimente os Espíritos a fim<br />
de os conhecer”. No mesmo ano e no mesmo distrito a verdade dessa nova filosofia,<br />
por um lado, e suas limitações e perigos, pelo outro, acentuaramse ainda mais.<br />
Esses perigos persistem. O homem ingênuo, o arrogante e enfatuado, o<br />
convencido, são sempre presa segura. Cada observador tem sido vítima de ciladas. O<br />
próprio autor teve a sua fé dolorosamente abalada por decepções até que algumas