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<strong>Viagem</strong> <strong>ao</strong> <strong>Brasil</strong> 137<br />

gueiro; desde a velha ressequida que se gabava ela mesma de ter cem anos,<br />

mas não mostrava com menor orgulho o seu fino trabalho de renda e corria<br />

como uma menina, para que se visse como era ainda ativa, até os pequerruchos<br />

todos nus que engatinhavam a seus pés. Esta velhinha recebera a sua liberdade<br />

havia muito tempo, mas por dedicação à família dos seus antigos senhores<br />

nunca quis deixá-la. São fatos que dão à escravidão no <strong>Brasil</strong> um aspecto<br />

consolador e permitem esperar muita coisa. A emancipação geral é aqui<br />

considerada como um tema de discussão, a regular por lei para ser adotado.<br />

Fazer presente a um escravo da sua liberdade nada tem de extr<strong>ao</strong>rdinário.<br />

À noite, quando depois do jantar tomávamos o café na varanda,<br />

uma orquestra composta de escravos pertencentes à fazenda nos proporcionou<br />

boa música. A paixão dos negros por essa arte é um fato observado<br />

em toda parte; esforçam-se muito para aprendê-la, aqui, e o Sr. Breves mantém<br />

em sua casa um professor a quem os alunos fazem honra, na verdade.<br />

No fim da noite, os músicos foram introduzidos nas salas e tivemos um<br />

espetáculo de dança, dado por negrinhos que eram dos mais cômicos. Como<br />

uns diabretes, dançavam com tal rapidez de movimentos, com tal animação<br />

de vida e alegria espontânea que era impossível não os acompanhar.<br />

Enquanto durou o baile, portas e janelas se achavam obstruídas por um<br />

enxame de gente preta, no meio da qual se destacavam aqui e ali uns rostos<br />

quase brancos, pois que aqui, como em toda parte, a escravidão traz consigo<br />

suas fatais e deploráveis conseqüências, e escravos claros não constituem<br />

raridade muito extr<strong>ao</strong>rdinária.<br />

Foi o último dia da nossa visita. Partimos na manhã seguinte,<br />

não mais a cavalo, mas numa dessas embarcações rasas que transportam<br />

café: o que nos pareceu preferível a uma longa cavalgada em pleno sol.<br />

Fomos acompanhados <strong>ao</strong> embarcadoiro por nossos amáveis hospedeiros e<br />

seguidos por uma quantidade de negros, uns carregando a nossa bagagem e<br />

outros só pelo prazer de nos fazer aquele acompanhamento; entre estes estava<br />

a boa velhinha centenária que nos desejou feliz viagem com mais efusão<br />

e carinho que qualquer outro. Largamos afinal, e descemos alegremente o<br />

rio; os sacos de café nos serviam de bancos e almofadas e os nossos guardasóis<br />

abertos nos faziam as vezes de toldo, protegendo-nos sofrivelmente do<br />

sol. À viagem não faltaram mesmo algumas emoções, que o rio, entrecortado<br />

de pedras em muitos pontos, forma rápidos violentos, em cuja passagem os<br />

barqueiros desenvolvem grande habilidade.

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