A HISTÓRIA DO ESPIRITISMO Conan Doyle
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53 – <strong>HISTÓRIA</strong> <strong>DO</strong> <strong>ESPIRITISMO</strong><br />
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O Episódio de Hydesville<br />
Acabamos de expor as várias manifestações, desconexas e irregulares, da<br />
força psíquica, nos casos que se apresentaram, e chegamos, por fim, ao<br />
episódio particular que, realmente, se achava em nível inferior ao dos<br />
anteriores, mas ocorrido em presença de pessoas práticas, que encontraram meios de<br />
o explorar completamente e de introduzir raciocínio e sistema naquilo que havia sido<br />
mero objeto de admiração sem propósito. É verdade que as circunstâncias eram<br />
mesquinhas, os atores humildes, o lugar remoto, a comunicação sórdida, de vez que<br />
obediente a um motivo tão baixo quanto a vingança. É verdade que, na vida diária<br />
deste mundo, se quisermos verificar se um fio telegráfico está funcionando,<br />
examinaremos se uma mensagem passa por ele; mas a elevação ou a baixeza dessa<br />
mensagem será de consideração de segunda ordem. Dizse que a primeira mensagem<br />
que foi transmitida pelo cabo submarino era uma trivialidade, uma pergunta feita<br />
pelo engenheiro inspetor. Não obstante, desde então o empregam reis e presidentes.<br />
É assim que o humilde Espírito do mascate assassinado de Hydesville pode ter<br />
aberto uma passagem, através da qual se precipitaram os anjos. Há bens e maus e<br />
inumeráveis intermediários no Outro Lado, como do lado de cá do véu. A<br />
companhia que atraímos depende de nós mesmos e de nossos próprios motivos.<br />
Hydesville é um vilarejo típico do Estado de Nova Iorque, com uma<br />
população primitiva, certamente semieducada, mas, provàvelmente, como os<br />
demais pequenos centros de vida americanos, mais livres de preconceitos e mais<br />
receptivos das novas ideias do que qualquer outro povo da época. Aquela povoação,<br />
situada a cerca de vinte milhas da nascente cidade de Rochester, consistia de um<br />
grupo de casas de madeira, de tipo muito humilde. Foi numa dessas casas, residência<br />
que não satisfaria as exigências de um inspetor de conselho distrital britânico, que se<br />
iniciou o desenvolvimento que, atualmente, na opinião de muitos, é a coisa mais<br />
importante que deu a América para o bemestar do mundo. Era habitada por uma<br />
honesta família de fazendeiros, de nome Fox — um nome que, por curiosa<br />
coincidência, tinha sido registrado na história religiosa como o do apóstolo dos<br />
shakers. Além de pai e mãe, de religião metodista, havia duas filhas morando na<br />
casa ao tempo em que as manifestações atingiram tal ponto de intensidade que<br />
atrairam a atenção geral. Eram as filhas: Margaret, de catorze anos e Kate, de onze.<br />
Havia vários outros filhos e filhas, que não residiam aí, uma das quais, Leah, que<br />
ensinava música em Rochester, deve ser citada nesta narrativa.<br />
A casinha já gozava de má reputação. Os fatos tinham sido coligidos e logo<br />
depois publicados. Parece que se ligam tanto a essas informações quanto é possível.<br />
À vista da extrema importância de tudo quanto se liga ao assunto, alguns extratos de<br />
tais informações devem ser incertos; mas para evitar um desvio da narrativa, a<br />
informação sobre este ponto foi relegada para o Apêndice. Assim, passaremos