A HISTÓRIA DO ESPIRITISMO Conan Doyle
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64 – Arthur <strong>Conan</strong> <strong>Doyle</strong><br />
bandidos que pretendiam linchar as moças poderia fazêlo, mas depois de passar<br />
sobre o seu cadáver”. Houve um grande tumulto, as meninas foram salvas pelas<br />
portas do fundo e a razão e justiça foram abafadas pela força e pela loucura. Então,<br />
como agora, a mente das criaturas estava tão atufada de coisas sem importância que<br />
não havia lugar para as coisas importantes. Mas a Sorte nunca tem pressa e o<br />
movimento continuou.<br />
Muitos aceitaram as conclusões das sucessivas comissões como boas e, na<br />
verdade, é difícil ver como os fatos apontados poderiam ter sido mais severamente<br />
verificados. Ao mesmo tempo, esse vinho novo, forte e fermentado começou a se<br />
derramar dos velhos odres onde havia sido posto, para excusável desgôsto do<br />
público.<br />
Muitos centros discretos, sérios e religiosos estiveram durante algum tempo<br />
quase eclipsados por alguns energúmenos que se supunham em contacto com todas<br />
as excelsas entidades, dos Apóstolos para baixo, alguns até pretendendo receber o<br />
sopro direto do Espírito Santo e emitindo mensagens que apenas deixavam de ser<br />
blasfemas por serem estúpidas e absurdas. Uma comunidade desses fanáticos, que se<br />
denominava “Círculo Apostólico da Gruta da Montanha” tornouse notável por seu<br />
extremismo e pelo enorme material que fornecia aos inimigos da nova dispensação.<br />
A grande massa dos espíritas desaprovava esses exageros, mas era incapaz de os<br />
coibir. Muitos fenômenos supranormais bem constatados vieram confortar o<br />
desânimo dos que se deixavam vencer pelos excessos dos fanáticos. Numa ocasião,<br />
o que é muito convincente e vem a propósito, dois grupos de investigadores, em<br />
salas separadas, em Rochester, a 20 de fevereiro de 1850, receberam a mesma<br />
mensagem simultaneamente de uma certa força central que se dizia Benjamin<br />
Franklin. Essa dupla mensagem estava assim concebida: “Haverá grandes<br />
mudanças no século dezenove. Coisas que, atualmente parecem obscuras e<br />
misteriosas para vocês, tornarseão claras aos seus olhos. Os mistérios vão ser<br />
revelados. O mundo será esclarecido”. Devemos admitir que até agora só<br />
parcialmente foi realizada e, ao mesmo tempo, devemos concordar que, salvo<br />
notáveis exceções, as predições feitas pelos Espíritos não se fizeram notar por sua<br />
exatidão, especialmente no que concerne ao fator tempo.<br />
Muitas vezes levantouse a questão: “Qual o objetivo de tão estranho<br />
movimento naquela época especial, admitindo que ele seja tudo aquilo que pretende<br />
ser?” O Governador Tallmadge, ilustre Senador dos Estados Unidos, foi um dos<br />
primeiros adeptos do novo culto, deixou notas de que fez aquela pergunta em duas<br />
ocasiões diferentes, em dois anos diversos e através de médiuns diversos. Em ambos<br />
os casos a resposta foi idêntica. A primeira dizia: “É para conduzir a humanidade<br />
em harmonia e para convencer os cépticos da imortalidade da alma”. A segunda<br />
dizia: “É para unir a humanidade e convencer as mentes cépticas da imortalidade<br />
da alma”. Certamente não é esta uma ambição ignóbil e não justifica aqueles<br />
ataques mesquinhos e violentos de ministros e dos menos avançados de seu rebanho,<br />
que os espíritas têm suportado até os nossos dias. A primeira metade da definição é<br />
particularmente importante, porque é possível que os resultados finais deste<br />
movimento sejam unir a religião numa base comum tão forte e, na verdade, tão<br />
autosuficiente, que as rusgas que hoje separam as Igrejas sejam vistas em suas<br />
verdadeiras proporções e, então, serão varridas ou superadas. Poderseia mesmo