A HISTÓRIA DO ESPIRITISMO Conan Doyle
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45 – <strong>HISTÓRIA</strong> <strong>DO</strong> <strong>ESPIRITISMO</strong><br />
princípio o dom era usado como uma espécie de divertimento, na leitura de cartas e<br />
relógios de uma assistência rústica, tendo o sensitivo os olhos vendados. Neste caso,<br />
qualquer parte do corpo pode exercer a função de ver. A razão disso talvez seja que<br />
o corpo etérico ou espiritual, que possui os mesmos órgãos que o físico, esteja total<br />
ou parcialmente desprendido e registre a impressão. Desde que pode tomar tal<br />
atitude, ou andar à volta, pode ver de qualquer ponto. É uma explicação para casos<br />
como o que o autor encontrou no Norte da Inglaterra, onde Tom Tyrrell, o famoso<br />
médium, costumava andar à volta da sala, olhando os quadros, de costas para as<br />
paredes onde os mesmos estavam pendurados. Se em tais casos os olhos etéreos<br />
vêem os quadros, ou se vêem uma réplica etérea dos mesmos, temos um dos muitos<br />
problemas que deixamos à posteridade.<br />
Livingstone, a princípio, usou Davis para diagnósticos médicos. Descrevia<br />
como o corpo humano se tornava transparente aos seus olhos espirituais, que<br />
pareciam funcionar do centro de sua testa. Cada órgão aparecia claramente e com<br />
uma radiação especial e peculiar, que se obscurecia em caso de doença. Para a<br />
mentalidade médica ortodoxa, com a qual muito simpatiza o autor, tais poderes são<br />
passíveis de abrir uma porta para o charlatanismo e ainda o inclina a admitir que<br />
tudo quanto foi dito por Davis tivesse sido corroborado pela própria experiência de<br />
Mr. Bloomfield, de Melbourne, que descreveu ao autor a admiração de que ficou<br />
possuído, quando sua força se manifestou subitamente, na rua, lhe mostrando<br />
detalhes anatômicos de duas pessoas que andavam à sua frente. Tão bem verificados<br />
têm sido tais poderes, que não é raro veremse médicos tomar clarividentes ao seu<br />
serviço, como auxiliares para o diagnóstico. Diz Hipócrates: “A alma vê de olhos<br />
fechados as afecções sofridas pelo corpo”. Assim, ao que parece, os antigos sabiam<br />
algo a respeito de tais métodos. As observações de Davis não se circunscreviam aos<br />
que se achavam em sua presença: sua alma ou corpo etérico podia libertarse pela<br />
ação magnética de seu empresário e ser mandada como um pombo correio, na<br />
certeza de que regressaria com a informação desejada. Além da missão humanitária<br />
em que geralmente se empenhava, às vezes vagava livremente; então descrevia, em<br />
magníficas passagens, como via a Terra translúcida, abaixo dele, com os grandes<br />
veios de depósitos minerais, como que brilhando através de massas de metal<br />
fundido, cada qual com a sua radiação peculiar.<br />
É notável que nessa fase inicial da experiência psíquica de Davis não<br />
tivesse ele a recordação daquilo que tinha visto em transe. Contudo, essa recordação<br />
era registrada no seu subconsciente e, posteriormente, a recuperava com clareza.<br />
Com o tempo tornouse uma fonte de informações para os outros, posto que ficasse<br />
ignorante para si próprio.<br />
Até então o seu desenvolvimento se havia processado de maneira não<br />
incomum e que podia ser comparado com a experiência de qualquer estudioso de<br />
psiquismo. Foi quando ocorreu um episódio inteiramente novo e que é<br />
minuciosamente descrito na sua autobiografia. Em resumo, os fatos foram os<br />
seguintes. Na tarde de 6 de março de 1844, Davis foi subitamente tomado por uma<br />
força que o fez voar da pequena cidade de Poughkeepsie, onde vivia, e fazer uma<br />
pequena viagem no estado de semitranse. Quando voltou à consciência, encontravase<br />
entre montanhas agrestes e aí, diz ele, encontrou dois anciãos, com os quais<br />
entrou em íntima e elevada comunhão, uma sobre medicina e outra sobre moral.