A HISTÓRIA DO ESPIRITISMO Conan Doyle
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138 – Arthur <strong>Conan</strong> <strong>Doyle</strong><br />
instrumentos de música. Finalmente li e ouvi todas as explicações dos chamados<br />
truques dos Davenport perante o público inglês e — acreditemme — se alguma<br />
coisa me faria dar um pulo tremendo ‘da matéria para o Espírito’ é a inteira e<br />
completa semrazão das razões pelas quais são explicadas as manifestações.”<br />
É de notarse que os próprios Davenport, contrastando com amigos e<br />
companheiros de viagem, jamais pretenderam qualquer origem sobrenatural para os<br />
seus efeitos. A razão disso deve ter sido que, como um entretenimento, era mais<br />
picante e menos provocante quando cada assistente podia formar a sua própria<br />
opinião. Escrevendo ao mágico americano Houdini, disse Ira Davenport, em sua<br />
velhice: “Nós nunca afirmamos de público a nossa crença no Espiritismo. Não<br />
considerávamos isso de interesse para o público, nem oferecemos nosso<br />
entretenimento como o resultado de habilidade manual nem, por outro lado, como<br />
Espiritismo. Deixávamos que os amigos e os mortos resolvessem isso lá entre eles,<br />
como melhor pudessem, mas, infelizmente, fomos por vezes vítimas de sua<br />
discordância”.<br />
Posteriormente Houdini alegou que Davenport admitia que seus resultados<br />
eram conseguidos normalmente; mas Houdini de fato encheu tanto de erros o seu<br />
livro “A Magician Among the Spirits” 51 e mostrou tanto preconceito em todo o<br />
assunto que o seu depoimento não tem valor. A carta que exibe não lhe dá razão.<br />
Uma declaração posterior, citada como tendo sido feita por Ira Davenport, é<br />
demonstràvelmente falsa. É a de que os movimentos jamais saíram da cabine. Na<br />
verdade o representante do The Times foi severamente batido no rosto por um<br />
violão que andava no ar, a sobrancelha ficou ferida e em diversas ocasiões, quando<br />
se acendia a luz, os instrumentos caíam por toda a sala. Se Houdini não entendeu<br />
esse último depoimento, não é de supor que esteja tão bem informado quanto aos<br />
primeiros.<br />
Objetamme — e tenho recebido essa objeção tanto de Espíritas quanto de<br />
cépticos, que todo esse amontoado de exibições é indigno e sem valor. Muitos de<br />
nós assim pensam e muitos outros fazem eco às seguintes palavras de Mr. B.<br />
Randall: “A falha não é dos imortais, mas nossa. Porque, conforme o pedido, assim<br />
é a entrega. Se não podemos ser alcançados de um modo, devemos e somos<br />
alcançados de outro. E a sabedoria do mundo eterno dá aos cegos aquilo que eles<br />
podem suportar e não mais. Se somos crianças intelectuais devemos alimentarnos<br />
com sopinhas mentais, até que a nossa capacidade digestiva suporte e exija<br />
alimentação mais forte. E, se o povo pode ser melhor convencido da imortalidade<br />
por processos grosseiros, os fins justificam os meios. A visão do braço de um<br />
espectro num auditório de três mil pessoas falará a mais corações, causará mais<br />
profunda impressão e converterá mais gente à crença no postmortem, em dez<br />
minutos, do que todo um regimento de pregadores, por mais eloquentes que sejam,<br />
em cinco anos.”<br />
51 “Um Mago entre os Espíritos. — N. do T.