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<strong>Viagem</strong> <strong>ao</strong> <strong>Brasil</strong> 393<br />

com o drift do Rio de Janeiro, 174 cuja origem glaciária não pode, na minha<br />

opinião, ser posta em dúvida; e finalmente sobre o fato de que aquela bacia<br />

de água doce deve ter sido fechada do lado do oceano por uma poderosa<br />

barreira, cuja destruição deu escoamento às águas e causou incríveis<br />

desnudações cujas provas se encontram em cada ponto do vale.<br />

“Numa escala mais reduzida, fenômenos dessa ordem nos são<br />

desde há muito familiares. Nos lagos atuais da Itália setentrional, da Suíça, da<br />

Noruega, da Suécia, assim como nos dos Estados Unidos, especialmente no<br />

Maine, as águas se encontram ainda retidas em suas bacias pelas morenas.<br />

“No período glaciário essas depressões eram ocupadas pelos<br />

gelos que, com o tempo, acumularam em seu limite inferior uma muralha<br />

de material de transporte. Tais muralhas ainda hoje existem e servem de<br />

dique <strong>ao</strong> escoamento das águas. Sem as morenas, todos esses lagos seriam<br />

vales descobertos. Temos, nos terraplenos da Escócia, o exemplo de um<br />

lago de água doce hoje completamente desaparecido – que se havia formado<br />

da maneira acima tratada e que se foi reduzindo sucessivamente a um<br />

nível cada vez mais baixo, pela ruptura ou arrastamento das morenas que,<br />

no começo, impediam que as águas escoassem. Admitamos que, devido à<br />

baixa temperatura do período glaciário, as condições de clima, necessárias à<br />

formação dum mar de gelo, existissem no vale do Amazonas e que esse vale<br />

fosse, efetivamente, coberto por uma imensa geleira. Seguiu-se daí que esse<br />

174 Como declarei desde o princípio, estou convencido de que o depósito argiloso do Rio de<br />

Janeiro e seus arredores é o verdadeiro drift glaciário resultante da trituração dos materiais de<br />

transporte interpostos às geleiras e à rocha sólida local e que conservou até os nossos dias a<br />

posição em que foi deixada pelos gelos. Como todas as acumulações desse gênero, apresentase<br />

ele completamente desprovido de estratificações. Isto posto, resulta claramente da comparação<br />

das duas formações que a argila arenosa ocrácea do vale amazônico foi depositada em<br />

circunstâncias diferentes. A semelhança dessa argila com o drift do Rio de Janeiro provém de<br />

que esses materiais foram originariamente triturados pelas geleiras na parte superior do vale;<br />

mais tarde, porém, foram espalhadas em toda a superfície da bacia e precipitadas pela ação das<br />

águas. Um exame das províncias mais meridionais do <strong>Brasil</strong>, levado até a zona temperada,<br />

onde os efeitos combinados do sol tórrido e das chuvas tropicais não mais se fazem sentir,<br />

afastará, segundo espero, todas as dificuldades que ainda apresentam as minhas explicações.<br />

O fenômeno glaciário, com todas as suas particularidades caraterísticas, se produziu, é fato já<br />

provado, nas porções mais meridionais da América do Sul. A zona intermediária, compreendida<br />

entre 22º e 36º de latitude sul, não deixará de apresentar a transição entre o drift da zona<br />

glacial ou da zona temperada e as formações análogas, acima descritas, da zona tórrida. O<br />

conhecimento de tais depósitos resolverá definitivamente a questão. Decidirá se as minhas<br />

generalizações estão de acordo com os fatos ou se não passam de absurdas. Não temo o<br />

resultado. Meu único desejo é que todas as dúvidas prontamente se resolvam.

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