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A HISTÓRIA DO ESPIRITISMO Conan Doyle

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314 – Arthur <strong>Conan</strong> <strong>Doyle</strong><br />

gente pode perquirir as catacumbas dos primeiros séculos e nos milhares de<br />

dispositivos nada se encontra de um sacrifício cruento nem de um nascimento de<br />

virgem. Encontrar­se­á o Bom Pastor, a âncora da esperança, a palma do martírio, e<br />

o peixe que era o anagrama do nome de Jesus 224 .<br />

Tudo indica uma religião simples. O Cristianismo era melhor quando se<br />

achava nas mãos dos humildes. Foram os ricos, os poderosos, os instruídos que o<br />

degradaram, que o complicaram, que o arruinaram.<br />

Não é possível, entretanto, tirar nenhuma inferência psíquica das inscrições<br />

e desenhos das Catacumbas. Para isto devemos voltar aos Pais pré­nicenos, onde<br />

encontramos tantas referências que seria fácil compilar um pequeno livro que não<br />

contivesse mais que isso. Temos, porém, que afinar os nossos pensamentos e as<br />

nossas palavras pelas suas, a fim de lhes aprendermos a inteira significação.<br />

Profecia, por exemplo, chamamos mediunidade, e um Anjo se transforma num<br />

Espírito elevado ou Guia. Tomemos a esmo alguns exemplos.<br />

Na sua “De cura pro Mortuis”, diz Santo Agostinho: “Os Espíritos dos<br />

mortos podem ser mandados aos vivos, aos quais podem desvendar o futuro, que<br />

ficaram conhecendo por outros Espíritos ou pelos Anjos” (isto é, pelos guias<br />

espirituais) “ou pela revelação divina”.<br />

Isto é puro Espiritismo, exatamente como o conhecemos e definimos.<br />

Agostinho não teria falado nisso com tanta segurança nem com tanta justeza de<br />

definições se não tivesse tido o seu conhecimento familiar. Não há o menor indício<br />

de que isso fosse ilícito.<br />

Ele volta ao assunto na sua “A Cidade de Deus”, onde se refere a práticas<br />

que permitem que o corpo etéreo de uma pessoa se comunique com os Espíritos e<br />

com os guias mais elevados e tenha visões. Aliás, essas pessoas eram médiuns —<br />

nome que apenas significa intermediário entre organismos encarnados e<br />

desencarnados.<br />

São Clemente de Alexandria faz semelhantes alusões, como também São<br />

Jerônimo, em sua controvérsia com o gaulês Vigilantius 225 . Este, porém, aparece em<br />

data posterior ao Concílio de Nicéia.<br />

Hermas, figura mais ou menos apagada, que se diz ter sido amigo de São<br />

Paulo e discípulo direto dos apóstolos, é tido como o autor do livro “O Pastor”. Seja<br />

ou não apócrifo a autoria, o que é certo é que o livro foi escrito por alguém dos<br />

primeiros séculos do Cristianismo e, assim, representa as ideias predominantes. Diz<br />

ele: “O Espírito não responde a todas as perguntas nem a qualquer pessoa<br />

particular, porque o Espírito que vem de Deus não fala ao homem quando este quer,<br />

mas quando Deus o permite. Assim, quando um homem que tem um Espírito de<br />

Deus” (isto é, um controle) “vem a uma assembléia de fiéis e quando foi feita uma<br />

prece, o Espírito enche esse homem, que fala como Deus quer”.<br />

224 Peixe em grego é ICHTHOS. Sabendo que o CH e o TH eram sinais simples, temos um anagrama:<br />

IESUS — CRISTOS — THEOU — UIOS — SOTEROS, que quer dizer: “J esus Cristo, filho de Deus,<br />

Salvador” — N. do T.<br />

225 Vigilantius foi o fundador de uma seita que proscrevia as relíquias, bem como a vida monástica, o<br />

celibato dos sacerdotes. É do século 4 e representa a primeira reação do espírito gaulês, contra os abusos<br />

da Igreja Romana — N. do T.

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