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412 Luís Agassiz e Elizabeth Cary Agassiz<br />

tes, naquela noite sombria e chuvosa. Era um homem gordo e já velho, de<br />

cabeça redonda como uma bola, coberta de cabelos brancos e crespos,<br />

tendo cara de bom humor embora um tanto avermelhada pela bebida.<br />

Vestia uma calça de algodão, com a camisa solta por cima, os pés inteiramente<br />

nus dentro de tamancos de pau, sem guardas, cujo clique-claque se<br />

ouve em todas as cidades em tempo de chuva. Abriu a parte superior da<br />

porta e nos introduziu numa pequena sala mobiliada com um sofá, uma<br />

rede e três ou quatro cadeiras. Nas paredes de taipa se mostravam algumas<br />

grosseiras estampas de que o velho parecia estar muito orgulhoso. Dissenos<br />

que teria todo o prazer de nos receber se nos contentássemos com as<br />

instalações que nos podia oferecer: esta própria sala, para os homens e ele,<br />

e o quarto em que dormia a sua mulher e filhos para a “senhora”. Confesso<br />

que a perspetiva pouco me agradou, estava disposta a tudo e sabia as<br />

atribulações a que se expõe quem viaja pelo interior. Portanto, quando a<br />

dona da casa apareceu e ofereceu-me cordialmente um canto de seu quarto,<br />

agradeci-lhe da melhor forma possível. Era muito mais moça que o<br />

seu marido e ainda bastante bela, duma espécie de beleza oriental que<br />

bem condizia com a sua vestimenta. Trazia um penhoar de musselina<br />

vermelha que um longo uso não embelezara, mas cujas cores ainda tinham<br />

vida, e os seus longos cabelos negros caíam soltos pelos ombros. Ao<br />

cabo de uma hora e tanto, anunciou-se a ceia. Havíamos trazido para ela<br />

quase que toda a cidade, e, para ficarmos de acordo com os costumes da<br />

terra, convidamos toda a família para nela tomar parte conosco. O velho<br />

vendeiro completara a sua toalete vestindo uma espécie de manto de índio<br />

com grandes ramagens; assentou-se à mesa lançando sobre os frangos<br />

assados e o vinho Bordeaux um olhar de não pequena satisfação. A julgar<br />

pela aparência, deviam ser coisa rara naquela casa. O chão de terra da<br />

cozinha, em que foi servida a ceia, estava molhado; o teto deixava escorrer<br />

água como uma espumadeira e as paredes rachadas eram apenas iluminadas<br />

pela luz esfumaçada de uma grosseira candeia de içar, de óleo tirado da<br />

cera da palmeira carnaúba. Ouvi de repente um grunhido abafado <strong>ao</strong> pé<br />

de mim, olhei para o chão e distingui no escuro um porco preto que<br />

comia familiarmente numa mesa vizinha junto com as crianças. Um gato<br />

e um cachorro completavam o número dos convivas.<br />

Acabada a ceia, pedi para me levarem <strong>ao</strong> quarto de dormir,<br />

preferindo tomar a dianteira dos meus companheiros da noite; era uma

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