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<strong>Viagem</strong> <strong>ao</strong> <strong>Brasil</strong> 403<br />

pela água doce e as invasões do oceano, em virtude das quais o vale do Amazonas<br />

e seu sistema fluvial se formaram, não constituem fenômenos isolados,<br />

mas sim um processo, por assim dizer, empregado tanto na parte norte como<br />

na parte sul da América. A extr<strong>ao</strong>rdinária continuidade e a uniformidade dos<br />

depósitos amazônicos são devidas às dimensões enormes da bacia que os contêm<br />

e à identidade dos materiais que essa bacia continha.<br />

“Uma simples vista d’olhos sobre qualquer carta geológica do<br />

globo fará ver <strong>ao</strong> leitor que o vale do Amazonas, sempre que se pretendeu<br />

explicar-lhe a estrutura, é representado como contendo faixas isoladas de terreno<br />

devoniano, triássico, jurássico, cretáceo, terciário e de aluvião. Já aludi a<br />

essas representações gráficas; são outros tantos erros. O quer que se pense da<br />

minha interpretação dos fenômenos atuais, creio que, representando pela primeira<br />

vez as formações do Amazonas em sua conexão e sucessão naturais,<br />

deixando estabelecido que elas constam de três camadas superpostas uniformes<br />

de depósitos relativamente recentes, que se estendem por todo o vale, os<br />

trabalhos cujo resumo acabo de fazer terão contribuído para as aquisições da<br />

geologia moderna.” 176<br />

176 Humberto Rangel, o autor de Inferno Verde, escreveu as seguintes linhas sobre a Amazônia<br />

vista por Agassiz:<br />

“É, na verdade, um dos poucos espetáculos que ainda restam no mundo, dando-nos a<br />

revivescência dos antigos dramas da formação diluvial da Terra. Agassiz contou-nos a sua<br />

história problemática e das mais pujantes – uma criação de Hesíodo com tinturas geognósticas<br />

de Élie de Beaumont. O canal que cindira o bloco sul-americano fechara-se, nas bocas,<br />

formando bolsa enorme, de que se fora escapando o líquido na barragem este, carcomido por<br />

fim o arenito da serra de Parintins, para o despejo de hoje, no delta falso dos campos<br />

marajoaras. O suíço-americano, pensativo entre os blocos de grés amarelado da serra do<br />

Ererê, leu estrias de geleiras nessa terra de fogo e constituiu as hipóteses glaciárias com a<br />

precipitação entrecortada de pasmo, que hoje as sacrifica um pouco. Mas, no limiar desta<br />

exposição (curso sobre Aspectos gerais do <strong>Brasil</strong>) seja-nos lícito levantar à sua memória honrada<br />

o sincero preito que merece o amigo do <strong>Brasil</strong> cujo desinteresse e cultura continuaram a<br />

acentuar para a nossa terra a era fecunda das investigações do cientificismo sem charlatanismo<br />

e sem ódios.” (Rumos e Perspectivas, página 148, 1 a edição).<br />

Já Euclides da Cunha o dissera: “Realmente, a Amazônia é a última página, ainda a escreverse,<br />

do Gênese”. E, referindo-se às hipóteses geológicas de Agassiz: “Há uma hipertrofia da<br />

imaginação no ajustar-se <strong>ao</strong> desconforme da Terra, desequilibrando-se a mais sólida mentalidade<br />

que balanceie a grandeza. Daí, no próprio terreno das indagações objetivas, as visões de<br />

Humboldt e a série de conjecturas em que se retratavam, ou contrastam, todos os conceitos,<br />

desde a dinâmica de terremotos de Russell Wallace <strong>ao</strong> bíblico formidável das geleiras prédiluvianas<br />

de Agassiz.” (À margem da História, pág. 9, ed. 1926). (Nota do tr.)

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