A HISTÓRIA DO ESPIRITISMO Conan Doyle
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36 – Arthur <strong>Conan</strong> <strong>Doyle</strong><br />
Doutor Chalmers que, depois de alguma reflexão, aceitoua. Aí a sua eloquência<br />
sonora e as suas luminosas explicações do Evangelho começaram a atrair a atenção<br />
e, sübitamente, o estranho gigante escocês ficou na moda. A rua humilde, nas<br />
manhãs de domingo, ficava atravancada de carruagens, e alguns dos mais notáveis<br />
homens de Londres, bem como senhoras, acotovelavamse dentro do pequeno<br />
templo. É evidente que tamanha popularidade não podia durar e que o costume do<br />
pregador de expor o texto durante uma hora e meia era muito para a elegância<br />
londrina, embora aceitável ao norte de Tweed. Finalmente foi removido para uma<br />
igreja maior em Regent Square, com capacidade para duas mil pessoas e onde havia<br />
assentos suficientes para se acomodarem de maneira decente, embora o pregador já<br />
não despertasse o interesse dos primeiros dias. De lado a sua oratória, parece que<br />
Irving foi um pastor consciencioso e muito trabalhador, que lutava continuamente<br />
para satisfazer as necessidades materiais dos mais humildes elementos de seu<br />
rebanho, sempre pronto, dia e noite, no cumprimento de seu dever.<br />
Não obstante, logo começaram as lutas com as autoridades de sua Igreja. O<br />
assunto em disputa constituiu uma bonita base para uma querela teológica daquele<br />
tipo que fez mais mal ao mundo do que a varíola. A questão era se o Cristo tinha em<br />
Si a possibilidade de pecar, ou se a Divina Porção do Seu Ser constituía uma barreira<br />
absoluta contra as tentações físicas.<br />
Sustentavam uns que a associação de ideias como Cristo e pecado era uma<br />
blasfêmia, O teimoso clérigo, entretanto, replicava, com algumas mostras de razão,<br />
que a menos que o Cristo tivesse a capacidade de pecar e a ela resistisse<br />
vitoriosamente, o seu destino terreno não era o mesmo que o nosso e suas virtudes<br />
despertavam menos admiração. O assunto foi discutido fora de Londres com muita<br />
seriedade e por um tempo enorme, tendo como resultado uma declaração unânime<br />
do presbitério, condenando o ponto de vista do pastor. Entretanto, tendo a sua<br />
congregação, por sua vez, manifestado uma inqualificável aprovação, ele pôde<br />
desprezar a censura de seus irmãos oficiais.<br />
Mas um maior obstáculo se achava à sua frente. O encontro de Irving com<br />
ele levou o seu nome a viver como vivem todos os nomes a que se associam reais<br />
êxitos espirituais..<br />
Inicialmente há que considerar que Irving estava profundamente<br />
interessado nas profecias bíblicas, especialmente nas vagas e terríveis imagens de<br />
São João, e os estranhos vaticínios de Daniel. Refletiu muito sobre os anos e os dias<br />
marcantes do período de ira que devia preceder a Segunda Vinda do Senhor. Por<br />
aquela época —pelas alturas de 1830 — havia outros profundamente imersos nas<br />
mesmas sombrias especulações. Entre estes contavase um rico banqueiro, chamado<br />
Drumond, dono de grande casa de campo em Albury, perto de Guildford. Nessa casa<br />
aqueles estudiosos da Bíblia costumavam reunirse de vez em quando, discutindo e<br />
comparando seus pontos de vista tão minuciosamente que não era raro que suas<br />
sessões se alongassem por uma semana, sendo os dias inteiramente ocupados desde<br />
o almoço até o jantar. Este grupo era chamado os profetas de Albury. Excitados<br />
pelos sucessos políticos que haviam levado à Lei da Reforma, todos eles<br />
consideraram que as bases mais profundas tinham sido abaladas. É difícil imaginar<br />
qual teria sido a sua reação se tivessem chegado a testemunhar a Grande Guerra.<br />
Seja como for, estavam convencidos de que estaria próximo o fim de tudo e