A HISTÓRIA DO ESPIRITISMO Conan Doyle
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161 – <strong>HISTÓRIA</strong> <strong>DO</strong> <strong>ESPIRITISMO</strong><br />
Mil dólares era a soma exata que Elisa White iria receber se concordasse<br />
em admitir que tinha representado Katie King. Certamente há que convir que tal<br />
verificação, em conjunto com as declarações da mulher, exige que se peçam provas<br />
de tudo quanto ela diz.<br />
Resta um fato culminante. Na hora exata em que a falsa sessão foi realizada<br />
e na qual Mrs. White estava mostrando como Katie King era representada, os<br />
Holmes realizavam uma sessão real, assistida por vinte pessoas e na qual o Espírito<br />
apareceu da maneira de sempre.<br />
O Coronel Olcott recolheu várias declarações de pessoas então presentes e<br />
não há dúvida a respeito do fato. A do Doutor Adolphus Fellger é curta e pode ser<br />
dada quase que por inteiro.<br />
Diz ele sob juramento que “viu o Espírito conhecido como Katie King, ao<br />
todo, cerca de oito vezes; é perfeitamente familiar com os seus modos e não se sente<br />
enganado em relação á identidade de Katie King, que apareceu na tarde de 5 de<br />
dezembro, pois enquanto o dito Espírito aparecia exatamente da mesma altura e com<br />
os mesmos gestos, em duas sessões seguidas, sua voz era sempre a mesma e a<br />
expressão de seus olhos e os tópicos da conversa lhe davam maior certeza de tratarse<br />
da mesma pessoa”. Esse Fellger era muito conhecido e respeitado em Filadélfia<br />
como médico, cuja palavra simples, no dizer de Olcott, vale mais que “vinte<br />
juramentos escritos da vossa Elisa White”.<br />
Também ficou demonstrado que Katie King aparecia constantemente<br />
quando Mrs. Holmes estava em Blissfield e Mrs. White em Filadélfia e que Mrs.<br />
Holmes havia escrito a Mrs. White descrevendo suas aparições reais, o que parece<br />
uma prova final de que a última não era uma parceira.<br />
Por esse tempo deve admitirse que a confissão anônima de Mrs. White é<br />
um tiro numa coisa furada e com tantos buracos que a coisa se afunda. Há, porém,<br />
um detalhe que, na opinião do autor, ainda flutua. É o caso da fotografia. Foi<br />
confessado pelos Holmes, numa entrevista com o General Lipáginasitt, — cuja<br />
palavra é um pedaço sólido naquele charco — que Elisa White foi contratada pelo<br />
Doutor Child para posar num retrato como Katie King. Parece que Child representou<br />
um papel dúplice em todo esse negócio, fazendo, em diferentes ocasiões, afirmações<br />
muito contraditórias e tendo, ao que parece, um interesse pecuniário no caso. Por<br />
isso a gente se inclina a considerar seriamente essa acusação, e pensar se os Holmes<br />
teriam participado da fraude. Garantindo que a imagem de Katie King era real,<br />
talvez tivessem duvidado se ela seria ou não fotografável, de vez que sua produção<br />
exigia que a luz fosse fraca. Por outro lado, havia uma clara fonte de lucro, desde<br />
que os retratos eram vendidos aos numerosos assistentes por meio dólar. Em seu<br />
livro, o Coronel Olcott reproduz a fotografia de Mrs. White ao lado de outra<br />
supostamente de Katie King, e chama a atenção para a falta de semelhança. É claro,<br />
entretanto, que tivessem solicitado ao fotógrafo que a retocasse, para disfarçar a<br />
semelhança, pois do contrário a fraude seria notada. O autor tem a impressão, que<br />
não é certeza, de que os dois rostos são os mesmos, apenas com algumas alterações<br />
obtidas pela manipulação. Assim, admite que a fotografia seja fraudulenta, mas isto<br />
de modo algum corrobora o resto da narrativa de Mrs. White, muito embora abale a<br />
nossa fé a respeito do caráter de Mr. e Mrs. Holmes, do mesmo modo que do Doutor<br />
Child. Mas o caráter dos médiuns de efeitos físicos tem apenas uma influência